Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca a derrota para o Villarreal e o desgaste interno do treinador catalão
A impressionante derrota do Barcelona para o Villarreal neste sábado (27) Estádio Olímpico Lluís Companys só não causou choque maior do que as palavras de Xavi Hernández após a partida. O treinador catalão anunciou que irá deixar o clube ao final da temporada.
Não deixa de ser mais uma consequência do caos que se instalou no Barça depois da saída de Messi para o Paris Saint-Germain em 2021. Apesar da conquista da Supercopa da Espanha e da La Liga na temporada 2022/23 (com Xavi no comando), o clube não conseguia mais se impôr nas competições internacionais. Foi eliminado na fase de grupos de duas UEFA Champions League e só conseguiu atingir as quartas de final da Liga Europa de 2021/22.
Essa falta de regularidade, o excesso de contratações e a falta de espaço para os mais jovens acabaram cobrando seu preço. Xavi Hernández tem sua parcela de culpa, mas o anúncio da sua saída tem mais a ver com os bastidores do que com as quatro linhas.
A anatomia de mais uma derrota impactante
Vale lembrar que o Barcelona já sofria com as críticas mais pesadas depois da goleada sofrida na final da Supercopa da Espanha (diante do Real Madrid) e a eliminação na Copa do Rey diante do Athletic Bilbao. Precisando de uma vitória para acalmar os ânimos, Xavi Hernández mandou o Barça a campo com várias mudanças. As mais significativas foram as entradas de João Félix e Oriol Romeu nos lugares de Pedri e Ferrán Torres.
É interessante notar que Gündogan era quase um “camisa dez” quando o Barcelona tinha a posse da bola. Mas o grande problema seguia sendo o sistema defensivo. Seja com Christensen, com Ronal Araújo ou com qualquer outro nome, a última linha sofre demais com a falta de coordenação e de cobertura do meio-campo. O Villarreal, por sua vez, foi encontrando espaço e se soltando aos poucos no Estádio Olímpico Lluís Companys.
O veloz Ilias Akhomach encontrava espaços generosos às costas do jovem Héctor Fort pela direita e a dupla de ataque formada por Gerard Moreno e Alexander Sörloth sempre levava perigo quando recebia a bola. O Villarreal já merecia estar vencendo quando teve um gol anulado por um impedimento bem discutível aos 23 minutos do primeiro tempo. Mas o mesmo Gerard Moreno abriu o placar pouco antes do intervalo. O Barcelona seguia mal em campo.
Sensível melhora com as mexidas e naufrágio mental no fim
Xavi Hernández promoveu quatro mexidas antes dos quinze minutos da segunda etapa. João Cancelo, Ferrán Torres, Cubarsí e Pedri foram para o jogo e deixaram o Barcelona um pouco mais consistente na construção das jogadas. Tanto que a equipe blaugrana voltou ao conhecido 3-2-5 utilizado várias vezes ao longo dos últimos anos, com Yamal e Cancelo abrindo o campo, Gündogan e Ferrán próximos de Lewandowski e Pedri armando o jogo com Frenkie de Jong.
No entanto, a defesa ainda era a grande dor de cabeça de Xavi Hernández. Vide a falha incrível de João Cancelo no lance do segundo gol do Villarreal (marcado por Akhomach). Mesmo arrancando forças para virar a partida com gols de Gündogan, Pedri e Bailly (contra), o Barcelona ainda se mostrava extremamente frágil quando era atacado. E esse não era o único problema. Os nervos já não estavam tão controlados assim.
É possível afirmar sem medo de parecer presunçoso ou leviano que o gol de empate do Villarreal simplesmente destruiu a concentração do Barcelona. A cobertura defensiva já apresentava problemas quando Morales achou Alexander Sörloth entre Cubarsí e Ronald Araújo. O norueguês viu Gonçalo Guedes atacando o espaço às costas do compatriota João Cancelo e fez o passe preciso. O Barça de Xavi Hernández simplesmente derreteu.
A atuação do sistema defensivo no gol de Alexander Sörloth também é mais um ponto que comprova a tese deste que escreve. Além dos problemas táticos, o Barcelona não contava com quem passasse calma ao time. E sem uma referência técnica em campo, as coisas ficariam ainda mais complicadas. O gol de Morales (marcado aos 56 minutos do segundo tempo) praticamente definiu o futuro da comissão técnica.
O desabafo do “torcedor” Xavi Hernández
As palavras sinceras de Xavi na entrevista coletiva também revelam o lado torcedor do treinador catalão. Entender que o momento é de mudança e tirar o time de campo é para poucos. No entanto, este que escreve ainda insiste na tese levantada no início desta análise. A saída de Xavi Hernández é mais uma consequência do caos que tomou conta do Barcelona nesses últimos anos. Não há continuidade e isso é um problema sério.
Como pensar na montagem de um time competitivo se o entra e sai de jogadores é frenético? Ou melhor: como pensar em reconquistar a Europa se a diretoria blaugrana segue parada no tempo? O anúncio da saída de Xavi Hernández é a resposta para quem acha que basta juntar uma porção de jogadores dentro de campo e dar-lhes a bola. É preciso planejar de maneira séria.