O Vasco deixou a zona do rebaixamento do Brasileirão depois de longos 126 dias. São mais de quatro meses afundados entre os quatro últimos da tabela e atuações marcadas pela falta de confiança e de peças de reposição. Essa situação começou a mudar no dia 15 de julho, quando Ramón Díaz era anunciado como o novo técnico do Trem Bala da Colina. Com o treinador argentino vieram reforços importantes como Dimitri Payet, Pablo Vegetti, Praxedes, Paulinho Paula e Gary Medel e uma mudança de postura notável no time da Colina Histórica. Experiência e qualidade em campo para tirar o Vasco do Z4 e permtir que o torcedor possa finalmente sonhar com voos mais altos no Brasileirão.
Do anúncio da chegada de Ramón Díaz até a vitória sobre o América-MG nesta segunda-feira (25), a equipe de São Januário disputou dez partidas, com cinco vitórias, dois empates e três derrotas. Foram 15 gols marcados e onze sofridos. Mais do que a frieza dos números, o que mais chama a atenção no Vasco é a mudança na postura. Ao invés da falta de confiança, agressividade no ataque e paciência para encontrar as soluções dentro de campo. As goleadas sobre Fluminense e Coritiba provam que a mudança no comando técnico vem trazendo ótimos resultados.
Mas ainda faltava sair da zona do rebaixamento. E a vitória que tirou o Vasco das últimas posições do Brasileirão veio nesta segunda-feira (25) com uma vitória muito mais sofrida do que o esperado sobre um América-MG desesperado e sem rumo. No entanto, ao invés do time incisivo e envolvente das últimas rodadas, o que se viu foi um Trem Bala da Colina acuado e sem mobilidade e que só conseguiu se impor na Arena Independência depois que o zagueiro Iago Maidana foi muito bem expulso no final do primeiro tempo. O próprio Ramón Díaz não gostou da atuação do Vasco.
É interessante notar que, mesmo não jogando tão bem como jogou contra Fluminense e Coritiba, o Trem Bala da Colina manteve a organização e não se desesperou com o bombardeio adversário no primeiro tempo. Não deixa de ser parte do “efeito Ramón Díaz”. O treinador argentino manteve seu 4-1-4-1 preferido com Zé Gabriel na proteção da zaga, Payet saindo da esquerda para dentro e se juntando a Vegetti e Paulinho organizando o jogo. Do outro lado, o também argentino Fabián Bustos apostou num 3-4-3/5-4-1 que funcionou bem no primeiro tempo. Felipe Azevedo e Rodrigo Varanda exploravam bem o espaço às costas dos volantes e os alas Juninho e Nicolas apareciam constantemente no ataque.
Com os volantes Emmanuel Martínez e Breno fechando em cima de Praxedes e Paulinho, o Vasco foi perdendo a saída de bola aos poucos, visto que Zé Gabriel quase nunca tinha com quem jogar. Ao mesmo tempo, os alas do Coelho batiam de frente a todo momento com Pumita Rodríguez e Lucas Piton. A estratégia de Fabián Bustos dava tão certo que o time de Ramón Díaz não conseguiu dar um chute a gol sequer no primeiro tempo. E para conter os avanços do seu adversário, Rossi teve que se transformar numa espécie de “assistente de lateral”, fechando ainda mais o lado direito e deixando o Vasco sem força ofensiva. Léo Jardim fez pelo menos quatro grandes defesas e evitou o pior antes do intervalo.
A situação só melhorou quando Iago Maidana foi expulso no final do primeiro tempo por cotovelada (até agora inexplicável) em cima de Pablo Vegetti. Logo depois do intervalo, foi a vez do Vasco pressionar. Com Gabriel Pec, Sebastián Ferreira, Jair e Serginho “sem fronteiras” nos lugares de Payet, Praxedes, Zé Gabriel e Rossi, o Trem Bala da Colina se reorganizou numa espécie de 4-2-4 com os laterais bem espetados e as linhas bem altas. Já o América-MG praticamente “estacionou um ônibus” na frente da área com os pontas Felipe Azevedo e Rodrigo Varanda fechando as laterais. O Vasco circulava a bola de um lado para outro buscando os cruzamentos para Veggeti dentro da área.
Ramón Díaz tem razão em reclamar da atuação mais abaixo da média da sua equipe, visto que o Vasco usou muito pouco a linha de fundo e o jogo por dentro. Ainda que a entrada de Sebastián Ferreira tivesse o objetivo de reforçar o sistema ofensivo da equipe, faltou quem pensasse mais o jogo por dentro, tanto que Marlon Gomes (jogador que poderia exercer essa função) entrou no lugar de Pumita Rodríguez. O gol da vitória e do alívio veio apenas na bola parada. Paulinho cruzou e Jair desviou de calcanhar para vencer o bom goleiro Matheus Cavichioli. Ainda que não tenha estado numa noite lá muito inspirada, a impressão que fica é a de que a sorte finalmente voltou a sorrir para o Vasco.
O “efeito Ramón Díaz” ajuda a explicar esse novo momento do escrete de São Januário. O treinador argentino chegou ao clube com um discurso inflamado e promovendo mudanças que foram importantes na equipe. Além de recuperar jogadores como Zé Gabriel e Pumita Rodríguez, encontrou em Paulinho Paula e Praxedes a dupla de meio-campistas perfeita para dar o toque de criação ao time enquanto Payet ainda se recondiciona fisicamente. E isso sem falar na categoria de Pablo Vegetti. Mas o principal, com toda a certeza, é a mudança radical na postura. A falta de confiança e os semblantes cabisbaixos ficaram no passado. O que se vê hoje em dia é um Vasco extremamente competitivo.
A primeira etapa da missão de Ramón Díaz já foi executada. O Vasco finalmente saiu da zona do rebaixamento. E pelo que temos visto nas últimas semanas, a tendência é que o time vá ganhando mais posições na tabela do Brasileirão e comece a mudar os planos. Por hora, a ordem é se manter o mais longe possível do Z4 e ir somando pontos. Já são quatro partidas sem derrotas e três vitórias seguidas na competição. Fora os números que comprovam que o “efeito Ramón Díaz” no Vasco é muito mais significativo do que a gente pensa.