Pré-Olímpico da Venezuela será a prova de fogo de Ramon Menezes à frente da Seleção Sub-23
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o grupo escolhido para tentar uma vaga nos Jogos Olímpicos de Paris
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o grupo escolhido para tentar uma vaga nos Jogos Olímpicos de Paris
Apesar do prestígio dentro da CBF por conta do título do Sul-Americano Sub-20 no começo de 2023 e da medalha de ouro no Pan-Americano de Santiago, o trabalho de Ramon Menezes à frente da Seleção Brasileira Sub-23 não pode ser considerado ótimo. Razoável talvez seja o melhor adjetivo. Principalmente quando se percebe a queda no desempenho da equipe canarinho diante de adversários mais qualificados (como aconteceu na Copa do Mundo Sub-20). Além disso, a convocação para o Pré-Olímpico da Venezuela deixa mais dúvidas do que certezas por conta de algumas das escolhas do treinador nos nomes escolhidos e do que se viu em campo nesses últimos meses.
A verdade é que Ramon Menezes segue agarrado a nomes que estiveram em campo na conquista do Sul-Americano Sub-20 e escolheu uma série de jogadores com características semelhantes. O que mais chama a atenção nos jogadores convocados é a ausência de jogadores de maior potencial criativo no meio-campo. Ou temos volantes de alta capacidade ofensiva (como Marlon Gomes, Andrey Santos, Danilo e Alexsander), ou temos jogadores mais voltados para o setor ofensivo. Talvez o único com essa capacidade de organizar o jogo seja Gabriel Pirani (ex-jogador de Santos e Fluminense e atualmente no DC United dos Estados Unidos). Muito pouco num universo de 23 nomes.
A falta desse nome que pode fazer a ligação do meio-campo com o ataque é a lacuna que mais chama a atenção deste que escreve. É lógico que competições de base exigem muita negociação e jogo de cintura por parte da CBF e da comissão técnica da Seleção Sub-23. Em determinados casos, os nomes divulgados não são aqueles que foram pensados num primeiro momento. Vitor Roque, João Gomes, Victor Hugo, Matheus França e vários outros poderiam ser muito úteis e talvez não demandassem tanto desgaste na negociação. Assim sendo, é provável que a lista divulgada na última quinta-feira (21) tragam os nomes que já tiveram sua liberação confirmada junto a cada clube.
Além disso tudo, as últimas atuações da Seleção Brasileira Sub-23 com Ramon Menezes foram marcadas pela irregularidade e por uma certa insegurança defensiva. Falando especificamente da decisão da medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos contra o Chile, o Brasil sofreu com problemas vistos no Sul-Americano Sub-20, como a falta de mobilidade no ataque e a dificuldade para controlar a profundidade na defesa. Apesar da qualidade de alguns nomes, a equipe sofreu demais com espaços entre a defesa e o ataque e com a falta desse jogador que fizesse a ligação entre os setores na equipe. Havia uma ideia interessante, mas ela não era bem executada.
Essa formação até poderia funcionar com Andrey Santos e Marlon Gomes, volantes que conseguem cobrar uma faixa grande do campo, mas acabava expondo demais a última linha em alguns momentos. Foi assim durante todo o período em que Ramon Menezes esteve à frente das equipes de base da Seleção Brasileira. Fora isso, ainda haviam problemas defensivos crônicos, como falhas na cobertura dos laterais, posicionamento ruim dos zagueiros nas bolas aéreas e pressão pós-perda descoordenada. Não foi por acaso que o Chile conseguiu encontrar tanto espaço na defesa brasileira no primeiro tempo da partida da decisão do ouro no Pan de Santiago.
Mas é preciso lembrar que o trabalho de Ramon Menezes também tem seus pontos positivos. A proposta mais ofensiva, de troca de passes curtos e de contra-ataques rápidos gerou bons momentos em determinadas partidas ao longo do ciclo. Nos Jogos Pan-Americanos, o time cresceu quando Matheus Nascimento passou a sair mais da área e fazer o trabalho de pivô para Figueiredo, Marquinhos e Guilherme Biro na inversão para uma espécie de 2-4-4 com os laterais mais próximos dos volantes, os pontas espetados e os setores mais próximos. Foi dessa forma que a Seleção Sub-23 conseguiu levar mais perigo nas partidas em Santiago e na final contra os donos da casa.
Ramon Menezes sabe que sua continuidade à frente da Seleção Sub-23 depende exclusivamente da classificação para os Jogos Olímpicos de Paris 2024. Ainda que ele tenha sido usado como “boi de piranha” na ausência de um treinador para a equipe principal, fato é que seu trabalho só pode ser considerado mediano e abaixo das expectativas criadas diante dos nomes à disposição. Apesar das críticas desde que escreve, o grupo escolhido para o Pré-Olímpico da Venezuela (que será disputado entre os dias 20 de janeiro e 11 de fevereiro de 2024) tem sim bons nomes e pode fazer um bom torneio. Mas vai depender de um jogo mais pautado na transição.
Endrick, John Kennedy, Andrey Santos, Danilo, Robert Renan, todos os escolhidos para o Pré-Olímpico da Venezuela fazem parte de uma geração talentosíssima de jogadores brasileiros. E diante do que se tem feito por aqui, a impressão que fica é a de que falta mais zelo, mais cuidado com esses jovens valores. Ramon Menezes terá uma prova e tanto para mostrar seu valor mais uma vez, mas além de entregar resultado, será preciso mostrar algo além de contar com a sorte e com o brilho individual desses atletas. Será preciso entregar desempenho coletivo.