Os torcedores seguem lamentando a morte de Silvio Luiz, que ocorreu na quinta (16) devido à falência múltipla de órgãos. O histórico narrador esportivo de 89 anos foi enterrado ontem (17), em São Paulo, com o ícone da imprensa esportiva do país tendo passagens históricas por emissoras como Record, Band, SBT e RedeTV!.
Mesmo que seu estilo irreverente não casasse com o sisudo da Globo nos anos anteriores, Silvio Luiz por pouco não foi parar na Vênus Platinada no início da década de 80. Segundo a biografia Olho no Lance escrita por Wagner William, o narrador recebeu uma proposta verbal para ingressar na emissora carioca em 1981.
Silvio Luiz começava a se consagrar como locutor esportivo na televisão, passando a exercer o ofício na Record em meados dos anos 70. O grande trabalho realizado pelo comunicador no Mundialito de 1981 no Uruguai vencido pelo país-sede fez o canal paulista superar a Globo em audiência.
A forte concorrência da Record motivou a Globo a pensar numa estratégia diferenciada durante a decisão do Brasileirão de 1981 entre Grêmio e São Paulo, no Olímpico. Para o Estado paulista, a emissora carioca escalou Osmar Santos para narrar a final, enquanto Luciano do Valle transmitiria o mesmo jogo para o restante da rede.
Entretanto, o diretor de esportes Ciro José vetou em cima da hora o expediente, mesmo com Osmar Santos já presente em Porto Alegre para a cobertura. Diante do cenário, Silvio Luiz abriu a transmissão do confronto pela Record avisando: “Está pegando fogo na aldeia”.
Estratégia da Globo com Silvio Luiz era acabar com concorrência da Record
Pouco tempo depois da final vencida pelo Grêmio, Silvio foi convidado por Nilton Travesso para um almoço em São Paulo. O diretor da Globo, que havia sido um dos incentivadores do comunicador para que se tornasse narrador esportivo anos antes, realizou a oferta para que trabalhasse na emissora líder de audiência.
“Ao contratar Silvio, a direção da Globo também queria pressionar Luciano do Valle, porque sua intenção de criar a Promoação (empresa de promoção de esportes olímpicos, que ele estava montando em sociedade com Francisco Coelho Leal, o Quico) havia vazado”, escreveu Wagner William, biógrafo do narrador.
Mas Silvio Luiz percebeu que a Globo não precisava dele, pois a intenção da emissora era tirá-lo da concorrência. Se assinasse com o canal, teria que deixar o estilo que o consagrou para se tornar um narrador mais sóbrio e sério.
“Se eu for pra lá, como é que fica o Luciano? Quem é que vai narrar a final da Copa da Espanha, por exemplo?”, questionou Silvio.
Nilton Travesso respondeu: “Bem, quem vai narrar é o Boni [principal diretor de operações da Globo, na época] que vai escalar. E ele está viajando agora”. Silvio encerrou o diálogo: “Então, quando ele retornar, a gente volta a conversar”.
Silvio Luiz ficaria na Record até 1987, quando teve uma passagem relâmpago pela TV Gazeta para trabalhar nos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis, para depois se transferir para a Band naquele mesmo ano.
Já Luciano do Valle, que narrou a decisão da Copa de 1982 vencida pela Itália em sua despedida da Globo, levaria a sua empresa Promoação para a Record em 1983, incentivado pelo próprio Silvio Luiz.