Menos arrogância e mais futebol: as lições que a Copa América deixa para a seleção brasileira
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a campanha do Brasil na competição continental e as escolhas feitas por Dorival Júnior
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a campanha do Brasil na competição continental e as escolhas feitas por Dorival Júnior
É possível analisar o momento da Seleção Brasileira e a campanha ruim da equipe de Dorival Júnior na Copa América de várias maneiras. Este que escreve prefere deixar a histeria e o clima de “terra arrasada” de lado e focar no que realmente importa: futebol bem jogado. Esse foi o problema lá nos Estados Unidos.
Mais do que isso. Faltou a compreensão do contexto no qual o escrete canarinho se encontra. Pode ser que Vinícius Júnior, Rodrygo, Lucas Paquetá e companhia tenham pensado que bastava vestir a amarelinha para que “a mágica acontecesse”. Eles e mais alguns colegas de imprensa. A compreensão desse cenário de quase dois anos de atraso com relação às demais equipes pode ter sido o grande problema desse início (tardio) de ciclo.
Difícil não notar em cada jogador o desejo de “resolver sozinho” e em Dorival Júnior a falta de ousadia que poderia ter levado a seleção brasileira mais longe. Só que nosso grande problema não é falta de jogadores. É a falta de planejamento e a insistência em fazer as coisas de maneira atropelada.
Da Costa Rica ao Uruguai, uma sucessão de erros da seleção brasileira
Este que escreve apontou numa outra análise que Dorival Júnior poderia tirar coisas boas das partidas contra Costa Rica e Paraguai. No entanto, a atuação da seleção brasileira contra a Colômbia deixou evidente que faltava a unidade e a coesão que sobravam no time de Jhon Arias, Richard Ríos e James Rodríguez.
Atendendo à pressão popular, Dorival Júnior apostou na simples entrada de Endrick no lugar de Vinícius Júnior (suspenso). Com o Uruguai de Marcelo Bielsa subindo as linhas e forçando o erro na saída de bola, a seleção brasileira foi perdendo consistência aos poucos. Nández, De la Cruz, Valverde e Pellistri aproveitavam bem todos os problemas defensivos e criando chances de gol. João Gomes e Bruno Guimarães pareciam perdidos no meio-campo.
Na prática, a seleção brasileira parecia pesada, sem brilho e completamente dependente de um brilho individual que não veio nessa Copa América. E sem intensidade, sem concentração e sem um plano de jogo mais elaborado do que simplesmente jogar a bola para o ataque (e Endrick que se exploda lá na frente), os erros foram ficando mais e mais evidentes. Difícil não observar a arrogância vista nas coletivas em cada passe e em cada chute a gol.
Ficou mais do que claro que falta uma unidade, um planejamento mais claro e também referências. É natural que estes jogadores tenham em Neymar o seu modelo de jogador a ser seguido (independente do que isso implica). A maioria deles era adolescente quando ele ganhou sua primeira e única Champions. Por outro lado, não dá pra seleção brasileira ficar esperando seu retorno enquanto o tempo passa. É preciso encontrar soluções.
Jogadores como Danilo, Lucas Paquetá, Vinícius Júnior e até mesmo Rodrygo poderiam ter sido essa referência dentro de campo durante a Copa América. E a impressão que fica é a de que todos parecem ter se conformado com o resultado ruim. E isso fica claro no discurso de alguns jogadores. Ao mesmo tempo, Dorival Júnior poderia ter tentado algo além de “trocar seis por meia dúzia”. Principalmente quando Nández foi expulso no segundo tempo.
Na prática, a seleção brasileira acabou vítima da própria arrogância. Seja com os jogadores nas entrevistas coletivas ou com Dorival Júnior tentando reviver o “vocês vão ter que me engolir” de Zagallo em 1997. Além disso, a falta de conexão com a realidade que nos mostra boas seleções como Colômbia, Equador e Uruguai também foi outro problema grave. É como se bastasse entrar em campo para que as coisas se resolvessem. Faltou cabeça e faltou futebol.
Mas vamos com calma que nem tudo está perdido na seleção brasileira
Este que escreve começou esta humilde análise afirmando que não se deixaria tomar pela histeria de parte da imprensa. A seleção brasileira fez uma Copa América muito ruim, mas isso não quer dizer que a geração que aí está é ruim ou que não produzimos mais grandes jogadores. A falácia da terra arrasada sempre aparece em momentos como esse. Quem viu a derrota para Honduras em 2001 ou os 7 a 1 para a Alemanha em 2014 conhece bem o sentimento.
Mais do que dedos apontados, o momento é de CALMA. É hora de sentar, planejar, corrigir os erros, buscar soluções e voltar a jogar um futebol minimamente competitivo. De nada vai adiantar o papo de coach quântico ou os vídeos de qualidade (no mínimo) duvidosa divulgados pela CBF nesses últimos dias. Vergonha alheia é pouco.
E à imprensa cabe o papel de cobrar a CBF para que faça esse planejamento. De nada adianta dar voz para quem critica o “meio-campo da Premier League” e esquece que a Argentina foi campeã da Copa do Mundo com o goleiro do Aston Villa, um zagueiro do Tottenham e um volante do Brighton. Ainda há tempo, temos bons jogadores e podemos jogar muito mais do que estamos jogando. Mas é preciso dar um bico na arrogância e entender que ficamos para trás. E isso só pra começar.