Boni revela demissão de narrador da Globo após Copa do Mundo: “Insubordinação”
O empresário, um dos mais importantes da TV brasileira, relatou um desentendimento com nomes como Walter Clark e João Saldanha
Lendário ex-diretor da Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, recordou ter sido obrigado a desligar um dos grandes narradores de todos os tempos da mídia esportiva do país.
Em seu recém-lançado livro de memórias O Lado B de Boni (Best-Seller), o empresário e publicitário relatou um desentendimento com Geraldo José de Almeida.
Pai do narrador Luiz Alfredo, o histórico comunicador foi um dos pioneiros na televisão brasileira, sendo o locutor esportivo titular da Globo nas primeiras Copas do Mundo que o canal transmitiu, em 1970 e 1974.
Porém, no Mundial da Alemanha de 1974, Geraldo José de Almeida teria desobedecido Boni. O diretor global exigiu ao narrador, que tinha como comentarista João Saldanha, uma transmissão imparcial e neutra, sem defender nem criticar à seleção brasileira que terminaria a competição em quarto lugar.
Entretanto, tanto Geraldo quanto Saldanha ignoraram as instruções de Boni e adotaram um tom patriota e ufanista na cobertura da Vênus Platinada.
Desse modo, a dupla creditou à arbitragem as derrotas para Holanda e Polônia nas últimas partidas do Brasil na Copa do Mundo de 1974. “Isso não se via nas imagens”, observou Boni.
O empresário recordou ter pedido a Armando Nogueira, diretor de jornalismo do canal, para passar suas ordens para Geraldo José de Almeida e João Saldanha, com o jornalista afirmando ter obedecido. Porém, o narrador alegou não ter recebido as instruções.
Walter Clark foi o responsável pela desobediência a Boni
O ruído na comunicação teria sido causado pelo histórico parceiro de Boni no comando da Globo. “Fiquei sabendo que o Walter Clark estava na cabine [de transmissão do jogo] e dizia claramente a eles para prosseguir como quisessem e ignorar ordens vindas do Brasil”, narrou o publicitário em seu livro de memórias.
Boni tomou a decisão de desligar Geraldo José de Almeida e João Saldanha da emissora depois da Copa de 1974.
“Demitir é uma das piores coisas da nossa área. Você colocar na rua quem tem talento e é uma figura popular é uma decisão muito amarga”, lamentou, complementando que Geraldo, que morreria em 1976, era um amigo seu de anos.
“No entanto, aceitar uma insubordinação dessa natureza poderia comprometer minha liderança e até desestabilizar a empresa”, justificou Boni.
Por fim, o ex-diretor do Globo fez um mea-culpa, atribuindo uma parcela da atitude drástica à vontade de renovar a equipe esportiva do canal com nomes como Luciano do Valle e Ciro José.
“Hoje talvez eu não fosse tão radical. Poderia ter apenas aplicado uma suspensão neles”, reconheceu Boni, que anos depois quase demitiu Galvão Bueno por um erro cometido na Fórmula 1.
