Ainda é o começo do ciclo, mas atuação ruim contra o Uruguai liga o alerta na Seleção Brasileira
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica o que não funcionou no time de Fernando Diniz e aponta possíveis soluções
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica o que não funcionou no time de Fernando Diniz e aponta possíveis soluções
É sempre bom lembrar que estamos falando do início de um novo ciclo na Seleção Brasileira. São ideias novas de jogo e que precisam de tempo e paciência para serem implementadas. No entanto, nem isso serve como desculpa para a pífia atuação contra o Uruguai de Marcelo “El Loco” Biesa. Diante do que se viu nesta terça-feira (18), os jogadores ainda parecem desconfortáveis dentro da proposta de Fernando Diniz e sentiram demais a atmosfera hostil do Estádio Centenário e a lesão grave sofrida por Neymar ainda no primeiro tempo da partida. O momento é de reconstrução, mas a derrota (justíssima) para a Celeste Olímpica nos mostrou que o “Dinizismo” ainda tem um longo caminho pela frente.
O alerta está, de fato, ligado na Seleção Brasileira. Isso porque essa Data-FIFA deixou a impressão de que o time está andando em círculos e muito dependente do talento individual. Há uma diferença entre o que Fernando Diniz deseja e aquilo que é feito dentro de campo. A ausência de um jogo coletivo foi escancarada diante da pressão que o Uruguai colocou na nossa saída de bola e na forma como envolveu facilmente o nosso sistema defensivo no lance dos gols marcados por Darwin Núñez e De la Cruz. Dois gols nascidos de cobranças de lateral. Lembrem-se disso.
Além da falta de organização e consistência, também tivemos a péssima jornada individual de nomes como Vinícius Júnior, Rodrygo, Marquinhos e Casemiro, algumas das referências técnicas da Seleção Brasileira. Difícil não notar ainda uma resistência, uma dificuldade de se compreender aquilo que Fernando Diniz deseja que seja feito com e sem a posse da bola. Ao mesmo tempo, também falta ao treinador do escrete canarinho um pouco de paciência nessa transição do trabalho anterior para o atual. Quatro partidas ainda é muito pouco diante da evolução que se deseja.
Com Carlos Augusto e Gabriel Jesus nas vagas de Guilherme Arana e Richarlison, Fernando Diniz repetiu seu 4-2-3-1 costumeiro com Neymar armando as jogadas e a dupla formada por Vinícius Júnior e Rodrygo pelos lados do campo. Além da insistência em concentrar as jogadas pela esquerda, o Brasil apresentava um comportamento (no mínimo) estranho na saída de bola. Em vários momentos, Casemiro era o jogador mais adiantado do meio-campo, já que Neymar, Bruno Guimarães e até mesmo Rodrygo recuavam demais para armar o jogo. O que se via era uma Seleção Brasileira sem velocidade e sem mobilidade no campo de ataque. Será que Bruno Guimarães não poderia exercer o papel de Casemiro nesse caso?
Enquanto isso, o Uruguai apenas avançava suas linhas e forçava o erro no passe na saída de bola brasileira. Darwin Núñez, De la Cruz, Pellistri e Maxi Araújo fechavam bem os espaços, Valverde saltava para a pressão e Ugarte não dava sossego para Neymar e Rodrygo no meio-campo. Conforme o tempo ia passando, a fragilidade do time comandado por Fernando Diniz ia ficando mais aparente. Aos 42 minutos da primeira etapa, Maxi Araújo passou por Marquinhos com extrema facilidade e encontrou Darwin Núñez livre dentro da área no lance que originou o primeiro gol da Celeste Olímpica. A marcação frouxa da defesa brasileira ficou escancarada nesse e em vários outros momentos do jogo.
A lesão de Neymar e a entrada de Richarlison (talvez numa tentativa de Fernando Diniz repetir o 4-2-4 usado no Fluminense com John Kennedy e Germán Cano) desarrumou ainda mais o ataque da Seleção Brasileira. Rodrygo e Gabriel Jesus ainda tentaram jogar mais por dentro, mas o panorama não melhorou no segundo tempo. O time seguia insistindo nas jogadas pela esquerda e usando pouco o lado de Yan Couto (que não fez partida ruim, mas pouco apareceu). Tudo isso facilitou demais a marcação do Uruguai (sempre fechado com duas linhas na frente da sua área e diminuindo bastante os espaços na intermediária). O Brasil só conseguiu finalizar a gol depois de mais de uma hora de partida. Preocupante.
Conforme o tempo ia passando, o jogo da Seleção Brasileira ia ficando mais e mais confuso e a Celeste Olímpica ia apenas administrando a partida. Aos 32 minutos do segundo tempo, Darwin Núñez venceu a disputa com Casmeiro, Gabriel Magalhães e Marquinhos e encontra De la Cruz sozinho dentro da área. Mais um lance nascido de um lateral, diga-se de passagem. Apesar do Brasil estar minimamente organizado na defesa, faltou atenção aos jogadores na movimentação ofensiva do Uruguai e um pouco mais de disposição na disputa de bola com Darwin Núñez. Não é difícil concluir que o segundo gol uruguaio era o retrato perfeito da atuação brasileira no Estádio Centenário. Faltou muita coisa.
Vale destacar aqui as boas atuações de Valverde, Maxi Araújo e Mathías Oliveira, eficientes na marcação e presentes no ataque. Do lado brasileiro ficou apenas a preocupação com a lesão de Neymar (que parece ser séria) e com o futuro da equipe. As entradas de Matheus Cunha, Rapahel Veiga, Guilherme Arana e David Neres comprovaram que faltou um pouco mais de qualidade no banco de reservas. Ao mesmo tempo, Fernando Diniz parece insistir em jogadores que não se sentem confortáveis dentro do seu estilo de jogo. Das duas uma: ou se adapta aos jogadores que tem à disposição ou busca alternativas. O que não dá é ficar refém da atuação ruim dos “senadores” sem ter peças de reposição adequadas.
O ciclo ainda está no começo e todo mundo precisa de paciência nesse momento. Imprensa, jogadores, dirigentes, torcedores e principalmente a comissão técnica. É compreensível que Fernando Diniz encontre dificuldades por conta do tempo escasso para implementar seus conceitos na Seleção Brasileira. Por outro lado, falta por parte do treinador do escrete canarinho um pouco mais de cuidado na adaptação dos jogadores ao seu estilo de jogo. Às vezes, é melhor fazer pequenas concessões e abrir mão de seus conceitos por um bem maior.