Mal foi anunciado pelo PSG, o zagueiro Lucas Beraldo já foi à campo. E já ganhou um título.
Um dia após sua apresentação oficial, o brasileiro atuou cerca de trinta minutos — acionado no lugar do lesionado Skriniar — na Supercopa da França, que a equipe parisiense conquistou ao bater o Toulouse.
Ainda que o ex-São Paulo mostre um futuro promissor na carreira, a precocidade da participação do jovem jogador fala mais do Paris Saint-Germain do que necessariamente da sua nova contratação.
Isso porque Beraldo acertou com o PSG poucos dias depois de seu compatriota, o volante Gabriel Moscardo, do Corinthians, que só não foi anunciado oficialmente por conta de uma lesão no pé detectada nos exames pré-assinatura de contrato.
Pela dupla, que não ultrapassa os 40 anos se somadas suas idades, o Paris se comprometeu a pagar pouco mais de 50 milhões de euros. Um investimento que pode parecer bem baixo no futuro. Ainda mais se considerarmos que os jovens podem moldar os próximos anos do clube.
Depois de anos de gestões confusas, bilhões de euros torrados em contratações que acabaram por dar resultados esportivos bem abaixo do esperado, o PSG sinaliza, com a dupla, uma nova gestão. E que aparenta ter em um dos seus principais concorrentes uma inspiração clara: o Real Madrid.
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O ‘modelo Real Madrid’
Em 2018, o Real Madrid anunciou a contratação de Rodrygo. O atacante, com 17 anos na época, só se juntaria ao time no ano seguinte, à exemplo de seu compatriota, Vinícius Júnior, anunciado em 2017 e parte do elenco madridista na temporada que se sucedeu.
Inicialmente contratados sob o viés do que parecia ser uma missão pessoal do presidente do Real, Florentino Pérez, de não deixar escapar o “próximo Neymar” do futebol brasileiro, os dois jogadores não só assumiram o protagonismo do time nos anos posteriores como consolidaram o modelo que parece inspirar o PSG.
Vini Jr e Rodrygo, afinal, não foram reforços “de oportunidade” ou pensados para serem opções do elenco. Ora, o primeiro desembarcou na Espanha e o segundo firmou o acordo no mesmíssimo período em que Cristiano Ronaldo deixou o clube espanhol rumo à Juventus, da Itália.
Com o tempo, a dupla foi se tornando essencial para o desempenho do Real Madrid, substituindo tanto o craque português como o galês Gareth Bale e formando, enfim, um novo ataque com Benzema.
A importância dos dois jogadores, aliás, ficou clara na conquista da Champions League 2021-22. O “Raio” foi o protagonista de uma das mais espetaculares viradas da história da competição, contra o Manchester City, na semifinal; Vini, titular na campanha, foi o autor do gol do título, contra o Liverpool.
O sucesso dos brasileiros foi tanto que o Real Madrid estendeu o plano para o meio campo. Em 2021, chegou Camavinga, de 18 anos; em 2022, após a conquista da UCL, Tchouaméni.
A dupla, dessa vez francesa, se junta ao uruguaio Valverde para substituir, aos poucos, a consagrada trinca de meio de campo madridista formada por Modric, Kroos e Casemiro.
De quebra, em 2022 e em 2023 foram contratados Endrick e Arda Güller, respectivamente, também antecipando uma renovação no setor ofensivo. Enfim, uma gestão que se assemelha a uma engrenagem bem lubrificada, e que pode ser o futuro do PSG.
Novo modelo no PSG?
Da mesma maneira que o Real Madrid, o clube parisiense não parece ter contratado Lucas Beraldo e Gabriel Moscardo por oportunidades de mercado ou para vencer a concorrência.
Além de capacitados tecnicamente e já testados na elite do futebol brasileiro, como mostrado em 2023 por São Paulo e Corinthians, os dois representam investimentos em setores deficitários do Paris Saint-Germain.
Aos 20, Beraldo pode representar o futuro da defesa do PSG, que tinha somente jogadores com 28 anos ou mais em Marquinhos, Kimpembe, Skriniar e Lucas Hernández.
Aos 18, Moscardo reforça o setor mais problemático dos últimos anos em Paris, em que poucos jogadores de fato se consolidaram. Mais ainda, pode formar, à exemplo de Camavinga, Tchouámeni e Valverde, no Real Madrid, um meio de campo do futuro, com Zaire-Emery (17 anos) e Manuel Ugarte (22).
Claro que o tempo dirá se os brasileiros de fato seguirão os passos dos compatriotas na Espanha e se tornarão protagonistas no Paris Saint-Germain. Mas o plano em si mostra uma gestão diferente do todo-poderoso clube francês. Uma gestão que, se bem sucedida, ameaça o próprio exemplo que parece ter se inspirado.