A goleada sobre a Bolívia no dia oito de setembro deixou muita gente empolgada com a boa atuação da Seleção Brasileira. Alguns até falavam em “resgate do futebol-arte” com a chegada de Fernando Diniz. Bom, que acompanha o velho e rude esporte bretão com o cérebro e não com o fígado sabe muito bem que as coisas não funcionam assim. E a vitória sofrida além do necessário contra o Peru na última terça-feira (12) deixou a certeza de que nem sempre a vida do Brasil vai ser a moleza que foi contra os bolivianos. Por outro lado, manter a calma e compreender os processos é fundamental para se compreender o que aconteceu dentro de campo e o que está sendo construído.
Não é difícil concluir que nove entre dez torcedores esperavam que a Seleção Brasileira fosse atropelar mais um adversário sem dificuldades e dar mais uma aula do estilo de jogo que ficou conhecido como “Dinizismo”. Só que o que se viu no Estádio Nacional de Lima foram erros individuais em excesso, muito individualismo e uma falta de paciência imensa para encontrar os melhores caminhos para se chegar ao gol de Gallese. A equipe até conseguiu balançar as redes duas vezes, mas Neymar e Richarlison foram flagrados em impedimento pelo árbitro de vídeo.
Para este que escreve ficou a sensação de que os jogadores pensavam que fossem encontrar a mesma facilidade que encontraram contra a Bolívia. A questão nem é a qualidade do Peru e do esquema de jogo montado pelo técnico Juan Reynoso, mas a forma como o escrete canarinho ia assimilando as chances perdidas e as dificuldades que a marcação adversária impunha em todos os setores (pelo menos na primeira etapa). Conforme o tempo ia passando, a paciência ia diminuindo e a vontade de resolver tudo na base da individualidade foi imperando dentro de campo.
Apesar de ter muito mais qualidade técnica do que o adversário desta terça-feira (12), a Seleção Brasileira encontrou muitas dificuldades no começo da partida por conta da marcação mais alta dos peruanos. A impressão que ficou é a de que Fernando Diniz esperava uma postura mais conservadora por parte da “Bicolor” e se deparou com um time que pressionava bastante a saída de bola. No entanto, o escrete canarinho encontrou meios de fazer a bola chegar no ataque explorando bem a movimentação do quarteto ofensivo e as trocas de posição entre Rodrygo e Neymar na esquerda e as boas chegadas de Bruno Guimarães por dentro. Mesmo assim, ainda faltava capricho na criação das jogadas.
Se o Brasil foi muito bem contra a Bolívia, o mesmo não podia ser dito da partida contra o Peru. Isso porque, mesmo vendo seu adversário baixar o bloco de marcação mais para o final da primeira etapa, a equipe comadada por Fernando Diniz errava demais. Principalmente Neymar e Casemiro, logo as principais referências técnicas da Seleção Brasileira. É verdade que os peruanos faziam sua parte ao fechar bem a entrada da área e negar espaços para que Renan Lodi, Raphinha, Rodrygo e Richarlison pudessem circular com mais liberdade. Notem que a equipe sempre levou vantagem quando passou a tocar mais a bola e a esperar pacientemente o momento certo de fazer a infiltração.
Era meio evidente que o desgaste físico fosse fazer com que o Peru diminuísse um pouco a intensidade na marcação e adotasse uma postura mais cautelosa. Com o meio-campo congestionado, a Seleção Brasileira circulou bastante a bola no campo de defesa, fato que fez com que o goleiro Ederson participasse do jogo muito além do necessário (ver números do SofaScore). Ao mesmo tempo, Fernando Diniz demorava demais para mexer na sua equipe. Além de Neymar e Casemiro, Richarlison ainda estava bem abaixo do que já jogou e Renan Lodi era outro que estava irreconhecível. É compreensível que se queira dar confiança ao time titular, mas é preciso saber a hora de mudar também.
Não eram poucas as pessoas que viam na entrada de Gabriel Martinelli a alteração necessária para se dar mais agressividade ao ataque da Seleção Brasileira. E não foi por acaso que o time melhorou depois da entrada do jogador do Arsenal. Foi dele a jogada que gerou o escanteio cobrado por Neymar e que Marquinhos desviou para as redes de Gallese. O camisa 22 deu ao escrete comandado por Fernando Diniz exatamente aquilo que ele precisava: força no um contra um e mais profundidade. Difícil entender a demora do treinador em fazer as substituições necessárias quando o campo GRITAVA por isso. Ainda mais diante de um adversário que escolheu se fechar na frente da sua área.
No final das contas, a vitória sofrida e suada sobre o Peru deixou claro que não é sempre que a Seleção Brasileira vai encontrar facilidade pela frente. E isso é mais do que natural nesse início de ciclo. Fernando Diniz tem apenas dois jogos à frente da equipe e ainda precisa de tempo para implementar aquilo que ele vê como a melhor forma de potencializar o talento de cada jogador do grupo. E vamos combinar que é preciso ter equilíbrio nas análises. Não é porque goleou a Bolívia que as coisas estão excelentes. E não é porque jogou mal contra o Peru que o time esqueceu como se joga bola. Estamos falando de processos de entendimento do jogo. E isso precisa ser respeitado.
Também não é errado afirmar que essa ansiedade por resultados rápidos e a falta de paciência com erros que vão acontecer nesse início de ciclo são os grandes adversários de Fernando Diniz na Seleção Brasileira. Errar e acertar faz parte dessa reconstrução do time visando a Copa do Mundo de 2026. E ter em mente que não é sempre que a vida vai ser tão fácil assim é imprescindível para encontrar soluções dentro de campo diante de cada adversidade. Menos empolgação, menos bravatas e mais paciência. Esse é o caminho.