Com os Stones na plateia, Jude Bellingham prova que é sim o grande nome do Real Madrid na temporada
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira a atuação do camisa 5 merengue na virada sobre o Barcelona neste sábado (28)
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira a atuação do camisa 5 merengue na virada sobre o Barcelona neste sábado (28)
Este que escreve entende bem que o futebol é um esporte coletivo e que o discurso do “fulano carrega o time nas costas” costuma não refletir a realidade. Por outro lado, o que se viu no “El Clasico” deste sábado (28) chega perto disso. Jude Bellingham não fez “apenas” os dois gols do Real Madrid na virada sobre o Barcelona. O camisa 5 merengue nos presenteou com mais uma amostra do seu poder absurdo de decisão e do futebol de gente grande que vem jogando. Não foi por acaso que Bellingham calou a torcida blaugrana e fez os Mick Jagger e Ron Wood (membros dos Rolling Stones presentes no Estádio Olímpico Lluís Companys) ouvirem um sonoro “Hey Jude” (música dos Beatles) no final do jogo.
É óbvio que Carlo Ancelotti ainda busca a melhor formação para o Real Madrid depois da saída de Benzema para o Al-Ittihad (da Arábia Saudita). Não é por acaso que a falta de gols do setor ofensivo já incomoda o treinador italiano. E isso só comprova a importância de Bellingham na equipe merengue. Ele começou jogando como “enganche” num 4-3-1-2/4-3-3 que trazia Vinícius Júnior e Rodrygo mais à frente. Do outro lado, Xavi Hernández apostava num 3-4-3 com João Cancelo jogando quase como um ponta pela direita, Ferran Torres como “falso nove” e Gavi, Gündogan e Fermín López no meio-campo. Com mais volume de jogo, o escrete blaugrana conseguiu se impor logo no começo da partida.
O gol de Gündogan (marcado logo aos seis minutos do primeiro tempo) mostrou que o Real Madrid ainda sofre demais com a falta de concentração no início dos seus jogos e também que o sistema defensivo segue “sujeito a chuvas e trovoadas”. Só que vale destacar aqui a boa postura ofensiva do Barcelona no 3-4-3/5-4-1 montado por Xavi Hernández que lembrava um pouco o meio-campo em diamante (ou losango) com o português João Félix jogando à frente do meio-campo e com a chegada de Baldé e João Cancelo pelos lados. Tchouaméni (bastante recuado com relação a Valverde e Toni Kroos) não conseguiu bloquear o passe de Ferran Torres. Fora isso, Rüdiger e Alaba falharam no lance do gol do Barcelona.
Do lado merengue do “El Clasico”, Vinícius Júnior e Rodrygo eram bem anulados por Ronald Araújo (um dos melhores em campo na opinião deste que escreve) e Iñigo Martínez. Já Bellingham seguia longe do gol e via sua equipe parar na frente da linha de cinco defensores montada por Xavi Hernández. Na prática, o Real Madrid só levava algum perigo ao gol de Ter Stegen nas finalizações de média e longa distância e nas bolas lançadas para Carvajal às costas de Alejandro Baldé. Muito pouco para quem desejava recuperar a liderança do “Espanholão” do Girona e menos ainda para quem precisava superar seu maior rival na casa do adversário. Faltava profundidade e presença ofensiva.
Carlo Ancelotti começou a mudar a história da partida quando mandou Camavinga para o jogo e sacou Ferland Mendy. Com um lateral mais contido pela esquerda (e Valverde fechando bem o lado direito), Carvajal teve mais liberdade para subir ao ataque e explorar os problemas defensivos da defesa do Barcelona naquele setor. Cinco minutos antes de Bellingham acertar belo chute de fora da área e empatar a partida, Ancelotti substituiu Toni Kroos e Rodrygo por Luka Modric e Joselu. Finalmente o Real Madrid ganhava mais presença ofensiva e um meio-campo mais “brigador”. Era o que faltava para Bellingham crescer na partida. Companhia na armação das jogadas e profundidade no ataque.
Notem que Xavi Hernández também facilitou a vida de Carlo Ancelotti com as saídas de João Cancelo, Fermín López e João Félix para as entradas de Lamine Yamal, Oriol Romeu e Raphinha. O 3-4-3/5-4-1 bem organizado deu lugar a um 4-3-3 que concedeu ainda mais espaços para Modric e Carvajal no lado esquerdo da defesa (já que Vinícius Júnior seguia bem vigiado por Ronald Araújo no outro lado). Com Joselu puxando a zaga para trás e mais presença de área, Bellingham aproveitou bastante o espaço que teve à sua frente para apenas escorar o “passe” de Modric (que tirou Iñigo Martínez da jogada). Mais uma vez o Real Madrid descomplicava um jogo usando o poder de decisão do seu principal jogador.
Poucas vezes este que escreve viu um jogador chegar num clube do tamanho do Real Madrid e assumir a responsabilidade como Jude Bellingham assumiu. Não é o atacante goleador, mas é o meio-campista de decide jogos com bom posicionamento, intensidade na movimentação e um grande entendimento do que Carlo Ancelotti deseja da sua equipe. A opção do treinador italiano pelo 4-3-1-2 passa muito pela forma como o camisa 5 merengue vem entregando dentro de campo. Ao mesmo tempo, é o tipo de jogador que não precisa de muitos toques na bola para levar perigo. E também que não deixa a desejar defensivamente, já que foi importante na marcação em cima de João Cancelo e Fermín López pelo seu lado.
Bellingham decidiu o primeiro “El Clasico” da sua carreira com um “doblete” e uma ótima atuação coletiva. Ao mesmo tempo, também lembrou que colocar Mick Jagger na plateia não costuma ser uma boa ideia pelo histórico de “pé frio” do vocalista dos Rolling Stones. Se a torcida do Barcelona queria terminar ao som de “Satisfaction”, acabou tendo que aturar a torcida merengue enaltecendo seu camisa 5 e cantando “Hey Jude” a plenos pulmões no Estádio Olímpico Lluís Companys. Na “rinha de roqueiros”, venceu o time que tinha Bellingham.