Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Arthur Elias e os problemas do Brasil no jogo desta terça-feira (31)
Ao contrário do que aconteceu no último sábado (28), a Seleção Feminina fez um jogo muito ruim diante do Canadá. E essa atuação bem abaixo do esperado pode ser facilmente explicada por uma série de fatores que veremos a seguir. A questão é que todos eles partem que um ponto em comum que é a clara necessidade de mudança de pensamento na equipe. Arthur Elias chegou há pouquíssimo tempo e seria até leviano fazer análises mais aprofundadas sobre esse seu início de trabalho. Por outro lado, está claro para este que escreve e para quase todo amante do futebol feminino que já passou da hora do Brasil olhar para a frente, mudar o discurso e largar algumas mãos.
Isso porque ficou claro para todos aqueles que acompanharam o jogo desta terça-feira (31). A Seleção Feminina teve bons momentos na primeira etapa, quando teve intensidade e calma para buscar os espaços às costas da última linha. Faltou finalizar mais e ter mais calma nas tomadas de decisão. No entanto, o panorama mudou drasticamente quando Arthur Elias manteve Cristiane e Marta em campo durante alguns minutos da segunda etapa. Esses foram os piores momentos da equipe diante do Canadá e não foi por acaso que o time de Bev Priestman justo nesse período.
Muito da intensidade e do futebol razoável vistos nos primeiros 45 minutos se devem à formação mandada a campo por Arthur Elias. O treinador repetiu o 3-4-2-1 da partida de sábado (28) com algumas mudanças. Cristiane, Geyse, Tamires e Luana deixaram o time para as entradas de Gabi Nunes, Bia Zaneratto, Yasmim e Angelina. Do outro lado, o Canadá iniciava o jogo com Jessie Fleming no banco de reservas e Bev Priestmann apostava num time mais intenso para fechar os espaços na frente da área. Apesar do primeiro tempo sem emoções, o Brasil se comportou bem.
Mesmo sem fazer um jogo com a mesmo intensidade que vimos no segundo tempo da vitória no final de semana, a Seleção Feminina conseguia criar boas chances e ficar um tempo considerável com a bola. Boa parte dessa boa atuação passava pelos pés de Gabi Nunes. A camisa 23 se movimentava bastante no comando de ataque e abria espaços com frequência para a chegada das companheiras de equipe. Principalmente Marta, que jogou mais pelo lado esquerdo. Adriana e Bia Zaneratto fazia boa dupla na direita e trocavam de posições a todo instante naquele setor. E mais atrás, Ary Borges distribuía bem os passes e Angelina mostrava a sua importância no meio-campo da Seleção Feminina.
É verdade que o Brasil teve uma leve queda de rendimento no final da primeira etapa, mas não foi nada que comprometesse o jogo. Aliás, esses primeiros quarenta e cinco minutos foram marcados por um jogo mais truncado no meio-campo e por poucas chances. Talvez a melhor dela tenha sido a finalização de Marta à esquerda do gol de D’Angelo (depois de bela jogada de Gabi Nunes). Depois do intervalo, no entanto, eu e você veríamos a realidade bater com toda a força na porta da Seleção Feminina. E isso passa pelas substituições dos dois treinadores.
A técnica Bev Priestman sacou a Rose Regan e mandou Jessie Fleming para o jogo. O Canadá ganhou muito mais qualidade no passe com a camisa 17 e passou a controlar mais as ações no meio-campo. Do outro lado, Arthur Elias tirava completamente a intensidade da Seleção Feminina no ataque com as entradas de Cristiane e Tamires nos lugares de Gabi Nunes e Yasmim respectivamente. Com um time mais pesado, Angelina e Ary Borges ficaram sobrecarregadas na proteção da zaga e Fleming teve espaço suficiente para organizar as jogadas de ataque no Canadá.
As entradas de Deane Rose e Lacasse (jogadoras mais leves e que “atacam” mais o espaço) expuseram ainda mais a falta de intensidade da Seleção Feminina na marcação. Vale lembrar também que o gol de Hiutema nasceu de bola de bote errado de Rafaelle na intermediária e dos problemas da equipe no bloqueio do espaço entrelinhas. Fora isso, Marta não teve o pique necessário para ajudar Tamires na marcação em cima de Lawrence no lado direito. Com o Brasil mais pesado e com tantas dificuldades para fazer a recomposição defensiva, a derrota acabou sendo inevitável. Ainda mais quando nosso meio-campo concedeu tanto espaço para Jessie Fleming acionar o trio ofensivo canadense.
Arthur Elias tentou responder com as entradas de Debinha, Bruninha, Duda Sampaio e Gabi Portilho, mas o time perdeu completamente a organização e a quase toda a sua força ofensiva com as substituições. Fora isso, os problemas para controlar a profundidade foram expostos mais uma vez com o gol marcado por Deanne Rose aos 43 minutos da segunda etapa. Se o primeiro tempo da Seleção Feminina foi de razoável para bom, o segundo tempo nos mostrou que a realidade está se fazendo cada vez mais presente. A forma como a equipe jogou depois das substituições escancarou o fato de que algumas jogadoras simplesmente não conseguem entregar aquilo que o treinador brasileiro deseja.
Resta saber quais conclusões que Arthur Elias tirou desses dois amistosos. Num âmbito geral, essa Data-FIFA não surpreendeu em matéria de resultados e atuações individuais. Certo é que o campo nos mostrou aquilo que já sabíamos há muito tempo. É preciso largar certas mãos e preparar o futuro da Seleção Feminina antes de mais um fracasso em competições internacionais. as jogadoras receberam aquilo que queriam. Um treinador de estilo ofensivo e futebol mais solto. Chegou a hora de entregar desempenho e dar menos desculpas esfarrapadas.