Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Arthur Elias e Lucas Piccinato no jogaço desta quarta-feira (18)
Corinthians e Internacional protagonizaram aquele que talvez tenha sido uma das partidas mais emocionantes e mais disputadas do ano até o momento. Falo com tranquilidade. Principalmente pela forma como a equipe comandada por Lucas Piccinato se comportou durante os noventa e poucos minutos. Enquanto tiveram fôlego (e onze jogadoras em campo), as Gurias Coloradas incomodaram bastante as Brabas e deram a impressão de que poderiam superar um dos grandes favoritos ao título da Libertadores Feminina. O time de Arthur Elias está na final, mas isso não diminui em nada o feito do Internacional e da sua campanha magnífica na sua estreia na competição mais importante do continente.
É lógico que isso não tira os méritos do Corinthians e da sua cultura vencedora. Este que escreve ainda se impressiona com a capacidade de superação dessa equipe em contextos completamente desfavoráveis. Por outro lado, talvez seja exatamente por isso que a atuação das Gurias Coloradas na partida desta quarta-feira (18) precisa ser exaltada e aplaudida. Não é qualquer um que consegue incomodar as Brabas do jeito que vimos no Estádio Pascual Guerrero. E vale destacar que o primeiro tempo do Internacional foi praticamente perfeito em todos os aspectos.
Primeiro pela forma como o técnico Lucas Piccinato montou sua equipe. Um 4-3-3 que virava um 4-4-2 com o recuo de uma das pontas para o meio-campo dependendo do lado onde a bola está. Capelinha protegia muito bem a última linha, Djeni qualificava o passe, Belén Aquino era a válvula de escape que Katiuscia e Jaque Ribeiro não conseguiam parar e Priscila fazia troca de posição interessante com Fabíola Sandoval pelo lado direito (às costas de Yasmim). Além disso, as Brabas sofriam demais na saída de bola diante da marcação encaixada das Gurias Coloradas.
Com as volantes coloradas em cima de Gabi Zanotti e Duda Sampaio, o Corinthians começou a apostar nas bolas longas para Jheniffer e Millene brigarem no campo de ataque. A ideia funcionava quando as Brabas aceleravam o jogo, mas ainda faltava capricho e intensidade para concluir os lances. Do outro lado, para poupar fôlego, o Internacional se fechava com duas linhas com quatro jogadoras na frente da área da goleira Gabi Barbieri e mantinha a estratégia de fechar a marcação em cima das volantes corintianas. Aos 31 minutos, Gabi Zanotti não dominou bola no meio-campo, Belén Aquino partiu e passou para Priscila (artilheira da Libertadores Feminina) tocar na saída de Lelê.
E as Gurias Coloradas poderiam ter ampliado o placar antes do intervalo com Tamara Bolt e Letícia Moreno. Difícil não perceber que a equipe de Lucas Piccinato incomodava bastante o Corinthians com o encaixe na marcação e as bolas longas às costas da defesa. Aliás, esse cenário ajuda a explicar porque Arthur Elias resolveu sacar Jheniffer e Duda Sampaio do time logo aos 39 minutos do primeiro tempo. O objetivo com as entradas de Luana e Vic Albuquerque era bem claros: reforçar a marcação no meio-campo e dar mais mobilidade ao setor ofensivo.
Logo depois do intervalo, Arthur Elias mandou Gabi Portilho para o jogo no lugar de Jaque Ribeiro. Com Tamires jogando um pouco mais recuada, Yasmim avançando mais (quase como uma ponta pela esquerda) e Gabi Zanotti mais avançada (como uma “falsa nove”), as Brabas conseguiram se impor no campo de ataque e travar as investidas do Internacional. Lucas Piccinato já havia perdido Capelinha no intervalo e via Belén Aquino deixar o time no começo da segunda etapa. Apesar do cenário desfavorável, as Gurias Coloradas faziam o possível para segurar a vantagem.
E para piorar a situação do Internacional, a lateral Esquerdinha acabou levando o segundo amarelo depois de falta feia em cima de Vic Albuquerque. Lucas Piccinato não teve outra alternativa senão sacar Letícia Monteiro (já exausta) para a entrada da lateral Roberta Schroeder. Do outro lado, Arthur Elias respondia com Fernandinha no lugar de Millene. O gol de empate saiu pelo lado direito, onde Gabi Portilho fez bela jogada e cruzou na cabeça de Vic Albuquerque. Gabi Barbieri não conseguiu segurar dessa vez. Com Carlinha e Analuyza nos lugares de Priscila e FAbíola Sandoval, as Gurias Coloradas se fecharam na frente da área e suportaram a pressão corintiana até o apito final.
Na decisão por pênaltis, a força mental do Corinthians acabou falando mais alto depois que Vic Albuquerque acertou a trave. Zóio e Isa Haas desperdiçaram suas cobranças e viram as Brabas comemorar a classificação para mais uma decisão de Libertadores Feminina. Apesar de terem saído derrotadas, a campanha das Gurias Coloradas na competição e a atuação na partida desta quarta-feira (18) precisam ser exaltadas. Não é o resultado que vai diminuir o feito do escrete de Lucas Piccinato justo na primeira participação da equipe na competição sul-americana. Vimos grandes atuações, esquema de jogo sólido e muita disposição por parte das jogadoras. Que o projeto continue e ganhe ainda mais apoio.
E a grande final da Libertadores Feminina vai nos presentear com um jogo entre os dois últimos campeões da competição. Será uma grande oportunidade de vermos Corinthians e Palmeiras transformando completamente o ambiente no Estádio Pascual Guerrero no maior e mais importante Derby Feminino de todos os tempos. Se as Palestrinas de Ricardo Belli ganharam consistência e uma “alma copeira”, as Brabas de Arthur Elias possuem o espírito vencedor que ainda surpreende. É o tipo de jogo que tem tudo para entrar para a história da modalidade.