Seleção olímpica tem potencial, mas precisa de mais consistência e jogo coletivo
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as ideias de Ramon Menezes nesse início de Torneio Pré-Olímpico na Venezuela
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as ideias de Ramon Menezes nesse início de Torneio Pré-Olímpico na Venezuela
A vitória magra (e mais sofrida do que o esperado) da seleção olímpica sobre a Bolívia nos diz muita coisa sobre o trabalho de Ramon Menezes. Apesar dos grandes talentos à disposição do treinador, a impressão que ficou da partida é a de que falta consistência ao time Sub-23 do Brasil.
Isso porque este que escreve já fazia o alerta para algumas das escolhas do treinador brasileiro aqui mesmo neste espaço. O período de treinamentos na Granja Comary e na Venezuela provaram que a lista de convocados (mesmo recheada de ótimos nomes) tem algumas lacunas. Principalmente no meio-campo, onde Ramon Menezes não conseguiu encontrar um nome confiável para fazer a ligação do setor com a dupla de ataque formada por John Kennedy e Endrick.
A atuação da seleção olímpica na vitória sobre a Bolívia também deixou claro que o time ainda depende demais do brilho individual dos jogadores. E isso pode ser um problema já na próxima rodada, diante da Colômbia, no Estádio Brígido Iriarte, em Caracas. Muita coisa precisa mudar na equipe de Ramon Menezes.
Escalação inicial e primeiros problemas de ordem tática
Ramon Menezes fechou o time titular com Andrey Santos e Bruno Gomes na proteção da zaga e Marquinhos e Guilherme Biro fechando os lados e abrindo o corredor para as descidas de Marlon Gomes (que jogou improvisado na lateral-direita) e Kaiki Bruno pelos lados. Sem a bola, o Brasil se fechava em duas linhas com Endrick e John Kennedy mais avançados. Em números, um 4-4-2 que lembrava um 4-2-4 que encontrou certa dificuldade para fechar os espaços por dentro.
O grande problema dessa formação é que ela exige demais dos volantes. Além de fechar a entrada da área, eles precisam pisar na área e ajudar na criação das jogadas por dentro. Bruno Gomes ficou mais contido e Andrey Santos era quem mais se soltava no meio-campo brasileiro. Aliás, sempre que o camisa cinco se lançava para o campo ofensivo, a Seleção Olímpica ganhava consistência por conta da troca de posições entre John Kennedy e os pontas.
Mesmo assim, ainda era pouco para superar a forte marcação da (não mais do que esforçada) Bolívia. Além disso, fosse o adversário da última terça-feira (23) um pouco mais qualificado, as coisas poderiam ter sido muito diferentes. Principalmente nos espaços generosos que Andrey Santos deixava às suas costas e Bruno Gomes precisava se desdobrar para fazer a cobertura. Nesse ponto, a seleção olímpica ainda precisa de muitos ajustes.
Sensível melhora com as mudanças, mas ainda sem convencer
Ramon Menezes sacou Marquinhos e Guilherme Biro no segundo tempo e mandou Maurício e Gabriel Pec para o jogo. Com dois jogadores mais descansados e mais acostumados a explorar o jogo por dentro, a seleção olímpica cresceu de produção e ganhou um pouco de consistência. Pelo menos em alguns momentos, o 4-4-2 inicial deu lugar a um 4-1-3-2 mais nítido com os avanços de Andrey Santos. Foi o melhor momento da equipe na partida.
Mesmo assim, o problema da compactação persistia. Talvez pensando em dar sangue novo para o time, Ramon Menezes sacou John Kennedy (que se desdobrou recuando para fazer o papel de “camisa 10”) e mandou Gabriel Pirani para o jogo. Sem a dinâmica do atacante do Fluminense, a seleção olímpica caiu demais e sofreu com as investidas da Bolívia no final da partida por conta do meio-campo esvaziado e dos problemas coletivos já mencionados.
Há como se compreender a atuação mais nervosa e mais abaixo do esperado por se tratar da estreia da equipe no Pré-Olímpico da Venezuela. Mesmo assim, a equipe de Ramon Menezes poderia ter apresentado um futebol mais sólido e menos desorganizado contra a Bolívia. Difícil não concluir que o gol de Endrick logo aos quatro minutos do primeiro tempo condicionou todo o restante do jogo e que o Brasil pode sofrer diante de adversários mais fortes.
E o que esperar do Brasil no jogo contra a Colômbia?
Está claro para este que escreve que a seleção olímpica tem sim virtudes e muito potencial. Mas ainda falta um jogo coletivo mais consistente. Isso pode vir com o tempo (através do entrosamento) e também dos ajustes que Ramon Menezes pode fazer. A formação escolhida pelo treinador esvaziou o meio-campo e sobrecarregou os volantes. Pode ser o caso se mudar o desenho tático ou até mesmo em mais minutos para Maurício e/ou Alexsander.
Este que escreve não espera uma atuação de encher os olhos. Apenas que a seleção olímpica apresente algo além da dependência das individualidades. Se Ramon Menezes der consistência e encontrar soluções para alguns dos problemas apresentados anteriormente, já será meio caminho andado para se pensar na vitória sobre a Colômbia nesta sexta-feira (26).