Pan de Santiago pode ser uma das últimas chances de Ramon Menezes mostrar serviço na seleção sub-23
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a lista de convocados para a disputa do futebol masculino nos Jogos Pan-Americanos
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a lista de convocados para a disputa do futebol masculino nos Jogos Pan-Americanos
Não é exagero classificar o trabalho do técnico Ramon Menezes à frente da equipe sub-23 da Seleção Brasileira como mediano. É verdade que a conquista do Campeonato Sul-Americano Sub-20 deu moral para o treinador e o colocou em evidência num período em que se falava muito na chegada de Carlo Ancelotti no comando do time principal. No entanto, a atuação do Brasil nos amistosos contra Guiné e Senegal e a campanha na Copa do Mundo Sub-20 da Argentina deixaram vários questionamentos. A disputa dos Jogos Pan-Americanos de Santiago 2023 não deixa de ser mais ua oportunidade de Ramon Menezes finamente mostrar seu valor e recuperar o prestígio perdido nesses últimos meses.
Mesmo não sendo uma competição de grande importância para o calendário do futebol brasileiro, o Pan de Santiago pode se transformar no grande aliado do treinador em caso de bons resultados. Este que escreve entende bem o contexto da convocação realizada na última sexta-feira (22). Apenas dezoito nomes e um grupo bem diferente daquele que estávamos acostumados. Mas ainda assim, nomes que podem ser muito úteis, como o lateral Patrick (do São Paulo), o zagueiro Lucas Halter (do Goiás), o meio-campo Marquinhos (do Nantes da França) e os atacantes Matheus Nascimento (do Botafogo) e Gabriel Verón (do Porto de Portugal). É possível sim formar um time forte e competitivo com esse grupo.
Os questionamentos com relação ao trabalho de Ramon Menezes não têm relação com as suas escolhas para tentar a medalha de ouro em Santiago, mas com a forma que escolheu para montar suas equipes. Por mais que seus métodos tenham dado certo no Sul-Americano Sub-20 da Colômbia, a impressão que ficou é a de que sua equipe dependia demais do talento de Andrey Santos e Vítor Roque. Fora isso, o Brasil oscilava demais dentro de um mesmo jogo e quase pôs tudo a perder em alguns momentos. Com o grupo reduzido pensando nos Jogos Pan-Americanos e sem alguns nomes com os quais estava acostumado, é bem possível que Ramon Menezes encontre mais dificuldades do que o esperado.
Este que escreve falou sobre o assunto com mais profundidade na análise feita da derrota para o Marrocos no dia 7 de agosto. A impressão que ficou da partida era a de que a Seleção Brasileira dependia demais do lampejo individual de Vítor Roque, Andrey Santos, Marquinhos, Marlon Gomes e companhia. Ao mesmo tempo, o 4-4-2/4-2-4 sofreu para encontrar espaços na defesa adversária. Faltou movimentação e um pouco mais de organização na hora de atacar, pontos vistos na eliminação para Israel na Copa do Mundo Sub-20 da Argentina, por exemplo. É sim um ponto que preocupa no trabalho de Ramon Menezes. Ainda mais sabendo que ele não terá tantas peças à disposição em Santiago.
Ao mesmo tempo, a defesa também é um problema constante. Por mais que o Brasil tenha se comportado bem no Sul-Americano Sub-20, o que se viu contra Marrocos foi um time que encontrou sérios problemas para controlar a profundidade, isto é, correr para trás. Toda bola levantada às costas da última linha gerava espaços na frente da área por conta dessas deficiências na cobertura defensiva. Além disso, o meio-campo abriu espaços demais por conta do jogo estar todo concentrado em cima dos volantes Andrey Santos e Marlon Gomes. Essa falta de superioridade numérica em todos os setores foi algo bem visível e algo que precisa melhorar nos times de Ramon Menezes. Pra ontem.
É lógico que, assim como a Seleção Brasileira, é possível que todos os outros adversários também entrem na disputa dos Jogos Pan-Americanos com equipes alternativas. Mesmo assim, o grupo convocado por Ramon Menezes possui nomes que podem desequilibrar o jogo a favor do Brasil. A grande questão aqui é saber como Ramon Menezes vai cuidar do time sem alguns dos seus principais jogadores. Além disso, os nomes disponíveis possuem características bem diferentes dos jogadores que estiveram com o treinador no Sul-Americano Sub-20 da Colômbia e na Copa do Mundo Sub-20 da Argentina. É quase como se Ramon Menezes estivesse iniciando um trabalho do zero novamente. E isso é preocupante.
A cobrança existe mesmo diante do contexto desfavorável. Vale lembrar que Ney Franco foi bastante criticado depois de ser eliminado com o Brasil na fase de grupos dos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara 2011 mesmo com uma Copa do Mundo Sub-20 conquistada poucos meses antes. Fica a dúvida se a CBF quer mesmo a medalha de ouro em Santiago ou se está usando a competição como “laboratório” para novos nomes. De qualquer maneira, não deixa de ser uma das últimas chances de Ramon Menezes mostrar serviço. Mesmo com um time mais alternativo que o esperado.