Botafogo tropeça nas próprias pernas mais uma vez em empate frustrante contra o Santos
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a partida disputada no Rio de Janeiro e as escolhas de Tiago Nunes e Marcelo Fernandes
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a partida disputada no Rio de Janeiro e as escolhas de Tiago Nunes e Marcelo Fernandes
É cada vez mais difícil explicar o que acontece com o Botafogo. Este que escreve chegou a comentar na terapia que essa reta final de Brasileirão do Glorioso seria um ótimo “case” para estudo no campo da psicologia esportiva. Isso porque não é a primeira vez em que o escrete alvinegro começa bem, domina o jogo, desperdiça chances e acaba punido com o empate ou a derrota nos minutos finais. Foi assim contra o Palmeiras, contra o Grêmio e neste domingo (26) contra o competitivo Santos de Marcelo Fernandes. A única certeza desse colunista é a de que a missão de Tiago Nunes é muito mais complicada do que parece. Principalmente na recuperação da confiança dos jogadores.
O panorama é praticamente o mesmo. A equipe que vencia seus jogos com grandes atuações individuais de Lucas Perri, Adryelson e (principalmente) Tiquinho Soares no primeiro turno, e parece ter sentido demais a saída de Luís Castro e todas as trocas no comando técnico. Fora isso, as viradas históricas sofridas para Palmeiras e Grêmio (ainda sob o comando de Lúcio Flávio), e o jejum de oito rodadas sem vitórias só aumentaram a pressão para cima de um elenco que pediu por mudanças nos tempos de Bruno Lage e viu toda a vantagem que tinha na liderança ruir em pouco tempo.
A verdade é que o futebol é cruel demais com quem brinca com a sorte. E essa parece ser a sina do Botafogo. O jogo disputado neste domingo (26) explica isso. Sem poder contar com Marçal (lesionado) e Hugo (suspenso), Tiago Nunes apostou num 3-4-1-2 que trazia Victor Sá e Tchê Tchê nas alas, Gabriel Pires e Marlon Freitas por dentro e Eduardo mais próximo de Tiquinho Soares e Eduardo. Do outro lado, Marcelo Fernandes mandava o Santos a campo num 4-4-2 que mais lembrava um anacrônico 4-2-2-2 em determinados momentos. Marcos Leonardo quase não foi acionado.
O que se via nos primeiros minutos era um Botafogo mais incisivo e vertical, do jeito que eu e você vimos na primeira etapa. O gol de Danilo Barbosa (marcado logo aos dez minutos de jogo) e a postura agressiva nos duelos deram a impressão de que a seca de vitórias finalmente iria acabar. Júnior Santos abria o corredor para Tchê Tchê, Eduardo abria o campo para armar as jogadas, Victor Sá cumpria papel tático importante pela esquerda e Tiquinho Soares com espaços na confusa defesa do Santos. Numa das chances desperdiçadas, Júnior Santos ataca o espaço aberto por Gabriel Pires num momento em que Camacho recebia atendimento fora de campo. No entanto, faltava qualidade.
Também pesava a favor do Botafogo a falta de criatividade do Santos com a posse da bola. Até levar o cartão amarelo, Nonato era o jogador que mais se apresentou para tentar as jogadas de ataque. Além disso, Marcelo Fernandes apostou alto com o posicionamento espetado dos laterais Lucas Braga e Kevyson (e o espaço às costas dos dois sempre que o adversário retomava a posse). Ao mesmo tempo, Soteldo não encontrava espaço por dentro e Marcos Leonardo não conseguia dar sequência às jogadas de ataque. Tudo conspirava à favor do Glorioso diante de sua torcida.
Até acertar o time depois do intervalo, Marcelo Fernandes viu o sistema ofensivo da sua equipe ser facilmente anulado pela linha de cinco defensores do Botafogo. A melhor chance da primeira etapa foi o chute de longa distância de Jean Lucas que Lucas Perri defendeu sem maiores problemas. Não foi por acaso que as entradas de Lucas Lima e Maxi Silveira deram mais criatividade ao Peixe e ajudaram a expor ainda mais a falta de confiança e de efetividade do seu adversário. Faltava ao Santos o que sobrava no Glorioso: agressividade e mais jogadas na direção do gol.
As mexidas de Marcelo Fernandes deixaram o Santos mais ofensivo, mas também deixaram a defesa desprotegida. Do outro lado, Tiago Nunes respondeu com as entradas de Janderson, Di Plácido e Luis Henrique nos lugares de Eduardo, Victor Sá e Tiquinho Soares, desfazendo o 3-4-1-2 inicial e apostando num 3-4-3 mais ofensivo e voltado para os contra-ataques. Nesse duelo tático, o treinador botafoguense foi levando a melhor já que Messias salvou o Peixe duas vezes quando João Paulo já estava praticamente batido. Mesmo tentando atacar mais, o Santos sofria com as investidas do Botafogo às costas de Rodrigo Fernández e Lucas Lima. Só que as chances perdidas cobrariam seu preço.
O gol marcado por Messias não era apenas o prêmio pela boa atuação do zagueiro santista. Era também o castigo pelas oportunidades desperdiçadas pelo Botafogo e também a prova de que alguma coisa não está bem com o time comandado por Tiago Nunes. Não é a primeira vez em que o Glorioso tropeça nas próprias pernas e permite a reação do seu adversário mesmo jogando mais e melhor do que ele durante boa parte do jogo. O escrete de Marcelo Fernandes tem seus méritos por tentar competir em cada lance e não desistir nunca de buscar o resultado. Mas é impressionante ver como o Botafogo se tornou uma equipe frágil emocionalmente. E olha que a equipe não fez uma partida ruim neste domingo (26).
Apesar de tudo isso, a disputa pelo título do Brasileirão ainda está completamente aberta. Principalmente por conta dos resultados dessa rodada que ainda mantém pelo menos seis equipes na briga. No entanto, se não quiser ser engolido pela concorrência, o Botafogo precisa recuperar a confiança e parar de se abalar com cada chance perdida e/ou gol sofrido. O que se vê em campo é uma equipe que parece “aceitar o destino” sem ao menos tentar alguma coisa antes do “juízo final”. Ainda há tempo. Mas é preciso mudar de postura. Principalmente na parte mental.