Home Torcedoras Vitória sobre o Palmeiras e tetra da Libertadores Feminina: a despedida perfeita de Arthur Elias do Corinthians

Vitória sobre o Palmeiras e tetra da Libertadores Feminina: a despedida perfeita de Arthur Elias do Corinthians

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação das Brabas e a consagração definitiva do "Rei Arthur"

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.
Staff Images Woman / CONMEBOL

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O futebol sempre foi uma caixinha de surpresas repleta de histórias que dariam grandes sucessos no cinema. Coisa que fariam um Martin Scorsese ou um Steven Spielberg chorar de alegria. E a grande final da Libertadores Feminina se encaixa perfeitamente nesse grupo. A vitória do Corinthians sobre o Palmeiras no Estádio Pascual Guerrero foi a redenção de Arthur Elias. O treinador deixa o comando das Brabas e assume o comando da Seleção Brasileira e dá a melhor resposta para seus críticos: a conquista da tão sonhada “Glória Eterna”. É praticamente impossível não ver na partida deste sábado (21) mais uma dessas histórias que serão contadas por muito tempo. Simplesmente CINEMA.

É interessante notar que a decisão do torneio mais importante do continente teve todos aqueles ingredientes que formam um grande épico. Pênalti perdido por Vic Albuquerque logo no começo da partida, expulsão de Tarciane no segundo tempo, pressão insana do bom time do Palmeiras e as defesas quase sobrenaturais de Lelê (melhor em campo junto com Gabi Portilho na opinião deste que escreve). E já estava claro que Arthur Elias tinha um plano para parar o 3-4-3/5-4-1 bem organizado de Ricardo Belli. E ele começava na escalação e na formação do Corinthians em campo.

Com Gabi Zanotti jogando quase como uma “falsa nove” em alguns momentos, Luana no lugar de Duda Sampaio e Vic Albuquerque no lugar de Jheniffer, as Brabas se organizaram num 4-1-4-1 que fechava bem a entrada da área e que gerava superioridade numérica nos momentos ofensivos. A formação escolhida por Arthur Elias ajudou a isolar o trio ofensivo formado por Amanda Gutierres, Bia Zaneratto e Duda Santos do meio-campo. Sem Andressinha, Lorena Benítez foi mantida entre as titulares, mas o Palmeiras sentia demais a falta da talentosa volante na distribuição do jogo.

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O Corinthians entrou em campo organizado num 4-3-3 que fechava a entrada da área, fortalecia a marcação por dentro e liberava Gabi Zanotti. Foto: Reprodução / YouTube / GOAT
O Corinthians entrou em campo organizado num 4-3-3 que fechava a entrada da área, fortalecia a marcação por dentro e liberava Gabi Zanotti. Foto: Reprodução / YouTube / GOAT

Não demorou muito para que o Corinthians impusesse seu volume ofensivo. Gabi Portilho era a grande válvula de escape da equipe, sempre com arrancadas fulminantes a partir do lado direito, dribles e cruzamentos perigosos, como o que originou o gol de Millene aos 29 minutos do primeiro tempo. A jogada começou com belo passe de Tarciane do campo de defesa que encontrou a camisa quatorze se posicionando entre Katrine e Camilinha. Com o toque de primeira às costas da defesa palestrina e a jogada de linha de fundo, Millene apareceu no espaço aberto pela movimentação de Gabi Zanotti e Vic Albuquerque na profundidade. Letícia Moreno e Laís Estevam não acompanharam a descida da corintiana.

Tarciane lança, Millene escora e Gabi Portilho aparece às costas de Camilinha. O Corinthians usou bem o lado esquerdo da defesa do Palmeiras. Foto: Reprodução / YouTube / GOAT
Tarciane lança, Millene escora e Gabi Portilho aparece às costas de Camilinha. O Corinthians usou bem o lado esquerdo da defesa do Palmeiras. Foto: Reprodução / YouTube / GOAT

Quem via o jogo no Estádio Pascual Guerrero via um Corinthians que até concedia algum espaço na sua defesa, mas que se impunha na base do volume ofensivo e das boas trocas de passe. Ao invés da valorização da posse da bola, um estilo mais vertical e objetivo, que privilegiava as características das jogadoras que estavam em campo e encaixotavam o trio ofensivo do Palmeiras. Na volta do intervalo, a necessidade de se lançar ao ataque fez o time de Ricardo Belli se arriscar mais. Bia Zaneratto, Flávia Mota e Juliete desperdiçaram boas chances.

Mesmo assim, as Brabas pareciam entender melhor o que o jogo pedia. Ao invés da marcação forte na saída de bola do Palmeiras vista no primeiro tempo, o time de Arthur Elias baixou um pouco o bloco de marcação e seguiu explorando os espaços atrás do trio defensivo das Palestrinas. Vic Albuquerque, Millene e (principalmente) Gabi Portilho seguiam levando ampla vantagem nos duelos e criando boas jogadas de ataque. As escapadas rápidas pelo lado direito justificavam a postura mais cautelosa do Corinthians, que abriu um pouco da posse da bola no segundo tempo.

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Talvez a grande sacada de Arthur Elias foi o posicionamento de Gabi Portilho no segundo tempo. Ao invés de uma ponta espetada pela direita, a camisa 18 virou uma espécie de ala e ajudou bastante Katiuscia na marcação a Amanda Gutierres e Bia Zaneratto. Mesmo que o Palmeiras tenha ficado mais com a bola, a atacante desempenhou papel tático fundamental durante o tempo em que esteve em campo e ajudou demais no desafogo das jogadas. Enquanto isso, Ricardo Belli adiantava as linhas do seu 3-4-3 e viu sua equipe ganhar força sempre que Amanda Gutierres, Duda Santos ou Bia Zaneratto recuavam para buscar mais o jogo por dentro. Mesmo assim, faltava mais movimentação para superar a defesa corintiana.

Enquanto Ricardo Belli adiantou as linhas do seu 3-4-3 no Palmeiras, Arthur Elias transformou Gabi Portilho em ala para ajudar a defesa. Foto: Reprodução / YouTube / GOAT
Enquanto Ricardo Belli adiantou as linhas do seu 3-4-3 no Palmeiras, Arthur Elias transformou Gabi Portilho em ala para ajudar a defesa. Foto: Reprodução / YouTube / GOAT

Enquanto todo mundo pensava que a partida estava controlada, Tarciane (que vinha fazendo boa partida) levou o segundo amarelo de maneira até infantil e acabou expulsa. E isso com o time do Corinthians já sentido a intensidade da decisão e vendo o Palmeiras de Ricardo Belli crescer depois do intervalo. Arthur Elias mandou Duda Sampaio, Belinha e Andressa Pereira para o jogo e “estacionou um ônibus” na frente da área da goleira Lelê. Praticamente uma espécie de 6-3-0 que fechou os espaços como foi possível e tentou conter o ímpeto ofensivo do Palmeiras, que já contava com praticamente cinco atacantes depois das entradas de Letícia Moreno e Yamilla Rodríguez nos lugares de Poliana e Lorena Benítez.

O Corinthians "estacionou o ônibus" na frente da área depois da expulsão de Tarciane. O Palmeiras não teve organização para superar a retranca. Foto: Reprodução / YouTube / GOAT
O Corinthians “estacionou o ônibus” na frente da área depois da expulsão de Tarciane. O Palmeiras não teve organização para superar a retranca. Foto: Reprodução / YouTube / GOAT

Ainda houve tempo para Lelê salvar o Corinthians duas defesas cinematográficas em finalizações de Bia Zaneratto e Katrine e também para o elenco inteiro do Palmeiras reclamar de penalidade não marcada depois de toque de mão de Andressa Pereira dentro da área. Mesmo assim, a impressão que fica é a de que o roteiro já estava escrito. O Corinthians comemorava a quarta Libertadores Feminina de sua história e Arthur Elias dava a resposta que seus críticos pediram ao longo do ano. O primeiro deles é o próprio Ricardo Belli, com as acusações descabidas e sem sentido nenhum sobre um “favorecimento” das jogadoras do Timão na sua primeira lista de convocadas para a Seleção Feminina.

E o segundo é o grupo formado pela diretoria do Corinthians que fez o que fez depois que Arthur Elias e todo o elenco feminino se posicionaram contra a chegada de Cuca ao time masculino. Quem acompanhou esse período sabe muito bem que as coisas quase desandaram de verdade dentro do clube. Meses depois, o nosso “Rei Arthur” e todas as suas comandadas comemoram o quarto título sul-americano de um dos clubes mais vitoriosos do planeta. Este que escreve confessa que vai ser estranho não ver o treinador na beira do gramado nos jogos das Brabas.

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