Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca as escolhas de Dorival Júnior nos jogos contra Costa Rica, Paraguai e Colômbia
É verdade que a seleção brasileira está devendo uma boa atuação nessa Copa América. A goleada sobre o Paraguai acabou escondendo os erros que ficaram evidentes nos empates contra Costa Rica e Colômbia. Mesmo assim, as apresentações abaixo do esperado não surpreendem este que escreve.
Isso porque o escrete canarinho iniciou o ciclo até a próxima Copa do Mundo com dois anos de atraso. É mais do que natural que Dorival Júnior encontre certa dificuldade para montar uma equipe competitiva. E esse ponto talvez seja aquele que melhor explica (e justifica) a linha da “tentativa e erro” adotada pela comissão técnica nessa Copa América. A seleção brasileira saiu atrás e está tentando recuperar o tempo perdido.
É óbvio que algumas das escolhas de Dorival Júnior podem sim ser questionadas. No entanto, detectar os pontos positivos e negativos de cada partida da seleção brasileira é fundamental para encontrar as soluções rápidas tão desejadas por todos nós. Mesmo que seja na base do “chutômetro”.
Colômbia escancara a falta de consistência da seleção brasileira
A partida contra a Colômbia talvez tenha sido aquela em que os problemas da seleção brasileira tenham sido mais expostos. Ainda falta consistência na defesa e um melhor entendimento da cobertura dos espaços no nosso campo. O gol de Muñoz (em jogada que se inicia perto da linha do meio-campo) é um bom exemplo. Dorival Júnior viu Rodrygo, Lucas Paquetá e Wendell deixarem o lateral cafetero atacar a área brasileira sem ser incomodado.
É de se compreender que Dorival Júnior tenha repetido a formação das últimas partidas na busca por um entrosamento maior. No entanto, a partida contra a Colômbia escancarava a necessidade de se povoar mais o meio-campo. Não foram poucas as vezes em que nossos volantes ficaram em desvantagem contra Jhon Arias, Richard Ríos e Jefferson Lerma. Talvez o simples recuo de Lucas Paquetá (ou Andreas Pereira) fosse suficiente para minimizar o problema.
Esse distanciamento entre os jogadores ajuda a explicar a baixa eficiência ofensiva da seleção brasileira. Por mais que Dorival Júnior tenha apostado em Endrick e Savinho no segundo tempo, faltava mais aproximação entre os setores. Isso também explica a falta de mobilidade do ataque e o isolamento de Vinícius Júnior no comando de ataque. Só se vence a forte uma forte marcação (como a da Colômbia) com associações. E elas não aconteceram.
Não é de se estranhar que Dorival Júnior, diante de todo o contexto, venha seguindo a filosofia da “tentativa e erro” nessa Copa América por conta do contexto geral. Falta tempo e a necessidade de entregar desempenho é imediata. Por outro lado, cada jogo tem sua história e tem suas lições. E o treinador da seleção brasileira pode se apoiar nelas para sair um pouco da linha da “tentativa e erro” e encontrar soluções mais eficientes.
Atuações contra Costa Rica e Paraguai deixam o “mapa da mina” para o Brasil
Quem lê o espaço aqui no TORCEDORES pode até estar se perguntando como um empate sem gols diante da “poderosa” Costa Rica pode ter deixado algum ponto positivo. Pois bem, ele deixou. E nesse caso especificamente, não estamos falando de gols, mas da construção das jogadas que podem resultar neles.
Mesmo jogando abaixo do que pode (e do que já jogou) a seleção brasileira esteve melhor posicionada no campo ofensivo. Fez associações com Lucas Paquetá ocupando a entrelinha, Vinícius Júnior e Rodrygo trocando de posição e Raphinha arrastando a marcação pelo lado direito. Mais atrás, Danilo se juntava a João Gomes e Bruno Guimarães como “lateral-construtor”. Apenas Guilherme Arana parecia deslocado, mas não se escondeu do jogo.
Dorival Júnior fez ajustes pontuais na seleção brasileira e viu o time crescer com as entradas de Savinho e Wendell. Com o lateral do Porto aparecendo por dentro e Vinícius Júnior jogando onde se sente mais confortável, o escrete canarinho conseguiu construir a goleada e a boa atuação coletiva. Paquetá permaneceu um pouco mais recuado e distribuiu bons passes ao lado de Bruno Guimarães. As associações saíram e o Brasil venceu sem problemas.
É óbvio que o time ainda apresentou alguns dos problemas que veríamos depois contra a Colômbia. No entanto, o resultado acabou mascarando um pouco a necessidade de mais ajustes, principalmente no setor defensivo e na saída de bola. Apesar disso, essas duas atuações deixaram uma espécie de “mapa da mina” para a seleção brasileira e indicaram um caminho interessante para Dorival Júnior seguir. Mesmo diante de adversários mais fortes.
A hora e a vez de Dorival Júnior contra o Uruguai de Marcelo Bielsa
A partida contra o Uruguai talvez seja o primeiro grande desafio de Dorival Júnior à frente da seleção brasileira. Dependendo de como as coisas se desenhem neste sábado (6), é possível afirmar que boa parte da imprensa vai ignorar o contexto complicado em que o treinador se encontra e carregar mais nas críticas. É preciso lembrar que o Brasil ainda não tem um time pronto como outras seleções do continente. Estamos uns dois anos atrasados nesse processo.
Tudo isso ajuda a entender a adoção da “tentativa e erro” na equipe brasileira. Este que escreve não está afirmando que Dorival Júnior não sabe o que está fazendo. Ele já provou seu valor mais de uma vez e tem condições de fazê-lo no comando do escrete canarinho. O ponto aqui é o contexto.
Na prática, Dorival Júnior vem fazendo o que pode para encontrar um grupo forte e coeso e conquistar os resultados que o torcedor tanto almeja. A “tentativa e erro” faz parte de um processo que deveria ter se iniciado depois da saída de Tite no final de 2022. Correr atrás do prejuízo depois de dois anos é praticamente impossível. Acaba que o jogo contra o Uruguai pode significar o céu ou o inferno para a seleção brasileira. A conferir.