Período de treinos em Teresópolis indica a nova formação da Seleção Feminina na “era Arthur Elias”
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas do treinador e o encaixe de Marta e Cristiane no time titular
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas do treinador e o encaixe de Marta e Cristiane no time titular
Arthur Elias, novo técnico da Seleção Feminina, reuniu trinta jogadoras para uma semana de treinamentos na Granja Comary. E mesmo sem ter acesso aos trabalhos realizados nos últimos dias, o treino aberto à imprensa na última segunda-feira (25) deixou algumas pistas sobre a montagem do time titular. Quem acompanha o treinador desde os tempos de Centro Olímpico, sabe muito bem que ele gosta muito de equipes intensas, com linhas altas de marcação e de muita agressividade no ataque. Arthur Elias também não é o tipo de técnico que abre mão de nomes experientes nas suas equipes. E não foi por acaso que Marta e Cristiane foram titulares do esboço de equipe que montou em Teresópolis.
Antes de continuar com a análise, é interessante notar que não houve uma ruptura completa com o trabalho de Pia Sundhage (pelo menos não num primeiro momento). A forma como o time se comportava (principalmente no seu sistema defensivo) pode servir de base para que Arthur Elias pense a Seleção Feminina já para o próximo ciclo. Por mais que se possa criticar as escolhas da treinadora sueca (principalmente na Copa do Mundo passada), é sempre bom lembrar que há um legado na equipe que deve sim ser aproveitado. Com algumas mudanças aqui e ali, é plenamente possível pensar numa formação que acomode os talentos à disposição de Arthur Elias sem que a equipe perca o equilíbrio.
Na última segunda-feira (25), Arthur Elias mostrou a nova formação da Seleção Feminina num treino coletivo aberto para a imprensa. O treinador utilizou uma espécie de 3-1-4-2 com Marta e Cristiane no ataque, Angelina protegendo o trio de zagueiras formado por Antônia, Tainara e Rafaelle, Adriana mais pela direita e Tamires mais solta pela esquerda (como uma ala). É lógico que tivemos mudanças no decorrer das atividades, mas esse desenho tático nos mostra que Arthur Elias já pensa em maneiras de encaixar a dupla de ataque numa formação que consiga minimamente manter o equilíbrio defensivo e ainda ganhar muita criatividade por dentro com Ary Borges e Kerolin no meio-campo.
Essa formação não chega a ser novidade para quem acompanhou o último ciclo. Não foram poucas as vezes em que Pia Sundhage utilizou um esquema com três zagueiras para soltar Tamires como ala pela esquerda e preencher mais o meio-campo. A diferença com Arthur Elias está mais na postura da equipe com e sem a bola. Ao invés do bloco médio de marcação, é possível que vejamos um Brasil mais incisivo na pressão na saída de bola adversária e com muito mais gente chegando no ataque. Ao mesmo tempo, a formação ajuda a atender o clamor popular pela convocação de Cristiane. No entanto, a presença da atacante do Santos traz consigo alguns pontos que merecem a nossa atenção.
Eu e você sabemos que Cristiane e Marta já não possuem o mesmo vigor físico de outros tempos. Qualidade ali não falta, é verdade. Mas o futebol mais intenso e mais “físico” exige que algumas compensações sejam feitas para que a equipe não fique desequilibrada. E com duas jogadoras sem tanto poder de marcação, é possível que a Seleção Feminina encontre problemas contra adversárias que possuam zagueiras boas na construção. É mais ou menos o que aconteceu com o Santos diante do Corinthians nas semifinais do Brasileirão Feminino. O ataque das Sereias da Vila até começava pressionando, mas logo baixava a guarda e permitia que Mariza e companhia armassem o jogo desde o campo de defesa.
É lógico que o contexto é completamente diferente numa Seleção Feminina. No entanto, é possivel afirmar que o nível de exigência será mais alto por conta dos adversários do Brasil nesse próximo ciclo. Umas das soluções apontadas pelo grande Thiago Ferreira (comentarista do Planeta Futebol Feminino) esteja no meio-campo. Angelina, Ary Borges e Kerolin foram alguns dos grandes achados de Pia Sundhage no último ciclo e mostraram capacidade de varrer grandes espaços. Elas podem ser a solução para que a falta de combatividade de Marta e Cristiane sejam compensadas. Principalmente Kerolin, que vem de ótima fase na NWSL como o grande Duga mostrou no Twitter no início de setembro.
Também é possível que Arthur Elias queira logo testar essa formação com Marta e Cristiane no ataque contra adversários mais fortes para entender como encaixar melhor as duas lendas na sua equipe ou, se for o caso, apostar em substituições e novos desenhos táticos. Tudo vai depender da forma como esse time vai se comportar dentro de campo. Seja como for, está claro para este que escreve que o treinador da Seleção Feminina não vai abrir mão da experiência que tem à disposição. Foi assim com Gabi Zanotti, Grazi e Tamires no Corinthians e também deve funcionar dessa forma na Seleção Feminina. Lembrem-se de que o ciclo até os Jogos Olímpicos é curto e a busca por soluções é fundamental.
Não deixa de ser também mais uma boa oportunidade para uma “última dança” de uma das duplas de ataque mais formidáveis que o futebol já viu. Marta e Cristiane entregam qualidade, genialidade e muita vivência nos gramados e podem ser úteis na passagem do bastão para as próximas gerações. Com o tempo mais escasso até Paris 2024, é bem possível que as duas estejam em campo em boa parte das oportunidades em que a Seleção Feminina se reunir. Mas é só dentro de campo que poderemos ter certeza de que as coisas vão dar certo.