Home Futebol Mano Menezes retorna ao Corinthians com a missão de deixar o passado para trás e preparar o futuro

Mano Menezes retorna ao Corinthians com a missão de deixar o passado para trás e preparar o futuro

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o estilo de jogo do novo treinador do Timão e as reais necessidades da equipe

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

A terceira passagem de Mano Menezes pelo Corinthians diz muitas coisas. A primeira (e talvez a que mais agrada os ouvidos dos torcedores) é a aposta no “DNA vencedor” do clube, no estilo de jogo que marcou a década de 2010, com defesa sólida e organizada e muita velocidade no ataque. No entanto, também é possível enxergar esse retorno e a busca por essa “essência” de outra forma. Mano Menezes volta ao Timão com uma missão bem definida: deixar o passado para trás e olhar para o futuro. Parece contraditório. E é contraditório. No entanto, o resgate desse “DNA vencedor” do Corinthians passa diretamente pela renovação do elenco e da mudança de pensamento de quem comanda o clube.

Isso não é algo novo. Em 2016, este colunista escreveu sobre o retorno de Oswaldo de Oliveira ao Timão mais de quinze anos depois da conquista do Mundial de Clubes no ano 2000 com um time que tinha Marcelinho, Edilson, Luizão, Rincón e Vampeta. O apego ao passado e a tentativa de se repetir as fórmulas de temporadas vencedoras é algo muito presente no Corinthians. Com Mano Menezes, voltam as lembranças afetivas dos títulos conquistados em 2009 (Paulistão e Copa do Brasil) e do bom segundo semestre de 2014. O problema, no entanto, é que o clube mudou muito e não parece ter a mesma estrutura e bom ambiente de anos passados. Mesmo com o próprio Mano Menezes afirmando o contrário.

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A conquista da Copa do Brasil de 2009 tem um gosto especial para o torcedor corintiano. Não é errado afirmar que foi esse o título que recolocou o Timão no primeiro escalão do futebol nacional depois do traumático rebaixamento em 2007. Mano Menezes apostou no seu bom e velho 4-2-3-1 com Ronaldo Fenômeno no comando de ataque, Jorge Henrique e Dentinho pelos lados do campo e Douglas distribuindo bem o jogo. Mais atrás, Cristian e Elias protegiam a linha com quatro defensores bem organizada e que se transformou numa das marcas do treinador. Nas finais contra o Internacional (comandado por Tite), vitória por dois a zero em São Paulo e empate em dois a dois em Porto Alegre.

Mano Menezes montou o Corinthians num 4-2-3-1 de muita mobilidade e organização defensiva para conquistar a Copa do Brasil de 2009 sobre o Internacional de Tite.
Mano Menezes montou o Corinthians num 4-2-3-1 de muita mobilidade e organização defensiva para conquistar a Copa do Brasil de 2009 sobre o Internacional de Tite.

De fato, Mano Menezes tem muito conhecimento do futebol e sabe organizar equipes competitivas (apesar da alcunha de “retranqueiro” que recebeu em trabalhos anteriores). No ano passado, comandou o Internacional numa belíssima campanha de recuperação até o vice-campeonato brasileiro. Seu 4-2-3-1 ainda era a formação inicial, mas o Colorado ganhou novos contornos com a dinâmica colocada por Maurício, a velocidade de Wanderson e a experiência de Taison. Mais à frente, Alemão era o centroavante brigador e que trombava com os zagueiros adversários para fazer as jogadas de pivô. Todos os conceitos trabalhados por Mano Menezes estavam lá com algumas pequenas adaptações.

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O Internacional de Mano Menezes tinha força ofensiva e muita mobilidade com Alemão, Maurício, Wanderson e Taison no seu 4-2-3-1 costumeiro. Foto: Reprodução / Premiere
O Internacional de Mano Menezes tinha força ofensiva e muita mobilidade com Alemão, Maurício, Wanderson e Taison no seu 4-2-3-1 costumeiro. Foto: Reprodução / Premiere

No comando do Internacional no ano passado, a necessidade exigiu de Mano Menezes um jogo mais direto e que dependia demais da velocidade dos seus jogadores. O bloco médio de marcação e as linhas mais baixas e compactadas gerava o espaço que os pontas e laterais aproveitavam nos contra-ataques. Sem a bola, um 4-4-1-1 em duas linhas bem fechadas na frente da área com pontas e volantes fechando em cima do portador da bola junto do lateral. Taison, Renê e Carlos de Pena executaram bem essa função no ano passado na já mencionada campanha de recuperação do time no Brasileirão. As boas atuações foram premiadas com a vaga direta na fase de grupos da Copa Libertadores da América de 2023.

Com Mano Menezes, o Internacional se fechava num 4-4-1-1 que tentava encaixotar o portador da bola e sair em velocidade para o ataque. Foto: Reprodução / Premiere
Com Mano Menezes, o Internacional se fechava num 4-4-1-1 que tentava encaixotar o portador da bola e sair em alta velocidade para o ataque. Foto: Reprodução / Premiere

A questão aqui, conforme mencionado anteriormente, nem é o estilo de jogo de Mano Menezes e a forma como ele monta suas equipes. Está na eterna busca pelo “DNA vencedor” que se transformou em verdadeira obsessão no clube nesses últimos anos. E como vocês já sabem, esse resgate só será bem sucedido se ocorre uma renovação profunda no elenco do clube. As tentativas e erro com as constantes mudanças no comando técnico da equipe nos últimos anos ganharam contornos ainda mais complicados depois da saída de Vanderlei Luxemburgo, treinador que antecedeu Fernando Lázaro e Cuca e que agora dá lugar para Mano Menezes. A enorme instabilidade nos bastidores é real e tem reflexos no campo.

E no meio disso tudo, Mano chega ao Corinthians com a necessidade clara de se olhar o futuro e rejuvenescer o elenco. Para se ter uma ideia, tinha Cássio, Fagner, Gil, Anderson Martins e Fábio Santos na linha defensiva da equipe que venceu o Atlético-MG por dois a zero no jogo de ida das semifinais da Copa do Brasil de 2014 (no famigerado episódio da dancinha na beira do gramado). Contra o Fortaleza (pela Copa Sul-Americana), a única mudança foi a entrada de Lucas Veríssimo no lugar de Anderson Martins. Isso sem mencionar Renato Augusto, titular com Mano Menezes na sua passagem pelo clube em 2014. A impressão é que o treinador jamais saiu do clube. E isso chega a ser bizarro.

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O Corinthians tinha Cássio, Fagner, Gil, Fábio Santos e Renato Augusto entre os titulares em 2014. Todos ainda estão no clube e reforçam a necessidade de renovação.
O Corinthians tinha Cássio, Fagner, Gil, Fábio Santos e Renato Augusto entre os titulares em 2014. Todos ainda estão no clube e reforçam ainda mais a necessidade de renovação do elenco.

Mesmo os veteranos ainda possuem muita qualidade e podem servir de referência para jovens como Gabriel Moscardo, Matheus Bidu, Gustavo Mosquito, Caetano, Matheus Araújo, Guilherme Biro e outros. A base do Corinthians é forte e talvez seja a “mina de ouro” do treinador nesse restante de temporada. No entanto, a missão de Mano Menezes não tem relação apenas com os resultados dentro de campo e com a renovação que já se arrasta por anos no clube. Existe também a necessidade de se pensar e planejar o futuro sem os sobressaltos que eu e você vimos nesse conturbado ano de 2023. Mano Menezes tem as costas largas para iniciar esse processo, mas a grande dúvida é se terá respaldo para tal.

Seja como for, não deixa de ser a escolha mais acertada dentro das possibilidades do Corinthians nesse momento. Grande obsessão da diretoria, Tite recusou o convite quatro vezes de acordo com apuração do TORCEDORES e de outros colegas de imprensa. Pode ser que seja realmente o momento certo para Mano Menezes fazer aquilo que fez quando chegou em 2008. Recuperar a confiança e o espírito competitivo do elenco e dando oportunidade para os mais jovens assumirem o protagonismo. Tudo em prol do tal resgate do “DNA vencedor” do Timão.

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