Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Juan Pablo Vojvoda e Tite no jogo disputado nesta quinta-feira (12)
Não é de hoje que este que escreve se declara admirador do trabalho de Juan Pablo Vojvoda. O período (e as conquistas) à frente do Fortaleza o colocam como o maior treinador da história do clube. E a vitória (justa) sobre o Flamengo no Maracanã só justifica a admiração de quem acompanha o argentino.
Isso porque o Laion mostrou a sua força diante de uma das equipes da primeira prateleira do Campeonato Brasileiro. O jogo mais estudado, pautado nas fraquezas do seu qualificado adversário e executado com a precisão de um relógio nesta quinta-feira (12) foram fundamentais no resultado diante de um Fla mais cansado e um pouco desleixado com e sem a bola. Melhor para o Fortaleza de Yago Pikachu, Lucero e Pochettino.
Mas tudo isso passa pelo plano de jogo do técnico Juan Vojvoda. E a forma como o Fortaleza atraiu o Flamengo para a sua armadilha diz muito sobre um time que não recebe tanta atenção assim da imprensa, mas que merece muito respeito. Principalmente de quem ama esse esporte fantástico chamado futebol.
Escalações iniciais, gol contra e pênalti polêmico
A grande sacada de Juan Pablo Vojvoda nem estava na postura da equipe. Sem a bola, o Laion baixava suas linhas para tirar o espaço de circulação do ataque rubro-negro. Retomada a posse, o time partia em alta velocidade para o ataque com bolas longas para Breno Lopes às costas de Wesley e Fabrício Bruno no lado esquerdo de ataque. O Flamengo não se sentiu confortável em nenhum momento do jogo por conta dessa estratégia do Fortaleza.
O gol de Wesley acabou condicionando um pouco os rumos da partida até a penalidade polêmica de Pedro Augusto no seu seu xará Pedro. Mesmo depois do empate, o Fortaleza se manteve fiel ao seu plano. Muita proteção na entrada da área, Pochettino explorando os espaços às costas de Pulgar e Allan e Lucero pronto para explorar os espaços nos contra-ataques. Tirando uma escapada ou outra de Matheus Gonçalves, o Laion se manteve firme.
As atuações ruins dos volantes do Flamengo, a insegurança de Wesley na marcação e os erros quase que constantes de Ayrton Lucas na construção das jogadas de ataque também facilitaram a vida do Laion. Não que o escrete comandado por Tite tenha feito uma partida muito ruim. Mas estava claro para este que escreve que a equipe sentia a falta dos desfalques e que a armadilha criada pelo Fortaleza estava dando certo. Faltava o golpe final.
Do gol de Lucero ao “ônibus estacionado” na frente da área
A segunda etapa da partida no Maracanã nos mostrou um Fortaleza mais inteiro (e muito mais organizado) na marcação e um Flamengo que errava demais. Com mais campo para atacar, o Laion passou a acelerar ainda mais nos contra-ataques com Breno Lopes explorando o espaço às costas de Wesley (problema que não foi corrigido por Tite) e Tomás Pochettino se juntando a Lucero, Yago Pikachu e até mesmo Hércules nas jogadas ofensivas.
O gol de Lucero já havia sido “ensaiado” aos treze minutos, mas o agora vice-artilheiro do Brasileirão com sete gols não perdoou quatro minutos em ótima troca de passes com Tomás Pochettino, talvez o grande termômetro da equipe de Juan Pablo Vojvoda. O camisa sete do Laion não chega a ser um volante e se comporta como uma espécie de ponta de lança típico dos anos 1990. Ele não é líder de assistências no Brasileirão por acaso.
Tite deu mais fôlego ao Flamengo com as entradas de Gabigol e Carlinhos. A nova formação indicava um “abafa” do escrete rubro-negro com Matheus Gonçalves e Wesley mais espetados, Pulgar mais recuado e Gerson ocupando a entrelinha. Do outro lado, Vojvoda reforçou a marcação na entrada da área com Kuscevic no lugar de Yago Pikachu e um meio mais povoado com Lucas Sasha no lugar de Pochettino. O “ônibus” foi estacionado.
Mesmo com o gol bem anulado de Gabigol, o Flamengo acabou dependente demais do brilho individual e vítima do cansaço da maratona de jogos. Mas isso não diminui em nada o brilho de um Fortaleza que deu aulas de contra-ataque durante todo o jogo desta quinta-feira (11) no Maracanã. A armadilha montada pensando no seu forte adversário prova essa tese e justifica a admiração deste que escreve pelo Leão do Pici e seu treinador.
No final das contas, o Fortaleza mostrou a força de uma equipe que pode não estar no mesmo patamar de Palmeiras, Botafogo e do próprio Flamengo, mas que merece respeito pelo exemplo que vem dando dentro e fora de campo. As campanhas nas últimas edições do Brasileirão e o ótimo trabalho de Juan Pablo Vojvoda falam por si só.