Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Arthur Elias e a classificação para as semifinais da Copa Ouro Feminina
É verdade que a Seleção Feminina não teve dificuldades no ataque para golear a Argentina por 5 a 1, neste domingo (3), em Los Angeles. O sistema ofensivo segue à risca os conceitos trabalhados por Arthur Elias e o placar poderia ter sido até maior, se não fossem os constantes erros nas tomadas de decisão.
Por outro lado, a Albiceleste (apesar de todas as fragilidades) conseguiu expor a necessidade de ajustes no sistema defensivo do Brasil. O chute de Ippólito (tentando surpreender Luciana logo nos primeiros minutos de jogo) e a segunda com o gol de Celeste dos Santos na segunda etapa são bons exemplos disso. Não foram poucas as vezes em que o Brasil jogou “no limite” e deixou a última linha completamente exposta aos contra-ataques adversários.
O ponto que merece ser exaltado é a maior compreensão dos conceitos trabalhados por Arthur Elias. A Seleção Feminina está mais intensa e concentrada no ataque e trabalhando muito mais a bola. Destaque para mais uma boa atuação de Gabi Nunes e a boa apresentação de Bia Zaneratto, muito mais participativa e intensa do que nas últimas partidas.
O incrível volume de jogo da Seleção Feminina
Arthur Elias manteve seu 3-4-3 básico na Seleção Feminina. A equipe ganhou ainda mais fluência na construção das jogadas desde a defesa com Antônia, Thaís e Rafaelle e teve em Gabi Nunes a referência móvel do sistema ofensivo. Com a subida constante das alas Gabi Portilho e Yasmim ao ataque, o Brasil se organizava numa espécie de 3-2-5 nos momentos de posse. O volume de jogo e as boas trocas de passe foram empurrando a Argentina para trás.
Os gols de Yaya e Yasmim eram resultado do bom repertório ofensivo da Seleção Feminina. A equipe comandada por Arthur Elias usava bastante as triangulações e a subida das volantes para criar superioridade numérica no terço final como eu e você vimos várias vezes na partida deste domingo (3). Mesmo errando além da conta nas tomadas de decisão e desperdiçando chances claras de gol, o Brasil se impôs na base do volume ofensivo e da qualidade individual.
Se Antônia e Rafaelle apareciam bem pelos lados do campo ajudando na construção, Gabi Nunes foi importante jogando como uma espécie de “enganche” no ataque brasileiro. A camisa nove não se limitava a permanecer entre as zagueiras adversárias e buscava o espaço entrelinhas para dar opção de passe e abrir a defesa da Argentina para a chegada das companheiras de equipe. É esse volume ofensivo que Arthur Elias tanto pede para suas jogadoras.
Queda na concentração marca o segundo tempo brasileiro
A Seleção Feminina seguiu o plano de jogo no segundo tempo e manteve as linhas de marcação bem altas. Os gols de Bia Zaneratto (aos nove minutos) e Gabi Nunes (aos quatorze) nasceram da forte marcação e dos encaixes bem feitos ainda no campo da Argentina. Rafaelle e Antônia estavam bem nos saltos para a pressão, Duda Santos e Vitória Yaya fechavam bem as linhas de passe no meio-campo e Gabi Nunes perseguia a volante Preininger a todo momento.
No entanto, eu e você sabemos que o futebol é um esporte de “cobertor curto”. Jogar com as linhas mais altas exige muita concentração no controle da profundidade (o popular “correr para trás”). O belo gol marcado por Celeste dos Santos foi resultado de uma verdadeira pane do sistema defensivo e de uma certa falta de foco das nossas jogadoras por conta da vantagem no placar. Erros que não podem se repetir contra oponentes mais qualificados.
Além dos problemas vistos na cobertura defensiva, é preciso dizer que a Seleção Brasileira se desorganizou demais depois das mexidas promovidas por Arthur Elias. Difícil entender, por exemplo, o posicionamento de Aline Milene na ala esquerda (onde se mostrou bem desconfortável). Yasmim foi outra que caiu de produção quando foi deslocada para a zaga. São pontos que merecem a atenção da comissão técnica. Ainda mais chegando nas semifinais.
Não é implicância: a Seleção Feminina precisa melhorar
Por mais que a Seleção Feminina venha fazendo boa campanha na Copa Ouro (com quatro vitórias em quatro partidas, doze gols marcados e apenas um sofrido), precisamos reconhecer que o time ainda precisa de ajustes. Algo natural nesse início de ciclo, mas que encontra obstáculos na falta de tempo e numa certa “blindagem” recebida pela equipe. Uma postura preocupante de vários colegas de imprensa que insistem em maquiar tudo o que o campo nos mostra.
Os erros cometidos nas partidas contra Panamá e Argentina e a postura desorganizada na estreia contra Porto Rico são argumentos fortes que reforçam a tese levantada aqui. Alguns parecem se recusar a admitir que o time precisa sim melhorar seu desempenho e jogar mais. Ainda mais se realmente quiser um lugar entre as seleções mais fortes do planeta.
Essa “blindagem” só prejudica o trabalho de Arthur Elias na Seleção Feminina. Identificar os pontos que podem melhorar e diminuir a euforia daqueles que já enxergam o “retorno do futebol-arte” da equipe faz parte do cotidiano de quem quer trabalhar sério e ajudar nesse processo. Independente de implicâncias ou perseguições contra A, B ou C, o escrete canarinho precisa de equilíbrio. Dentro de campo e por parte de quem analisa.