Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Dorival Júnior e as expectativas para a disputa da Copa América
Não é porque venceu que está tudo bem e não é porque perdeu que está tudo errado. Essa frase diz muito do início de trabalho de Dorival Júnior na seleção brasileira. Sua equipe ainda busca um maior equilíbrio e também precisa de tempo para corrigir os problemas de entrosamento e na criação das jogadas.
No entanto, o empate contra os Estados Unidos, nesta quarta-feira (12) também deixou lições valiosas para o elenco brasileiro. Por mais que Vinícius Júnior, Raphinha, Paquetá, Rodrygo (o melhor em campo junto com o ótimo goleiro Turner, na opinião deste que escreve) e cia tenham finalizado incríveis 24 vezes (de acordo com os números do Sofascore), ficou claro que o time como um todo ainda precisa de ajustes. Principalmente na defesa.
O estágio da seleção brasileira torna essas oscilações perfeitamente compreensíveis, já que ainda estamos falando de um início de trabalho. E cada jogo, cada atuação e cada resultado deixa lições valiosas. Principalmente as apresentações abaixo da expectativa, como aconteceu diante dos Estados Unidos.
Inicio de jogo eletrizante, chances desperdiçadas e problemas defensivos
Dorival Júnior mandou a campo o time que considera titular na seleção brasileira. Rodrygo e Vinícius Júnior se revezavam pelo lado esquerdo e por dentro, Raphinha à direita e Lucas Paquetá mais atrás na organização das jogadas. As transições rápidas para o ataque e a pressão na saída de bola estadunidense deram resultado aos 17 minutos, quando Bruno Guimarães interceptou passe no meio do campo e iniciou toda a jogada do gol marcado por Rodrygo.
No entanto, a seleção brasileira apresentava problemas na recomposição e na proteção da área desde o começo da partida. João Gomes parecia perdido em campo e Lucas Paquetá quase não ajudava na marcação. Era comum ver Pulisic, Weah e outros bons nomes do escrete estadunidense ocupando o espaço entrelinhas do Brasil e tendo alguma liberdade para trocar passes. O lance do gol dos Estados Unidos começou de uma dessas escapadas por dentro da defesa.
Aliás, essa era a sensação que ficava neste que escreve em todo ataque dos Estados Unidos. Os jogadores adversários pareciam sempre estar um passo à frente da nossa defesa. Era bem comum ver a seleção brasileira marcando com apenas seis jogadores na frente da sua área e encontrando dificuldades quando os Estados Unidos baixavam as linhas do seu 4-3-3. Faltava jogo por dentro na equipe de Dorival Júnior e isso ficaria ainda mais claro no segundo tempo.
Necessidade de um camisa nove de ofício é clara na seleção brasileira
A entrada de Douglas Luiz no lugar de João Gomes foi uma tentativa de Dorival Júnior de proteger o sistema defensivo. No entanto, a mudança para um 4-2-4, sem referência ofensiva, deixou a seleção brasileira mais previsível, visto que só era possível jogar pelos lados. O posicionamento de Danilo e Wendell mais por dentro até minimizaram um pouco esse problema, mas estava claro para este que escreve que a equipe precisava de um camisa nove de ofício.
Dorival Júnior colocou a seleção brasileira no ataque com as entradas de Andreas Pereira, Endrick, Savinho e Gabriel Martinelli nos lugares de Lucas Paquetá, Bruno Guimarães, Raphinha e Rodrygo. Só que a equipe acabou perdendo o pouco de consistência defensiva que havia conseguido no início da segunda etapa. Do outro lado, os Estados Unidos aproveitavam bem os espaços entrelinhas e só não viraram o jogo porque Alisson fez duas grandes defesas.
Ainda houve tempo para Vinícius Júnior, Gabriel Martinelli e Endrick desperdiçarem boas chances na frente do goleiro Turner. De qualquer maneira, ficou claro que a seleção brasileira precisa de um camisa nove de ofício, alguém que sirva de referência na frente e que possibilite as associações por dentro com os pontas e volantes. Ao mesmo tempo, alguns jogadores parecem ser melhores opções no momento, como Douglas Luiz, Savinho e Andreas Pereira.
As missões mais urgentes de Dorival Júnior até o início da Copa América
Este que escreve entende que a seleção brasileira iniciou um novo ciclo com Dorival Júnior e que ainda é preciso ter calma e paciência para ver as coisas acontecerem dentro de campo. Estamos falando de apenas QUATRO JOGOS, recorte muito pequeno para um trabalho que já começou debaixo de desconfiança com relação ao time, à ausência de Neymar e ao próprio treinador, que não parece ser o preferido de parte da imprensa. Por isso é que se bate tanto nessa tecla.
O próprio Dorival Júnior sabe que precisa entregar resultados. As atuações contra Inglaterra e Espanha deram esperanças ao torcedor, que deseja ver a seleção brasileira no topo novamente. Por outro lado, os jogos contra México e Estados Unidos fizeram muitos se lembrarem que as coisas não funcionam como num passe de mágica.
É por isso que este que escreve não encara essa Copa América com muitas esperanças de título. A seleção brasileira iniciou um ciclo completamente novo e ainda precisa de tempo e da nossa paciência para fazer as coisas acontecerem. Mesmo assim, se quiser se ajudar, Dorival Júnior pode aprender com as lições que os dois últimos amistosos deixaram. A começar pela entrada de um nove de ofício e chances para jovens que vêm pedindo passagem há algum tempo.