Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o clássico deste sábado (24) e destaca a pressão em cima de Luiz Felipe Scolari
É possível observar o empate entre América-MG e Atlético-MG de várias formas diferentes. Podemos começar a partir da ótima atuação coletiva do time comandado por Cauan de Almeida ou da falta de criatividade da equipe comandada por Felipão. Seja como for, o cenário (pelo menos para o Galo) requer cuidados maiores.
Isso porque o Galo segue apresentando problemas de ordem coletiva e dependendo unicamente do talento individual de Hulk, Paulinho e companhia para se salvar das derrotas.
Contra o organizado América-MG, a equipe sentiu novamente essa falta de ideias por parte da comissão técnica e só não foi derrotado porque o goleiro Dalberson soltou falta de Hulk nos pés de Rubens no último lance da partida disputada na Arena Independência.
É verdade que ainda estamos no início de temporada e que os campeonatos estaduais ainda não entraram na sua fase decisiva. Mas fato é que os problemas coletivos do Atlético-MG aparecem muito mais quando o time enfrenta adversários mais organizados. O Galo pode e deve jogar mais. E melhor.
Dificuldades na criação e vantagem do América-MG
A impressão que ficou para este que escreve é a de que o América-MG parecia mais organizado e executava melhor a proposta do seu treinador. Organizado no 4-3-3 costumeiro de Cauan de Almeida, o Coelho não adiantava tanto as suas linhas de marcação e fechava bem os espaços.
Com Hulk, Paulinho e Alisson longe do meio-campo, não restava outra alternativa aos jogadores de defesa senão apelarem para as ligações diretas para o trio ofensivo.
O Atlético-MG, por sua vez, também jogava no mesmo 4-3-3 do seu adversário e até conseguiu levar perigo ao gol adversário com alguns lançamentos para Alisson e Paulinho às costas dos laterais Mateus Henrique e Marlon.
No entanto, ficou só nisso. Aos poucos, o Coelho foi controlando bem o jogo e explorando os espaços na defesa do Galo com toques rápidos e as infiltrações de Matheusinho junto a Fabinho, Renato Marques e Victor Jacaré.
Não foi por acaso que o gol do Coelho saiu de uma desas jogadas. Vale destacar aqui também os espaços que os zagueiros Bruno Fuchs e Jemerson deixavam entre eles e os laterais Renzo Saravia e Guilherme Arana e o fato de Battaglia ficar constantemente sobrecarregado na cobertura defensiva.
Igor Gomes e Gustavo Scarpa apareciam pouco na criação das jogadas e também deixavam a desejar na marcação. Acabou que o gol do América-MG era questão de tempo.
O que se via era um Atlético-MG dependente ao extremo do talento individual e que só conseguia levar perigo ao gol adversário na base das ligações diretas. É um recurso válido e legítimo, desde que bem executado.
Quando o América-MG acertou a “dobra” na marcação em cima de Alisson e Paulinho, o Galo começou a encontrar ainda mais dificuldades para levar a bola ao ataque. Com isso, o torcedor atleticano se irritava mais uma vez.
Mudança na formação, “abafa” e empate no último lance
Felipão fez substituições no Galo, mas mudou a formação para uma espécie de 4-1-3-2 com Paulinho mais próximo a Hulk, Alisson e Igor Gomes pelos lados do campo e Gustavo Scarpa jogando mais por dentro.
Embora o problema da cobertura defensiva não tenha sido resolvido, o escrete atleticano ganhou mais força no ataque, mas pecou nas finalizações e no último passe. Além disso, o goleiro Dalberson salvava o Coelho com grandes defesas.
O tempo ia passando e o Coelho se segurava como podia. Scolari mandou Vargas, Rubens, Pedrinho e Edenílson para o jogo, mas Cauan de Almeida respondeu com um 4-5-1 bem fechado que deixava o argentino Benítez como o único atacante da equipe.
Em resumo, o empate veio apenas na falha do goleiro Dalberson em cobrança de falta de Hulk no último minuto. Um verdadeiro castigo diante da boa atuação do goleiro americano.
Apesar do empate no último lance da partida, o América-MG tem motivos para comemorar. A equipe conseguiu competir diante de um adversário qualificado e apresentou melhoras no sistema defensivo (um dos pontos fracos do Coelho no ano passado).
Enquanto isso, o Atlético-MG parece estagnado e sem saber como melhorar seu desempenho com e sem a bola. E nesse ponto, todos os holofotes apontam para Luiz Felipe Scolari.
Felipão também precisa se ajudar
Este que escreve entende bem que todas as equipes ainda estão em início de temporada e que os campeonatos estaduais são sim complicados para as equipes de maior investimento.
A questão aqui é que Felipão parece um pouco deslocado da realidade. Ainda mais quando rechaça as críticas de quem não foi ou não pôde ir à Arena Independência ver o clássico. Se o treinador erra no âmbito tático, também erra (e feio) na escolha das palavras.
A impressão é a de que treinador atleticano parece desgastado. Mas é preciso deixar claro que a paz só retornará à Cidade do Galo com uma necessária melhora nos resultados.
Não há outro caminho. E para jogar e vencer bem, é preciso deixar a “corneta” de lado, baixar a cabeça e trabalhar. O Atlético-MG pode fazer muito mais do que vem fazendo em 2024.