Home Futebol Estratégia errada ou choque de realidade? Confira a análise da goleada do Manchester City sobre o Fluminense

Estratégia errada ou choque de realidade? Confira a análise da goleada do Manchester City sobre o Fluminense

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca as ideias de Pep Guardiola e Fernando Diniz na decisão do Mundial de Clubes

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Lucas Merçon / Fluminense FC

A decisão do Mundial de Clubes da FIFA fez com que redes sociais, imprensa e torcedores em geral se dividissem em dois grupos. O primeiro acredita que Fernando Diniz “morreu abraçado” com seus conceitos e defende que o treinador do Fluminense deveria ter repensado sua estratégia na goleada sofrida diante do Manchester City. E o segundo minimiza a goleada e usa o claro (e enorme) abismo financeiro que existe entre os dois clubes como justificativa para a goleada sofrida no King Abdullah. De toda maneira, o resultado não surpreende quem acompanha o futebol inglês mais de perto. Mas será que as coisas poderiam ter sido diferentes?

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O próprio Pep Guardiola levanta essa questão na entrevista coletiva após a decisão (o vídeo está no final do texto). E se o Manchester City não tivesse marcado o primeiro gol com quarenta segundos de jogo depois da bobeira de Marcelo? E se Cano não estivesse em posição de impedimento no lance em que ele sofre falta clara de Ederson dentro da área? Difícil entrar no mérito do “e se” e também não soar como “engenheiro de obra pronta” depois de um jogo como esse. O que se pode dizer é que o Fluminense se manteve fiel ao seu estilo, mas acabou caindo diante de um adversário que aproveitaria qualquer vacilo para marcar seus gols.

O que se viu no King Abdullah foi um Fluminense que não conseguiu seguir a cartilha do “erro zero” e da “concentração absoluta”. E como já foi dito várias vezes aqui mesmo neste espaço, o futebol é um esporte de cobertor curto. Fernando Diniz gosta de usar a chamada “paralela cheia”, isto é, aglomerar jogadores no setor onde está a bola para facilitar a saída de bola com passes curtos. A questão é que a marcação do Manchester City esteve bem encaixada desde o início do jogo, obrigando o camisa 12 a tentar a inversão de jogo que foi interceptada por Aké. Se Marcelo vacilou, os “Citzens” também tiveram seus méritos.

Marcelo recebe a bola no lado esquerdo e vê todos seus companheiros de equipe marcados. A virada de jogo era a única saída do camisa 12. Foto: Reprodução / YouTube / CazéTV
Marcelo recebe a bola no lado esquerdo e vê todos seus companheiros de equipe marcados. A virada de jogo era a única saída do camisa 12. Foto: Reprodução / YouTube / CazéTV

É óbvio que o “gol relâmpago” de Júlian Álvarez condicionou todo o restante da partida. Mesmo assim, já era esperado por este que escreve que o Fluminense fosse se manter fiel ao seu estilo mesmo se esse gol não tivesse saído. E a equipe de Fernando Diniz conseguiu manter mais a posse da bola e até encaixar algumas boas escapadas durante quinze minutos. No melhor momento do Tricolor das Laranjeiras, Martinelli interceptou passe de Ederson e acionou Ganso entre Rúben Dias e Rodri. Este viu Cano atacando as costas da zaga e fez o passe em profundidade. O impedimento do camisa 14 acabou anulando a penalidade que o Flu teria a seu favor.

O Fluminense avança a marcação, pressiona a saída de bola e consegue a sua melhor chance no primeiro tempo com Martinelli bem posicionado. Foto: Reprodução / YouTube / CazéTV
O Fluminense avança a marcação, pressiona a saída de bola e consegue a sua melhor chance no primeiro tempo com Martinelli bem posicionado. Foto: Reprodução / YouTube / CazéTV

Mesmo assim, a impressão que fica para este que escreve é a de que ainda parecia pouco para incomodar o Manchester City. Isso porque a equipe comandada por Pep Guardiola aumentou a vantagem aos 26 minutos com belíssimo passe de Rodri para Foden às costas de André. Ao tentar cortar o cruzamento, Nino acabou desviando a bola e tirando qualquer chance de defesa do experiente Fábio. E a grande verdade é que, mesmo com a belíssima defesa de Ederson em cabeçada de Arias, os “Citzens” controlavam completamente o jogo no King Abdullah e sem fazer muito esforço.

Fernando Diniz fez o que se esperava dele ao mandar o jovem John Kennedy no lugar de Keno logo depois do intervalo. Com o camisa nove em campo, o Fluminense ganhou mais força no ataque e tentou uma última reação se organizando em algo próximo de um 3-4-3 nos momentos de posse. Samuel Xavier abria mais o campo, Marcelo vinha por dentro (com Martinelli cobrindo o lado esquerdo) e Ganso se aproximava quase como um volante enquanto André recuava para fazer a “saída de três” com Nino e Felipe Melo. Mesmo assim, o Manchester City não dava trégua na marcação.

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John Kennedy entrou no lugar de Keno e André recuava para fazer a "saída de três". O Fluminense ganhou mais opções, mas ainda era pouco. Foto: Reprodução / YouTube / CazéTV
John Kennedy entrou no lugar de Keno e André recuava para fazer a “saída de três”. O Fluminense ganhou mais opções, mas ainda era pouco. Foto: Reprodução / YouTube / CazéTV

Fernando Diniz fez as substituições mais “óbvias” numa partida com essa exigência física. Sacou Marcelo, Ganso e Felipe Melo e mandou Diogo Barbosa, Alexsander e Lima para o jogo. O Fluminense ganhou fôlego e um estilo mais vertical por conta da característica do time que ficou em campo. Mesmo assim, o Manchester City parecia muito mais sólido e muito mais consciente nas tomadas de decisão. Até mesmo quando a equipe das Laranjeiras usava a “paralela cheia” para atrair a marcação, o time de Pep Guardiola se mostrava mais ciente do que deveria fazer. Os gols de Foden e Júlian Álvarez foram consequência natural do desgaste do Fluminense.

Mesmo perdendo o jogo e sem conseguir se impor em campo, o Fluminense se manteve fiel ao seu estilo e não abriu mão da "paralela cheia". Foto: Reprodução / YouTube / CazéTV
Mesmo perdendo o jogo e sem conseguir se impor em campo, o Fluminense se manteve fiel ao seu estilo e não abriu mão da “paralela cheia”. Foto: Reprodução / YouTube / CazéTV

É preciso dizer que a forma como o Fluminense se comportou em campo foi muito elogiada por Pep Guardiola após a decisão do Mundial de Clubes. O discurso levantava os vários pontos positivos da equipe de Fernando Diniz e deixava a dúvida levantada no início desta humilde análise. “E se” Marcelo não vacilasse logo no começo do jogo? “E se” o jogo fosse para o intervalo no zero a zero? “E se” o Flu empata a partida ainda no primeiro tempo? O futebol é movido a caos e todos nós sabemos disso. Saber se virar dentro dessa confusão incontrolável é faz com que equipes se mantenham no topo depois de tanto tempo. Exatamente como o Manchester City de Pep Guardiola.

A resposta para a pergunta do título é mais simples do que parece. O Fluminense se manteve fiel ao seu estilo, mas não conseguiu fazer o jogo de “erro zero” pedido por este que escreve após a vitória sobre o Al-Ahly. Ou se fazia um jogo perfeito em todos os sentidos ou as esperanças seriam todas depositadas na figura do “Sobrenatural de Almeida”. E vale lembrar também que até mesmo Pep Guardiola teve que rever certos conceitos quando esteve no Barcelona, no Bayern de Munique e até mesmo no próprio City. Será que não faltou um pouco dessa visão e flexbilidade em Fernando Diniz e em todo o elenco do Tricolor das Laranjeiras?

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A derrota (justíssima) sofrida diante do Manchester City deve ser encarada como lição valiosa para uma equipe que pretende se manter no topo. Principalmente para um dos treinadores mais estudados, celebrados e também criticados do continente neste momento. Fernando Diniz é considerado um “revolucionário” por muitos e um “charlatão” por outros. Este que escreve apenas prefere ver no técnico do Fluminense um profissional que ama o esporte. E esse fato foi festejado até mesmo pelo próprio Pep Guardiola. Seja como for, o Flu fez história e nada apaga isso.

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