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“Bicho papão” da Champions League, estratégia de Tuchel e mais: correspondentes dissecam Real Madrid x Bayern de Munique

Arthur Quezada e Clara Albuquerque conversaram com o Torcedores.com e analisaram o grande confronto da Liga dos Campeões

Por Lucas Ayres em 30/04/2024 12:53 - Atualizado há 7 meses

Arthur e Clara vão acompanhar as semis da Champions League in loco. (Foto: Montagem/Torcedores.com/ Cesar Ortiz Gonzalez /ANP/ Alamy Stock Photo)

Arthur Quezada e Clara Albuquerque conversaram com o Torcedores.com e analisaram o grande confronto da Liga dos Campeões

Se o sofá de casa — ou aquela aba escondida no computador do escritório — já parecem ser jeitos bons o bastante para assistir uma semifinal de Champions League, imagina então acompanhar esse tipo de jogo diretamente de um Santiago Bernabéu ou de uma Allianz Arena. São os os casos de Arthur Quezada e Clara Albuquerque, correspondentes da TNT Sports na Europa.

O primeiro, que intensificou a sua cobertura dos times alemães nas fases mais agudas da Champions, estará in loco nas duas partidas do confronto entre Real Madrid e Bayern de Munique. A segunda, responsável de longa data por acompanhar o PSG, vai bater o ponto no Parque dos Príncipes e também encarar a aventura da “Muralha Amarela” no Signal Iduna Park, para Paris Saint-Germain e Borussia Dortmund.

E se a presença no campo já oferece uma visão diferenciada do jogo, o dia a dia do trabalho e o contato constante com a imprensa europeia dão a Arthur e Clara um entendimento completo de todo o contexto dos confrontos da semifinal da Liga dos Campeões, que começam a ser disputados nesta terça-feira (30) às 16h (horário de Brasília).

A sorte é do Torcedores, que, se não pôde ir para a Espanha ou para a Alemanha para poder acompanhar os jogos, pôde ter uma hora ininterrupta com esses dois jornalistas dissecando os confrontos da Champions League.

O resultado completo dessa “entrevista dupla” você pode conferir ao longo da semana no Torcedores.com. Mas a primeira parte já está disponível abaixo, um debate, quase um pré-jogo especial sobre um dos confrontos que é um dos maiores clássicos da história da Champions League. Estamos falando, claro, de Real Madrid e Bayern de Munique.

A conversa foi editada para melhor compreensão e para ajuste de tamanho.

Arthur Quezada e Clara Albuquerque ‘dissecam’ Real x Bayern na Champions

Torcedores.com: Vamos lá. Boa tarde, pessoal. Começando então pelo jogo de maior tradição: Bayern de Munique e Real Madrid. O que o pessoal que vai assistir no Brasil precisa saber sobre esse confronto?

Arthur Quezada: “Cara, eu acho que é o grande clássico da Liga dos Campeões. Reúne duas das camisas mais pesadas da história da competição, da história do futebol europeu, e que chegam num momento tão diferente um do outro que você pode apontar hoje, talvez, um favoritismo para o Real Madrid.

Mas não dá para duvidar de quão gigante e o quão pode ser decisivo para o Bayern de Munique conseguir essa vitória para cima do Real Madrid.

Estamos falando da única oportunidade, na temporada que o Bayern de Munique mais abriu os seus cofres, mais gastou, trouxe o Harry Kane — que é o jogador mais caro da história da Bundesliga —,enfim, a única oportunidade de ganhar um título. E, logo, o mais difícil deles, que é a Liga dos Campeões.

Se o favoritismo está do lado do Real Madrid, dá para a gente dizer que o Bayern de Munique é um time que não precisa ter medo de ninguém na Europa. Respeito, sim, medo de ninguém.

E nesse exato momento eu acho que é um jogo bem equilibrado, um duelo bem equilibrado, com um ligeiro favoritismo para o Real Madrid.

No fim, acho que a galera que está em casa, que gosta de futebol europeu, perder o maior clássico dessa competição, o jogo que traz uma rivalidade antiga, das últimas décadas, é um pouco loucura, é o jogo que todo mundo quer ver, é o jogo que todo mundo precisa estar ligado”.

Real Madrid favorito contra o Bayern de Munique?

T: Você colocou o real como favorito e você acha que isso é uma coisa que não só sua, mas a apreensão geral da imprensa na Espanha ou até na Alemanha?

A: “Sim, mas é muito não reflexo de investimento ou de faturamento, no caso, até porque o Bayern de Munique também é um gigante em faturar junto com o Real Madrid. Com o novo estádio, inclusive, o Real Madrid até vai superar os números do Bayern de Munique em faturamento.

Mas pela questão da temporada mesmo, no futebol, como diria o técnico Tite, o campo fala. E a temporada do Real Madrid, surpreendentemente, apesar de não ter um centroavante — que era o que o Ancelotti pedia e pedia no início da temporada —, foi se encaixando de uma forma em que os caras se encontraram. Se encontraram dentro da La Liga, numa liderança que é questão de tempo para o título, e se encontraram dentro da própria Liga dos Campeões, vencendo o atual campeão Manchester City.

E é um Real que também tem dois meninos brasileiros (Rodrygo e Vinícius Júnior) que, enfim, estão fazendo miséria. E um time que chega para o confronto no melhor momento, enquanto a temporada do Bayern é totalmente ao contrário.

Uma expectativa foi criada muito alta, porque o Harry Kane chegou e o Bayern perdeu a Supercopa. Aliás, perdeu não, tomou uma pancada, 3 a 0; o Bayern caiu para um time de terceira divisão na Copa da Alemanha em fases iniciais; perdeu a hegemonia da Bundesliga de 11 anos para o Bayer Leverkusen — se bem que aí tudo bem, porque eu acho que, nem se o Bayern estivesse jogando bem, não sei se conseguiria vencer desse Bayer Leverkusen —, mas mesmo assim, foi porrada atrás de porrada, tanto que chega com um técnico que está demitido no final da temporada, ou que muito provavelmente não vai continuar, que não bateu o santo, não bateu o DNA.

É uma sensação geral do que está falando a imprensa europeia, tanto na Alemanha, quanto na Espanha. E sim, o Real Madrid hoje é o favorito para esse duelo”.

Clara Albuquerque: “A gente faz programas semanais, enfim, analisando as equipes, e em especial no “Melhor Futebol do Mundo”, e eu acho que é consenso, né, que o Real Madrid tem muito mais time do que o Bayern de Munique.

Só que você, Arthur, inclusive, é um dos que mais faz questão de falar isso, o quanto que a gente não pode esquecer da tradição e do poder que o Bayern tem em se transformar, em especial nessa reta final, na Liga dos Campeões.

Porque se a gente tirasse os escudos das duas equipes e a gente não falasse quem é quem, a gente apenas mostrasse os jogos, os números, enfim, quem são esses dois times na temporada, a gente daria um favoritismo, acho que até maior para o Real Madrid.

Só que quando você pensa no que o Bayern conseguiu fazer, por exemplo, com o Arsenal, que era um time muito melhor do que o Bayern, a gente entende que a Liga dos Campeões é diferente, e que por mais que tenha esse favoritismo do Real, não dá para garantir ele de jeito nenhum.

O “bicho papão” da Champions League

A: “E, assim, o Real Madrid é o grande bicho papão da Liga dos Campeões. Eu adoro encontrar a Tati Mantovani, mas é um problema encontrar a Tati Mantovani, porque quando a gente encontra a Tati Mantovani, ela traz o Real Madrid junto (risos)”.

C: “Exato! A gente quer evitar a Tati e o banquinho dela, porque vem com o Real Madrid”.

A: “É, vem o combo com a Tati. E é um problema, porque, enfim, nenhum time gosta de enfrentar o Real Madrid. Entretanto, curiosamente ou não, a gente está preparando aqui os materiais para a Champions e tem um fato curioso.

O Thomas Tuchel, que foi tão criticado durante a temporada e com razão, acho que ele estava tentando fazer uma coisa que ele não sabe fazer, e o Bayern uma coisa que não queria fazer.

E, nesse meio do caminho, se encontraram contra o Arsenal. Contra a Lazio já tinha sido assim, o segundo jogo. Aí, contra o Arsenal nas quartas de final, todo mundo remando para o mesmo lado.

E o Tuchel, no retrospecto contra o Real Madrid, já enfrentou a equipe do Ancelotti em três oportunidades por três times diferentes na Champions League, com o Borussia Dortmund, com o PSG e com o Chelsea. E nunca perdeu para o Real Madrid. Inclusive, eliminou o Real nas semifinais com o Chelsea, naquele ano que bate campeão.

Parece que o Tuchel está tentando aplicar uma receita do que aconteceu com aquele Chelsea de 2021. Se eu não estou enganado, terminou em quinto ou sexto na Premier League (nota da edição: o time londrino terminou o Campeonato Inglês 2020-21 na 4ª colocação), não era um time brilhante, mas era um time cínico, bem eficaz no que queria fazer.

Agora, o Bayern na Champions, esquece aquela história de rolo compressor. A gente vai ver um outro Bayern de Munique, como vimos contra o Arsenal, que vai ter que parar o Real Madrid. Essa vai ser a tônica do jogo na minha cabeça”.

Real dominante e Bayer “versão Champions League”

T: E tem sido um pouco o Bayern na Champions League, você falou que perdeu lá logo na estreia do Kane, perdeu na Copa da Alemanha, não tinha realmente como segurar o Bayer Leverkusen, mas parece que conseguiu virar essa chave na Champions League. E eu acho que um pouco da virada de chave, o próprio Thomas Müller fala depois do primeiro jogo contra o Arsenal, que foi um jogo que eles jogaram com humildade. Jogaram um pouco mais atrás, foram mais copeiros. É a tendência desse duelo, de ser o Bayern mais copeiro? E Real Madrid vai tentar ser mais dominante?

A: “É uma ótima pergunta. Eu acho que o Bayern de Munique não vai se atrever a querer usar a fórmula que deu tão errado durante toda a temporada, que é a questão de pressionar lá em cima, linha alta, correndo o risco de sofrer um contra-ataque. Que é o que o Real Madrid sabe fazer de melhor, que é a transição ofensiva, bola longa.

A bola cai no pé do Kross, ele coloca onde quer e os meninos vão correr e já era, você está morto. Se você der espaço para o Real Madrid, você está morto.

Eu acho que o Bayern de Munique sabe exatamente que não pode fazer isso, e o Tuchel sabe exatamente que não pode fazer isso. Contra o Arsenal, foi uma masterclass do Tuchel. Eu não vejo muita gente falando isso no Brasil, mas na Alemanha se fala muito isso. Ele colocou dois laterais direitos para jogar e para parar o ataque pelo lado direito do Arsenal, com o Saka.

Então, eu acho que a tônica do Real Madrid contra o Real Madrid vai ser essa. O Bayern de Munique vai respeitar muito o que o Real Madrid tem de melhor. E vai tentar agredir naquilo que conseguiu agredir, especialmente nesse primeiro jogo da Allianz Arena.”

C: “Eu acho que é possível a gente ver um Real dominante, porque a gente viu um Ancelotti nessa temporada que fez alguns planos, algumas estratégias que talvez a gente não imaginasse. Então, não me surpreende que o Ancelotti tenha um plano nesse sentido para o Real Madrid.

A gente viu algumas mudanças táticas interessantes do Ancelotti, justamente querendo surpreender, tentando fazer algumas modificações. A gente tem falado muito que essa é a modificação do Vinícius Júnior e do Rodrygo, o que inclusive pode beneficiar a seleção brasileira quando a gente pensa no Vinícius um pouco mais centralizado, não tão preso à ponta esquerda. Então, o Real Madrid nunca me surpreende, porque não dá para, enfim, duvidar.

E enfim, eu acho que o Ancelotti, a cada temporada, mostra o quão ele é bom como técnico, como estrategista com cada “peça tática” desse Real Madrid. Então, acho que é bem possível.”

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