Home Futebol Empate contra a Venezuela prova que Seleção Brasileira ainda precisa de tempo, entrosamento e paciência

Empate contra a Venezuela prova que Seleção Brasileira ainda precisa de tempo, entrosamento e paciência

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Fernando Diniz e explica o que deu errado nesta quinta-feira (12)

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Fernando Diniz e explica o que deu errado nesta quinta-feira (12)

Não, o Brasil não fez uma boa partida contra a Venezuela e a atuação bem abaixo da crítica pode ser explicada de diversas maneiras. Havia o forte calor de Cuiabá, o gramado ruim da Arena Pantanal e o pouco tempo para que os jogadores entendam e executem bem a proposta tática de Fernando Diniz. Este que escreve entende bem que tudo isso pode ser encarado como “desculpa esfarrapada” para o empate desta quinta-feira (12) por aqueles que defendem o trabalho do treinador da Seleção Brasileira. Por outro lado, até mesmo o chamado “Dinizismo” exige paciência, entrosamento e tempo para ser assimilado por quem está dentro de campo. Mesmo com o equilíbrio cada vez maior no futebol de seleções.

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Fato é que ainda é difícil para este que escreve tirar alguma coisa de bom do empate contra a Venezuela. Talvez a afirmação de Bruno Guimarães no comando do meio-campo e a boa estreia de Yan Couto (substituto de Danilo, lesionado) se encaixem nesse grupo. Mesmo assim, o que se viu na Arena Pantanal nada mais foi o retrato de uma equipe que ainda está em processo de entendimento da proposta do seu treinador. O tal “Dinizismo” exige sim um comportamento diferente de quem está acostumado com outras filosofias. No entanto, o problema é mais profundo.

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É preciso deixar claro que a proposta tática de Fernando Diniz, apontada por muitos como o “resgate da essência do futebol brasileiro” (ainda que a grande maioria não consiga identificar essa “essência” com um mínimo de clareza), também apresenta pontos fracos. E eles ficaram bem visíveis na partida desta quinta-feira (12) diante de uma Venezuela que apenas se fechou na frente da sua área e apostou nas transições rápidas com bolas longas e ligações diretas para Machís, Rondón e Córdova no ataque da “Vinotinto”. Faltou organização e um pouco de paciência.

Fernando Diniz repetiu seu 4-2-3-1 costumeiro na Seleção Brasileira com Vinícius Júnior no lugar de Raphinha (cortado por lesão). Como era de se esperar, o Brasil mantinha a posse da bola e procurava encontrar espaços na retranca venezuelana aglomerando jogadores no setor onde estava a bola e trocando passes por baixo. O problema estava na insistência em jogar pelo lado esquerdo. Por mais que Danilo jogasse de forma muito mais ofensiva do que jogou com Tite, ainda faltava companhia para o camisa dois no lado direito. E não foram poucas as vezes em que Neymar, Vinícius Júnior e companhia insistiam em jogadas pelo meio quando poderiam fazer a virada de jogo e aproveitar os espaços da Venezuela.

A Seleção Brasileira aglomerou jogadores na esquerda e deixou Danilo mais isolado na direita. A Venezuela apenas se fechou na frente da área. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL
A Seleção Brasileira aglomerou jogadores na esquerda e deixou Danilo mais isolado na direita. A Venezuela apenas se fechou na frente da área. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL

Além da desorganização do time e das péssimas atuações individuais, faltava na Seleção Brasileira a conhecida pressão no portador da bola. Não foram poucas as vezes em que a “Vinotinto” encontrou espaços generosos às costas do meio-campo e teve superioridade numérica nos contra-ataques. Na prática, era possível dizer que o Brasil se defendia apenas com seis jogadores (ou até menos) em determinados momentos. Quem acompanha o trabalho de Fernando Diniz sabe bem que a recomposição defensiva é um dos grandes problemas nas suas equipes e que a falta de entrosamento e/ou a pressão pós-perda mais frouxa escancaram ainda mais essa fragilidade. Faltou também um pouco mais de pegada no meio.

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A Venezuela encontrou espaços generosos entre as linhas da Seleção Brasileira e conseguiu criar superioridade numérica em diversas oportunidades. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL
A Venezuela encontrou espaços generosos entre as linhas da Seleção Brasileira e conseguiu criar superioridade numérica em diversas oportunidades. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL

O gol marcado por Gabriel Magalhães até deu a impressão de que o Brasil finalmente conseguiria se acertar em campo. No entanto, a afobação e a desorganização seguiram se fazendo presentes, com muitos erros individuais e a insistência em jogar apenas por um lado do campo. O problema da recomposição defensiva ficou evidente no início do golaço marcado por Eduard Bello. Gerson, Neymar e Matheus Cunha sobem, o volante Cásseres se livra da pressão e encontra um verdadeiro latifúndio na frente da última linha de defesa. Com bastante espaço pela frente, o camisa 20 passa para Savarino e esse faz o cruzamento para Bello acertar uma bela bicicleta. Gol de empate que nasceu de uma sucessão de erros.

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Cásseres se livra de Gerson com facilidade e explora o espaço às costas do meio-campo da defesa brasileira. O gol de empate surgiu desse lance. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL
Cásseres se livra de Gerson com facilidade e explora o espaço às costas do meio-campo da defesa brasileira. O gol de empate surgiu desse lance. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL

Com o empate da “Vinotinto” na Arena Pantanal, todos os problemas mencionados anteriormente na Seleção Brasileira ficaram ainda mais visíveis. Ao mesmo tempo, a saída de Bruno Guimarães e Casemiro enfraqueceu demais o meio-campo e desorganizou ainda mais a saída de bola, fato que obrigava Neymar a recuar até quase a linha dos zagueiros para iniciar as jogadas. E a insistência em jogadas apenas por um lado continuou. Mesmo com Yan Couto se apresentando com frequência pelo lado direito para os passes em profundidade, Gabriel Jesus, Rodrygo e companhia mantinham a bola na esquerda. Com isso, o jogo fluiu muito pouco e Guilherme Arana pouco subiu ao ataque, permanecendo mais por dentro.

Mesmo com o time organizado no ataque, a Seleção Brasileira insistiu demais nas jogadas pela esquerda. Yan Couto foi pouco acionado pelo seu lado. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL
Mesmo com o time organizado no ataque, a Seleção Brasileira insistiu demais nas jogadas pela esquerda. Yan Couto foi pouco acionado pelo seu lado. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL

Conforme mencionado anteriormente, a atuação ruim do Brasil nesta quinta-feira (12) pode ser explicada por uma série de motivos que vão desde o calor em Cuiabá e o gramado ruim da Arena Pantanal até a falta de tempo necessário para assimilação dos conceitos de Fernando Diniz. Aliás, é sempre bom lembrar que respeitar os processos é importantíssimo em casos como esse. A Seleção Brasileira está tendo contato com um estilo de jogo completamente particular. É natural que o time oscile em situações como essas. Por outro lado, o fato dos últimos gols da equipe terem sido marcados nas jogadas de bola aérea e o aproveitamento ruim dos últimos camisas nove do escrete canarinho ainda preocupam bastante.

Além disso, o “Dinizismo” não está livre de falhas e também apresenta suas fragilidades. E só o tempo, o entrosamento e a paciência podem fazer com que essas falhas sejam corrigidas ou diminuídas na Seleção Brasileira. O empate contra a Venezuela deixou sim lições importantes. O momento é de recolhimento e aprendizado. A partida contra o Uruguai de Marcelo “El Loco” Bielsa vai exigir ainda mais concentração do Brasil. E os erros cometidos contra a Venezuela podem ser ainda mais fatais contra a Celeste Olímpica.

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