Os torcedores jamais se esquecerão daquela tarde de sábado. Há exatamente 10 anos, Luciano do Valle (1947-2014) morria de infarto aos 66 anos durante viagem para Uberlândia, onde transmitiria pela Band no dia seguinte o confronto entre Atlético-MG x Corinthians, no Parque do Sabiá.
A notícia entristeceu os amantes não apenas do futebol, como também de todos os esportes. Luciano do Valle teve participação notável na popularização de diversas modalidades no Brasil, como vôlei, basquete e futebol americano, além da Fórmula Indy e das lutas de Maguila. O país chegava a parar para torcer por Rui Chapéu na sinuca.
O Show do Esporte aos domingos marcou época, eternizando a Bandeirantes como o canal do esporte. O locutor esportivo, apresentador e empresário, também trabalhou em emissoras como Globo, Record e SBT.
Como uma forma de homenagem ao eterno Luciano do Valle, o Torcedores.com recorda algumas das maiores narrações do inesquecível Bolacha, como era conhecido.
“Não há palavras para descrever”, narrou Luciano do Valle sobre gol de Zico com a seleção brasileira
O amistoso entre Brasil e Iugoslávia serviu para Telê Santana acabar com as dúvidas se Zico deveria ou não ir para a Copa do Mundo do México, em 1986. No confronto no Estádio do Arruda, no Recife, o Galinho arrancou, driblando um zagueiro e um goleiro em zigue-zague, mandando para o gol.
O lance gerou uma das mais icônicas narrações de Luciano do Valle. “Não há palavras pra descrever o gol de Zico. É de placa, é de placa, é de placa! Ele é fenomenal, ele é gênio, gênio, gênio”, bradou, numa locução que se tornou a identidade da antologia proporcionada pela camisa 10.
“Émerson vai ganhar! O Brasil ganhou!”
Luciano do Valle foi um dos entusiastas da Fórmula Indy, se tornando um dos maiores incentivadores da modalidade norte-americana. Na transmissão das 500 Milhas de Indianápolis de 1989, a vibração do narrador com a vitória de Émerson Fittipaldi, a primeira de um brasileiro na lendária prova, marcou época.
Logo após ser ultrapassado por Al Unser Jr na reta final da corrida, Emerson Fittipaldi conseguiria encostar no norte-americano no oval de Indianápolis Motor Speedway. “Vai que ‘cê’ passa. Agora. É o Brasil! Vamos lá! Força mais um pouquinho”, bradava Luciano.
Durante a perseguição, Al Unser Jr se chocaria contra o muro restando apenas duas voltas para o encerramento, com a bandeira amarela confirmando a vitória do brasileiro. “Bateu Al Unser. Emerson vai ganhar. Emerson vai ganhar. O Brasil ganhou”, gritava Luciano do Valle euforicamente.
Josimar espetacular
Em um dos mais belos gols marcados pela seleção brasileira em Copas do Mundo, Josimar suplantou a marcação de todos os poloneses que lhe cercavam, em arrancada pela ponta-direita. Mesmo sem ângulo, o lateral-direito, a maior surpresa de Telê Santana no Mundial do México em 1986, acertou um chute perfeito, marcando o segundo na goleada por 4 a 0 pelas oitavas de final.
“Josimar espetacular. Com tudo concentrado nele, a força toda dele. Olha o que ele fez! Brasil, Brasil!”, vibrou Luciano do Valle, com o eco inserido pela Bandeirantes dando um ar ainda mais nostálgico para a narração.
“Eu sou o capeta!”, disse Luciano do Valle em gol histórico de gol do Corinthians
As narrações inesquecíveis para gols do Timão tornaram locutor eterno nos corações da Fiel.
Antes do confronto contra o Real Madrid pelo Mundial de Clubes da Fifa de 2000, o vice-presidente do clube merengue Juan Onieva declarou não conhecer Edilson. O Capetinha teria prometido marcar um gol driblando o francês Karembeu no meio das pernas.
O atacante cumpriria a promessa com louvor, com a história sendo contada assim por Luciano do Valle: “E aí ele disse: eu sou o Edilson, o capeta”, apresentou. “Muito prazer, vai buscar lá dentro”.
Antologia de Ronaldo Fenômeno
Luciano do Valle narrou com a maestria de sempre um dos mais belos gols de Ronaldo Nazário. Já em fim de carreira, o camisa 9 marcou um gol antológico pelo Corinthians contra o Santos, pela decisão do Campeonato Paulista de 2009, driblando o lateral santista Triguinho e encobrindo o goleiro Fábio Costa na Vila Belmiro.
“Por cobertura: demais, demais! Goooolaço aço golaço golaço. Ele é fora de série, a gente não cansa de dizer”, narrou.