Há vida no Flamengo sem Arrascaeta? Posicionamento de Gerson e atuações de Bruno Henrique mostram que sim
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as alternativas de Jorge Sampaoli para montar a equipe sem seu principal jogador
Que Arrascaeta é o principal jogador do Flamengo e talvez aquele que mais tira “coelhos da cartola” todo mundo sabe. É exatamente por isso que a recuperação do uruguaio para as finais da Copa do Brasil está sendo tratada (literalmente) como questão de vida ou morte pela comissão técnica rubro-negra. Por outro lado, precisamos lembrar que o Fla possui um elenco recheado de grandes nomes e, por conseguinte, de ótimas opções para se montar uma equipe sólida e igualmente envolvente no ataque. Jorge Sampaoli pode ter encontrado o “mapa da mina” na vitória sobre o Botafogo no final de semana passado. Não apenas pelo resultado, mas pela forma como a equipe se comportou em campo.
É possível dizer (sem muito medo de errar) que o Flamengo teve uma das suas melhores atuações nas últimas semanas. Principalmente por conta da mudança na postura dos jogadores com a bola rolando. O time esteve contundente no ataque, intenso nas trocas de passe e apresentou poucas falhas na recomposição defensiva (talvez um dos pontos mais fracos dos times de Jorge Sampaoli). Tudo isso passa pelo posicionamento de Gerson e pelas últimas atuações de Bruno Henrique, talvez o grande “reforço” do Fla nessa janela de transferências. Ainda que Arrascaeta faça falta em qualquer equipe do planeta, é possível sim dizer que o treinador argentino encontrou um caminho interessante.
Vale lembrar que Jorge Sampaoli vinha implementando uma formação mais semelhante àquela usada por Dorival Júnior no ano passado antes da lesão do camisa 14. Uma espécie de 4-3-1-2 que variava para um 4-1-3-2 dependendo do posicionamento de Gerson no meio-campo. Nesse contexto, o camisa 20 jogava mais por dentro e buscava mais o lado esquerdo com Arrascaeta jogando como “enganche” logo atrás de Gabigol e Bruno Henrique e com o jovem Victor Hugo mais pela direita. O resultado era um time sem muita compactação no meio-campo e que sofria muito sempre que enfrentava adversários que colocavam velocidade pelos lados do campo e que sabiam ocupar o espaço entrelinhas.
A solução encontrada por Jorge Sampaoli foi mais simples do que pode parecer. O 4-1-3-2 deu lugar a um 4-2-3-1 mais nítido com Pedro no lugar de Gabigol (que vem de má fase não é de hoje) e Allan na vaga de Arrascaeta. Sem a bola, as duas linhas na frente da área do goleiro Matheus Cunha. Com a posse, no entanto, o que se via era um time muito mais envolvente com Gerson livre para circular por dentro e à esquerda e Bruno Henrique desequilibrando sempre que partia em direção ao ataque. A troca do posicionamento dos dois e as subidas de Wesley pela direita ajudaram a desmontar o sistema defensivo do Botafogo numa das melhores atuações do Flamengo na “era Jorge Sampaoli”.
Notem que a interação entre Gerson e Bruno Henrique pelo lado esquerdo de ataque foi um dos pontos fortes da equipe no clássico do último sábado (2). O lance do segundo gol rubro-negro começa com Léo Pereira (cada vem melhor na construção das jogadas e nos passes de ruptura) acionando o camisa 27 pelo lado. Nesse momento, Everton Ribeiro e Gerson arrastam a zaga do Botafogo para trás e Wesley abre o campo pela direita (exatamente como na inversão para o 2-3-5 tão treinada e tão defendida por Jorge Sampaoli). Com espaço para romper por dentro, Bruno Henrique desequilibra mais uma vez com um belo chute de fora da área. O time ganhou equilíbrio e consistência.
É lógico que essa é apenas uma das possíveis soluções que podem ser usadas no Flamengo para amenizar a ausência de Arrascaeta. Mas o posicionamento de Gerson mais pelo lado do campo com Bruno Henrique rompendo em diagonal buscando a área adversária parece ser a melhor maneira de manter o time ofensivo e intenso como Jorge Sampaoli tanto pede. Caso se recupere, o uruguaio pode simplesmente entrar no lugar de Victor Hugo (difícil pensar em tirar um dos dois volantes da equipe), trazer Gerson para a direita e manter a dinâmica que vem dando certo no ataque. Com Arrascaeta por dentro, jogando na sua, o Flamengo com certeza cresce e cresce demais de produção com a bola no pé.
Mesmo assim, estamos falando de hipóteses e de soluções que funcionaram num determinado contexto. É preciso lembrar que Dorival Júnior conhece muito bem as características e os pontos fortes e fracos do elenco do Flamengo. As finais da Copa do Brasil vão exigir um nível de concentração e força mental que esse time ainda não mostrou com Jorge Sampaoli. E é exatamente por isso que as boas atuações de Bruno Henrique são a grande arma rubro-negra nessas duas partidas. Ter um jogador com seu poder de decisão é fundamental para levantar taças.