Trio de ataque é um dos mais promissores dos últimos tempos no futebol mundial e o futuro da seleção brasileira
Foi por menos de meia hora, mas pudemos finalmente ver em ação um dos mais promissores trios de ataque dos últimos tempos do futebol mundial: Endrick, Vinícius Júnior e Rodrygo.
Apesar do futuro incerto no Real Madrid — dada a iminente chegada de Mbappé no clube espanhol e a possível negociação de Rodrygo — e num contexto longe do ideal, os três mostraram, em pouco tempo, que são o futuro da seleção brasileira. Para o presente, são necessários ajustes e mais testes.
De qualquer maneira, do primeiro minuto do segundo tempo do amistoso do Brasil contra a Espanha até a saída de Vinícius Júnior, aos 25 minutos, foi possível comprovar o muito teorizado encaixe ideal entre os três jogadores.
Afinal, com Vini, Endrick e Rodrygo, tem-se basicamente tudo o que um ataque precisa hoje em dia. Em comum, ambos têm velocidade, habilidade técnica, versatilidade e principalmente, poder de decisão. Entre eles, características que se complementam como raras vezes se vê.
Vinícius é o atacante dos grandes espaços, que acelera pelos lados, castiga as costas dos defensores e decide jogadas com seu um contra um “mortal”. Foi o que ele fez no gol brasileiro contra a Inglaterra e o que ele não conseguiu logo no primeiro minuto do segundo tempo contra a Espanha.
Rodrygo é o cara dos pequenos espaços, que pode buscar a bola um pouco mais recuado (mas nem tanto) e carregá-la para atrair os adversários e enfim soltá-la na hora certa para os companheiros. A jogada dele aos 15 minutos do primeiro tempo contra a seleção espanhola (abaixo) é bastante ilustrativa dessa capacidade articuladora.
Endrick é um pouco de tudo. Pode ser centroavante, pode ser segundo atacante, ponta de lança, quem sabe até um camisa 10, no futuro. Para Vini e Rodry, é o complemento perfeito. É capaz de jogar costas, adiciona mais fisicalidade ao trio e ainda traz mais objetividade na definição dos lances.
O fato de ser tudo isso e ainda por cima canhoto permite ao (ainda) jogador do Palmeiras se posicionar nos ângulos certos para tanto começar quanto terminar as jogadas do trio. Os passes dele para Vini Jr contra os espanhóis e o gol diante dos ingleses mostram bem essa questão.
Com os três, temos, em potencial, quem articule as jogadas (Rodrygo), quem as termine (Vinícius) e quem pode fazer o que for necessário no meio disso (Endrick). Mal comparando, é algo que um dos melhores trios da história do futebol mundial, o MSN, fazia no Barcelona. Neymar iniciava as jogadas, Suárez as finalizava e Messi fazia a magia dele no meio disso — e eram dois destros e um canhoto, é bom lembrar.
Desafios para Dorival Júnior com o trio Endrick, Vini e Rodrygo
Claro que todo esse encaixe que repito, foi visto por só vinte e cinco minutos, não quer dizer que já está tudo resolvido. Há muitos desafios para serem superados, especialmente por parte de Dorival Jr na hora de montar os mecanismos coletivos para sustentar tudo isso defensivamente.
Assim como o arriscadíssimo exemplo do trio MSN acima, nenhum dos três jogadores é muito afeito ao momento defensivo do futebol. Mas alguém tem que marcar.
Contra a Espanha, o fardo recaiu em Vinícius Júnior, que foi quem mais recompôs a linha de meio de campo pela esquerda, enquanto Paquetá fazia o mesmo pela direita. Endrick e Rodrygo ficavam mais por dentro e tentavam pressionar os zagueiros espanhóis.
O resultado da dinâmica foi um lado esquerdo que ficou mais povoado, mas não necessariamente mais eficiente na hora de defender. Pior: tirou o capitão da seleção brasileira da partida, esgotado fisicamente (e mentalmente, como era de se imaginar), mal tecnicamente e sem conseguir ser muito influente no ataque.
Nesse caso, a escolha de Dorival Júnior é quase uma “escolha de Sofia”, de quem “sacrificar”, não só exigindo fisicamente como afastando o jogador da área adversária. Endrick passou por isso recentemente no primeiro tempo de Palmeiras x São Paulo pelo Paulistão. Mal jogou, mal marcou.
Talvez Rodrygo seja a melhor opção nesse caso. Não pela excelência no trabalho defensivo, mas pela maior capacidade de ser influente ofensivamente mesmo mais longe do gol, a exemplo de Neymar no Barcelona.
Nada que testes mais específicos, que podem acontecer nos amistosos de junho contra México e EUA, não possam resolver. No mínimo mostrar que ainda não há como escalar o trio desde o começo. O que não é necessariamente ruim. Endrick já mostrou que pode retomar a tradição do “talismã” na Copa América.