Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a lista de convocadas para a Data-FIFA de novembro divulgada na última sexta-feira (10)
Este que escreve sabe que é sempre muito complicado entender o que se passa na cabeça de um treinador de futebol. Se este for Arthur Elias, a tarefa se torna praticamente impossível por conta de todo seu trabalho à frente do Corinthians e sua quase incansável busca pela perfeição. E na Seleção Feminina não é diferente. A lista de convocadas para os amistosos contra Japão e Nicarágua na próxima Data-FIFA nos apresenta uma tentativa de se deixar a equipe brasileira ainda mais competitiva e de se corrigir os problemas apresentados nas duas partidas contra o Canadá. Principalmente na derrota por dois a zero sofrida no dia 31 de outubro, em Halifax.
Notem que a Seleção Feminina sofreu bastante nesse jogo específico exatamente no momento em que Marta e Cristiane estavam em campo. A necessidade de se “compensar” a falta de combatividade das suas veteranas já havia sigo apontada por este que escreve aqui mesmo neste espaço e por todos aqueles que acompanham a modalidade de maneira séria. A entrada da excelente Fleming (já no segundo tempo) ajudou a escancarar o problema tático que surgia quando a dupla estava em campo. Ao mesmo tempo, o 3-4-2-1 escolhido por Arthur Elias exige demais das volantes e das jogadoras que atuam pelos lados do campo. É uma formação que precisa de intensidade para funcionar.
É por isso que não é errado pensar que essa e outras questões que surgiram nos amistosos contra o Canadá influenciaram diretamente as escolhas de Arthur Elias. A começar pela ausência de Cristiane. A atacante do Santos não conseguiu se sair bem quando esteve em campo e viu Gabi Nunes exercer o papel que o treinador tanto pede das suas jogadoras de frente: mobilidade, intensidade nas trocas de passe e pressão forte na portadora da bola. A escolha pela juventude de nomes como Priscila (atacante do Internacional e artilheira da Libertadores Feminina) comprova essa tese. Assim como a escolha de outros nomes conforme veremos mais adiante.
GOLEIRAS => Letícia (Corinthians), Luciana (Ferroviária) e Camila (Santos)
DEFENSORAS => Rafaelle (Orlando Pride/EUA), Lauren (Kansas City/EUA), Antonia (Levante UD/ESP), Kathellen (Real Madrid/ESP), Bruninha (Gotham FC/EUA), Tamires (Corinthians) e Yasmim (Corinthians)
MEIO-CAMPISTAS => Luana (Corinthians), Ary Borges (Racing Louisville/EUA), Angelina (OL Reign/EUA), Duda Sampaio (Corinthians), Julia Bianchi (Chicago Red Stars/EUA) e Ana Vitória (Paris Saint-Germain/FRA)
ATACANTES => Bia Zaneratto (Palmeiras), Debinha (Kansas City/EUA), Adriana (Orlando Pride/EUA), Marta (Orlando Pride/EUA), Geyse (Manchester United/ING), Gabi Portilho (Corinthians), Eudimilla (Ferroviária), Gabi Nunes (Levante UD/EUA) e Priscila (Internacional)
Na humilde opinião deste que escreve, a convocação de Priscila prova que Arthur Elias quer sim encontrar uma maneira de fazer a Seleção Feminina jogar de maneira competitiva sem abrir mão da qualidade e experiência das veteranas. Assim como Gabi Nunes, a camisa 19 das Gurias Coloradas é o tipo de atacante que sabe jogar como referência, sabe usar bem a profundidade e ainda tem força para usar bem os lados do campo e atacar as costas da última linha adversária. Na partida contra o Corinthians (pelas semifinais da Libertadores Feminina), Priscila foi importante para puxar os contra-ataques da equipe muito bem comandada por Lucas Piccinato e na definição das jogadas.
Mas essa tentativa de se trazer mais combatividade à Seleção Feminina não se resume apenas ao sistema ofensivo. O retorno de Júlia Bianchi ao escrete canarinho nos mostra que Arthur Elias deseja mais força e mais imposição física no meio-campo brasileiro. Camisa cinco do Chicago Red Stars, a ex-jogadora do Palmeiras e do Avaí/Kindermann evoluiu bastante na sua passagem pela NWSL e vem jogando bem como volante na equipe comandada por Ella Masar seja num 4-2-3-1 ou num 3-4-3 bem semelhante ao usado por Arthur Elias na Seleção Feminina. Além da força na marcação, Júlia Bianchi se destacou em assistências e bons passes no meio-campo. Pode ser muito útil.
E ainda temos o retorno de Ana Vitória. Das convocadas, é a jogadora que menos vem tendo minutos pela sua equipe (o Paris Saint-Germain). Costuma vir mais do banco de reservas e acaba sendo utilizada no meio-campo ou um pouco mais adiantada no 4-3-3 costumeiro de Joselyn Precheur. Na goleada sobre o Lille (no dia 21 de outubro), entrou no lugaar de Sandy Baltimore e jogou como uma espécie de ponta pelo lado direito, liberando as subidas da lateral Jade Le Guilly e dando suporte defensivo para Garce Geyoro e Ramona Bachmann. Pela versatilidade, é uma jogadora que pode crescer muito sob o comando de Arthur Elias. Principalmente caso o time precise de fôlego no meio-campo.
Bruninha, Geyse, Eudimilla e a já mencionada Gabi Nunes são outras jogadoras que podem acrescentar muito na Seleção Feminina por conta da juventude, do vigor físico e da evolução tática e técnica que desenvolveram nos seus clubes. Diante do que se vê da lista divulgada na última sexta-feira (10), está claro para este que escreve que o futebol apresentado nas duas partidas amistosas contra o Canadá influenciou Arthur Elias na escolha do grupo que vai enfrentar o Japão e a Nicarágua na próxima Data-FIFA. A oportunidade dada às jogadoras mencionadas anteriormente prova a tese de que o técnico brasileiro quer sim deixar a equipe ainda mais competitiva.
De fato, o recorte de partidas ainda é muito curto para se avaliar com mais profundidade todo o trabalho feito por Arthur Elias na Seleção Feminina. O ciclo até os Jogos Olímpicos de Paris é mais curto e a margem de erro quase não existe. Isso também ajuda a explicar a manutenção da base utilizada por Pia Sundhage na Copa do Mundo Feminina. No entanto, se quiser que o Brasil jogue do jeito que acha o melhor, o treinador da equipe vai precisar de jogadoras que consigam executar o que ele pede. E isso diz muita coisa sobre essa lista.