Anunciado oficialmente na última quarta-feira (20) como novo técnico do Cruzeiro, o argentino Nicolás Larcamón tem um perfil que parece agradar bastante aos donos da SAF do clube. Assim como Paulo Pezzolano e Pepa, é jovem (tem apenas 39 anos), tem um estilo mais ofensivo e propositivo de pensar o futebol e parece se adaptar a diferentes contextos. Pelo menos foi o que se viu do seu trabalho no Club León com a conquista da Liga dos Campeões da CONCACAF no mês de junho e pelos bons trabalhos realizados no futebol mexicano. Não deixa de ser uma aposta interessante do Cruzeiro. E que pode dar certo se Larcamón tiver condições para tabalhar.
É interessante notar que o jovem treinador argentino (que tem passagens por clubes como Antofagasta, Huachipato e Puebla) organiza suas equipes de modo bastante próximo do pensamento da SAF que comanda o Cruzeiro. Desde o retorno do clube à Primeira Divisão, em 2022, os dirigentes procuram treinadores que montem times que:
- Pressionem a posse de bola adversária o tempo todo;
- Fazem a transição em alta velocidade para o ataque e não economizam nas finalizações;
- Saibam romper as linhas adversárias com passes curtos;
- Possuam uma pressão pós-perda bastante agressiva;
- E que valorizem a posse da bola o maior tempo possível.
Com Nicolás Larcamón não deve ser diferente. Seu trabalho à frente do León (mesmo com a eliminação diante do Urawa Red Diamonds nas quartas de final do Mundial de Clubes) é consistente e atende aos desejos da SAF celeste. Em um ano à frente de “La Fiera”, disputou 51 jogos com 22 vitórias, 13 empates e 16 derrotas (o que dá 51,6% de aproveitamento). Conseguiu imprimir seu estilo com certa eficiência na conquista da Liga dos Campeões da CONCACAF ao apostar num 3-4-3/5-4-1 bem ofensivo e de muita força pelos lados do campo com os alas Iván Moreno e Elías Hernández se juntando a Ángel Mena e Victor Dávila nas transições ofensivas.
Com a posse da bola, a ordem é trocar passes de maneira rápida e objetiva, apostando nas triangulações rápidas e no ataque do espaço às costas da última linha de defesa adversária. Na final da Liga dos Campeões da CONCACAF, o gol do título (marcado por Lucas Di Yorio ainda no primeiro tempo) nasceu de troca de passes em alta velocidade entre Ambríz, Lucas Romero e Dávila e no cruzamento preciso de Iván Moreno (que havia se lançado no espaço às costas da defesa do Los Angeles FC). O estilo mais vertical e agressivo casou perfeitamente com a características dos jogadores na conquista do título continental com uma vitória fora de casa.
A construção das jogadas é feita desde o campo de defesa com três zagueiros de bom porte e qualidade no passe pelo chão (no caso, Jaine Barreiro, Adonis Frías e William Tesillo). Os dois se aproximam constantemente da dupla de volantes (Fidel Ambríz e Lucas Romero, velho conhecido da torcida celeste) para trabalhar as jogadas e contam com a chegada dos pontas mais por dentro. Esse posicionamento ajuda a abrir espaços no campo adversário e o posicionamento de Lucas Di Yorio como a referência ofensiva, o León conseguia dar profundidade e amplitude nas suas jogadas de ataque. Em um ano, foram 74 gols em 51 partidas disputadas com Lacarmón no comando.
Defensivamente, no entanto, a equipe do León apresentou alguns problemas com Nicolás Larcamón. Nas 51 partidas disputadas sob seu comando, o León sofreu 59 gols (mais de um gol por partida). Muito disso vem da escolha por saltos na pressão quando o adversário tem a bola dominada para diminuir o espaço e fechar as linhas de passe. Quando essas perseguições não estão bem coordenadas, ela acaba abrindo espaços na linha de cinco defensores. Na decisão contra o Los Angeles FC, o experiente Rodolfo Cota foi importantíssimo com pelo menos três grandes defesas em lances onde a defesa do León vacilou demais na marcação e nos encaixes.
De toda maneira, Nicolás Larcamón chega ao Cruzeiro com a chancela da SAF que comanda o clube e dentro do perfil que ela procura para comandar o time. Treinadores jovens, que saibam se adaptar a diferentes contextos e montar equipes competitivas. O argentino de 39 anos se encaixa bem nesse quesito embora ainda passe a impressão de não possuir a “casca” necessária para comandar uma equipe de massa no futebol brasileiro e com toda a pressão que esse trabalho traz. Ele tem boas ideias, sabe montar equipes competitivas e demonstra ter capacidade de gerir um elenco mais estrelado e qualificado do que teve no Club León, por exemplo.
Mesmo assim, ele vai precisar de tempo e paciência para implementar seus conceitos. A aposta em nomes como Paulo Pezzolano e Pepa seguiu essa linha da SAF do Cruzeiro embora a escolha por Zé Ricardo e Paulo Autuori (claramente num papel de “bombeiro”) indiquem que os dirigentes celestes não estejam dispostos a esperar tanto por desempenho e resultados. Nicolás Larcamón se apresenta apenas no dia 5 de janeiro junto com todo o elenco da Raposa. Até lá, muita coisa vai acontecer em termos de contratações e planejamento para a próxima temporada.