A terceira passagem de Mano Menezes pelo Corinthians diz muitas coisas. A primeira (e talvez a que mais agrada os ouvidos dos torcedores) é a aposta no “DNA vencedor” do clube, no estilo de jogo que marcou a década de 2010, com defesa sólida e organizada e muita velocidade no ataque. No entanto, também é possível enxergar esse retorno e a busca por essa “essência” de outra forma. Mano Menezes volta ao Timão com uma missão bem definida: deixar o passado para trás e olhar para o futuro. Parece contraditório. E é contraditório. No entanto, o resgate desse “DNA vencedor” do Corinthians passa diretamente pela renovação do elenco e da mudança de pensamento de quem comanda o clube.
Isso não é algo novo. Em 2016, este colunista escreveu sobre o retorno de Oswaldo de Oliveira ao Timão mais de quinze anos depois da conquista do Mundial de Clubes no ano 2000 com um time que tinha Marcelinho, Edilson, Luizão, Rincón e Vampeta. O apego ao passado e a tentativa de se repetir as fórmulas de temporadas vencedoras é algo muito presente no Corinthians. Com Mano Menezes, voltam as lembranças afetivas dos títulos conquistados em 2009 (Paulistão e Copa do Brasil) e do bom segundo semestre de 2014. O problema, no entanto, é que o clube mudou muito e não parece ter a mesma estrutura e bom ambiente de anos passados. Mesmo com o próprio Mano Menezes afirmando o contrário.
A conquista da Copa do Brasil de 2009 tem um gosto especial para o torcedor corintiano. Não é errado afirmar que foi esse o título que recolocou o Timão no primeiro escalão do futebol nacional depois do traumático rebaixamento em 2007. Mano Menezes apostou no seu bom e velho 4-2-3-1 com Ronaldo Fenômeno no comando de ataque, Jorge Henrique e Dentinho pelos lados do campo e Douglas distribuindo bem o jogo. Mais atrás, Cristian e Elias protegiam a linha com quatro defensores bem organizada e que se transformou numa das marcas do treinador. Nas finais contra o Internacional (comandado por Tite), vitória por dois a zero em São Paulo e empate em dois a dois em Porto Alegre.
De fato, Mano Menezes tem muito conhecimento do futebol e sabe organizar equipes competitivas (apesar da alcunha de “retranqueiro” que recebeu em trabalhos anteriores). No ano passado, comandou o Internacional numa belíssima campanha de recuperação até o vice-campeonato brasileiro. Seu 4-2-3-1 ainda era a formação inicial, mas o Colorado ganhou novos contornos com a dinâmica colocada por Maurício, a velocidade de Wanderson e a experiência de Taison. Mais à frente, Alemão era o centroavante brigador e que trombava com os zagueiros adversários para fazer as jogadas de pivô. Todos os conceitos trabalhados por Mano Menezes estavam lá com algumas pequenas adaptações.
No comando do Internacional no ano passado, a necessidade exigiu de Mano Menezes um jogo mais direto e que dependia demais da velocidade dos seus jogadores. O bloco médio de marcação e as linhas mais baixas e compactadas gerava o espaço que os pontas e laterais aproveitavam nos contra-ataques. Sem a bola, um 4-4-1-1 em duas linhas bem fechadas na frente da área com pontas e volantes fechando em cima do portador da bola junto do lateral. Taison, Renê e Carlos de Pena executaram bem essa função no ano passado na já mencionada campanha de recuperação do time no Brasileirão. As boas atuações foram premiadas com a vaga direta na fase de grupos da Copa Libertadores da América de 2023.
A questão aqui, conforme mencionado anteriormente, nem é o estilo de jogo de Mano Menezes e a forma como ele monta suas equipes. Está na eterna busca pelo “DNA vencedor” que se transformou em verdadeira obsessão no clube nesses últimos anos. E como vocês já sabem, esse resgate só será bem sucedido se ocorre uma renovação profunda no elenco do clube. As tentativas e erro com as constantes mudanças no comando técnico da equipe nos últimos anos ganharam contornos ainda mais complicados depois da saída de Vanderlei Luxemburgo, treinador que antecedeu Fernando Lázaro e Cuca e que agora dá lugar para Mano Menezes. A enorme instabilidade nos bastidores é real e tem reflexos no campo.
E no meio disso tudo, Mano chega ao Corinthians com a necessidade clara de se olhar o futuro e rejuvenescer o elenco. Para se ter uma ideia, tinha Cássio, Fagner, Gil, Anderson Martins e Fábio Santos na linha defensiva da equipe que venceu o Atlético-MG por dois a zero no jogo de ida das semifinais da Copa do Brasil de 2014 (no famigerado episódio da dancinha na beira do gramado). Contra o Fortaleza (pela Copa Sul-Americana), a única mudança foi a entrada de Lucas Veríssimo no lugar de Anderson Martins. Isso sem mencionar Renato Augusto, titular com Mano Menezes na sua passagem pelo clube em 2014. A impressão é que o treinador jamais saiu do clube. E isso chega a ser bizarro.
Mesmo os veteranos ainda possuem muita qualidade e podem servir de referência para jovens como Gabriel Moscardo, Matheus Bidu, Gustavo Mosquito, Caetano, Matheus Araújo, Guilherme Biro e outros. A base do Corinthians é forte e talvez seja a “mina de ouro” do treinador nesse restante de temporada. No entanto, a missão de Mano Menezes não tem relação apenas com os resultados dentro de campo e com a renovação que já se arrasta por anos no clube. Existe também a necessidade de se pensar e planejar o futuro sem os sobressaltos que eu e você vimos nesse conturbado ano de 2023. Mano Menezes tem as costas largas para iniciar esse processo, mas a grande dúvida é se terá respaldo para tal.
Seja como for, não deixa de ser a escolha mais acertada dentro das possibilidades do Corinthians nesse momento. Grande obsessão da diretoria, Tite recusou o convite quatro vezes de acordo com apuração do TORCEDORES e de outros colegas de imprensa. Pode ser que seja realmente o momento certo para Mano Menezes fazer aquilo que fez quando chegou em 2008. Recuperar a confiança e o espírito competitivo do elenco e dando oportunidade para os mais jovens assumirem o protagonismo. Tudo em prol do tal resgate do “DNA vencedor” do Timão.