Nova Iguaçu faz história e vence o Vasco com futebol consistente e bem executado
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a partida deste domingo (17) e destaca as escolhas de Carlos Vitor e Ramón Díaz
É preciso deixar bem claro que o Nova Iguaçu está na final do Campeonato Carioca com todos os méritos. Não se trata “apenas” de uma “zebra” ou um “infortúnio do destino”. De fato, a “Laranja Mecânica da Baixada” jogou mais futebol do que o Vasco nos 180 minutos das semifinais e está na decisão.
Mais do que isso. O time comandado por Carlos Vítor soube como anular as armas ofensivas do seu adversário, controlar os nervos diante da atmosfera hostil no Maracanã e manter a agressividade sempre que teve a posse da bola. Além das grandes defesas do goleiro Fabrício Santana e da grande atuação de Gabriel Pinheiro e Sérgio Raphael na proteção da área, o Nova Iguaçu ainda contou com o oportunismo de Bill no lance mais importante do jogo.
A eliminação no Campeonato Carioca não deixa de ser uma espécie de “choque de realidade” para um Vasco que encerrou bem a primeira fase, mas que engatou atuações inseguras e sem consistência. O “apagão” diante do Água Santa pela Copa do Brasil já era um aviso. Faltou confiança e um pouco de vibração em alguns momentos.
Nova Iguaçu supera a pressão do Vasco e o forte calor no Rio
Para o jogo deste domingo (17), o técnico Carlos Vitor manteve a mesma formação do jogo da semana passada. Um 4-2-3-1 com Yago Ferreira, Bill e Xandinho próximos de Carlinhos e bastante atentos na ajuda defensiva aos laterais Yan e Maicon. Do outro lado, Ramón Díaz abandonou o esquema com três zagueiros e posicionou Gary Medel como volante à frente de João Victor e Léo e um pouco atrás de Galdames e Praxedes, uma das novidades do treinador argentino no Vasco.
O forte calor e a sensação térmica de mais de sessenta graus fez com que Nova Iguaçu e Vasco diminuíssem o ritmo do jogo para poupar fôlego e encontrar soluções mais simples. Por jogar com o apoio da sua torcida, o Trem Bala da Colina tinha a iniciativa. No entanto, toda tentativa de entrar no campo de ataque era desfeita pelo forte bloqueio defensivo do Nova Iguaçu. Payet ficou “encaixotado” na intermediária e Lucas Piton foi bem vigiado por Xandinho.
Mas é bom deixar claro que a “Laranja Mecânica da Baixada” não veio ao Maracanã apenas para se defender. A equipe conseguiu encaixar bons contra-ataques e quase sempre retomava as jogadas de ataque com espaços de sobra para explorar no campo de ataque. Isso porque a recomposição defensiva do Vasco era muito mal feita. Com Lucas Piton mais avançado, cabia a Gary Medel a cobertura daquele espaço, ponto que sobrecarregava Galdames no setor de marcação.
Além do gol de Bill (em contra-ataque de manual puxado por Xandinho na direita depois do lançamento de Fabrício de dentro da área), o Nova Iguaçu se fechou na defesa diante do “abafa” do Vasco. O técnico Carlos Vitor não teve o menor pudor em reorganizar sua equipe numa espécie de 6-3-1 enquanto Ramón Díaz mandava Clayton, David, Paulo Henrique, Sforza e Zé Gabriel para o jogo. Mais uma vez, faltaram ideias e vibração no Trem Bala da Colina nos minutos finais.
Se o Vasco não conseguiu impor seu ritmo de jogo, muito também se deve ao ótimo trabalho defensivo realizado pelo Nova Iguaçu. Sempre que tinha a bola, o escrete de São Januário não conseguia fazer as conexões com o ataque e viu Payet ficar completamente encaixotado no ataque. Ao mesmo tempo, a equipe da Baixada Fluminense (embora mais preocupada com a defesa) jogou mais solta, com liberdade para os laterais e Carlinhos fazendo bom trabalho de pivô.
Será que dá pro Nova Iguaçu sonhar com o título?
A campanha do Nova Iguaçu nesse Campeonato Carioca já entrou para a história. A atuação da equipe comandada por Carlos Vitor lembra outros grandes momentos dos “pequenos” na competição, como o Volta Redonda em 2005 (contra o Fluminense) e o Madureira em 2006 (contra o Botafogo). Times de menor investimento, mas altamente competitivos e ousados dentro de campo, que não têm a menor vergonha de bater de frente com um dos gigantes do futebol do Rio de Janeiro.
Falando da decisão contra o Flamengo, é difícil prever o que vai acontecer daqui a quase duas semanas em virtude da parada para a Data FIFA de março. Certo é que o Nova Iguaçu entra em campo sem pressão nenhuma, mas pode ter alguma chance se repetir o bom futebol que apresentou durante esse Campeonato Carioca.
Este que escreve já chegou num momento da vida em que não duvida de mais nada. Principalmente quando o assunto é o velho e rude esporte bretão. Além disso, será bem interessante ver como o Flamengo de Tite (que já entrou para a história por conta da segurança defensiva) vai se comportar contra um Nova Iguaçu ousado, intenso e muito bem organizado. Certo é que as duas melhores equipes desse Cariocão 2024 vão fazer dois grandes jogos. A expectativa já está alta.