Libertadores: Palmeiras teve muito mais sorte do que prudência e bom futebol contra o Boca Juniors
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação da equipe de Abel Ferreira na partida realizada em La Bombonera
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação da equipe de Abel Ferreira na partida realizada em La Bombonera
Quem acompanha o espaço aqui no TORCEDORES lembra que este que escreve já alertava para o impacto que a ausência de Dudu teria no Palmeiras. Não é por acaso que a necessidade de se substituir um dos principais jogadores do elenco vem obrigando Abel Ferreira a buscar alternativas. Contra o Boca Juniors, a saída encontrada foi a manutenção do time que vinha jogando, mas com uma nova formação que se mostrou um tanto quanto problemática (muito mais por execução dos movimentos do que pelo desenho tático em si, que fique bem claro). É exatamente por isso que o resultado obtido fora de casa deve ser comemorado, visto que o Palmeiras teve muito mais sorte do que prudência.
É complicado apontar todos os dedos para Abel Ferreira. Não é de hoje que todos que acompanham o clube falam do elenco mais curto e da falta de peças de reposição confiáveis. No entanto, o treinador português tem sim uma parcela de culpa pela atuação mais abaixo da sua equipe nesta quinta-feira (28) em Buenos Aires. Algumas das suas escolhas não se mostraram as mais corretas e a postura do Palmeiras em campo mais deu espaço para o Boca Juniors do que aproveitou as deficiências do adversário no sistema defensivo. Faltou um pouco de organização e intensidade.
Mais do que isso. Marcos Rocha, Gabriel Menino, Raphael Veiga e Artur ou estavam inseguros com a bola ou dispersos no trabalho sem ela. E isso tudo facilitou demais a vida de um Boca Juniors que foi empurrado pela sua torcida na Bombonera, mas que também teve problemas para manter o nível alto de agressividade visto no primeiro tempo e aproveitar os latifúndios que o Palmeiras concedia. O empate fora de casa é sim um resultado a ser comemorado. Mas está claro que o Verdão precisa jogar mais e melhor se quiser ir para mais uma final da Libertadores.
Para o jogo desta quinta-feira (28), Abel Ferreira manteve o mesmo “onze inicial” que vem jogando desde a lesão de Dudu. No entanto, ao invés do seu 4-2-3-1 costumeiro, o treinador português apostou num 3-4-1-2 que trazia Mayke e Piquerez nas alas, Marcos Rocha de zagueiro e Raphael Veiga logo atrás da dupla de ataque formada por Artur e Rony. Do outro lado, Miguel Almirón escalou o Boca Juniors num 4-4-2 que trazia Merentiel e Cavani formando a dupla de ataque (algo que não acontecia há quatro jogos) e Medina e Valentín Barco pelos lados do campo. Os volantes Pol e Ezequiel Fernández protegiam a zaga e os laterais Advíncula e Frank Fabra subiam bastante ao ataque.
Os primeiros minutos da partida deixaram a impressão de que o Palmeiras tomaria o controle das ações dentro de campo. No entanto, não demorou muito para que o Boca Juniors começasse a se impor (muito por causa da atmosfera favorável dentro da Bombonera). Notava-se aí também um problema sério no Palmeiras. Faltava aproximação dos jogadores no sistema ofensivo. Por mais que o 3-4-1-2 não tenha sido uma ideia ruim (principalmente pela superioridade numérica no meio-campo), Raphael Veiga ficou encaixotado na defesa xeneize, os alas foram pouco acionados e os volantes Gabriel Menino e Zé Rafael encostavam muito pouco na dupla de ataque. Aos poucos, o time foi sendo dominado.
Na prática, o plano de Miguel Almirón ia dando certo por conta da imposição da sua equipe no campo de ataque. Pol e Ezequiel Fernández venciam quase todos os duelos no meio-campo, Medina e Barco pressionavam bastante os alas Mayke e Piquerez e deixavam a bola longa como a única opção para o Palmeiras chegar na frente. No entanto, o Boca Juniors pouco aproveitou o espaço que apareceu na frente da linha de cinco defensores do seu adversário. Zé Rafael acabou sobrecarregado na marcação e obrigado a cobrir uma faixa grande do campo por conta dessa falta de combatividade de Gabriel Menino e Raphael Veiga. Mesmo assim, a entrada da área foi pouco explorada pelo Boca Juniors.
Merentiel e Cavani desperdiçaram as melhores chances do escrete xeneize na primeira etapa. Na volta do intervalo, foi até possível observar uma certa melhora no desempenho do Palmeiras, já que Raphael Veiga passou a se movimentar mais e a gerar opção de passes curtos (algo que Gabriel Menino pouco fez). Ao mesmo tempo, a intensidade do Boca Juniors diminuiu bastante. No entanto, o panorama seguiu praticamente o mesmo. Com o time ainda espaçado demais para gerar toques mais curtos, o time de Abel Ferreira seguiu abusando das bolas longas em busca das diagonais de Rony e Artur, mas os zagueiros Rojo e Figal desempenharam um bom trabalho defensivo na frente da área de Sergio Romero.
Diante do que o jogo pedia na Bombonera, o Palmeiras não deixou de ter mais sorte do que prudência ao insistir nas bolas longas para o ataque mesmo quando não sofria pressão do seu adversário. A impressão que ficou da atuação alviverde é a de que o Boca Juniors esteve sempre muito mais perto de balançar as redes do que o time de Abel Ferreira. Por outro lado, precisamos exaltar o trabalho defensivo impecável desempenhado por Gustavo Gómez e Murilo, ambos gigantes na proteção da área do goleiro Weverton (outro que apareceu bem com boas defesas). Diante de todo o contexto, esse empate sem gols não deixa de ser um grande resultado para o Palmeiras. Sem exagero nenhum.
Por outro lado, ficou claro que a formação ideal ainda não foi encontrada e que a ausência de Dudu ainda gera um impacto grande na equipe. E isso é preocupante mesmo sabendo que a torcida alviverde deve lotar o Allianz Parque na próxima semana. A dúvida aqui é saber se Abel Ferreira seguirá insistindo no jogo com bolas longas ou se vai tentar ser mais agressivo diante de um Boca Juniors que vem de cinco empates seguidos no mata-mata da Libertadores. Mais do que prudência, o Palmeiras terá que jogar muito mais do que vem jogando.