Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as opções do treinador português para manter o time na briga por títulos em 2023
Não é de hoje que este que escreve elogia o Palmeiras de Abel Ferreira. E isso acontece por uma série de motivos que já foram amplamente debatidos aqui neste espaço. No entanto, o treinador português tem pela frente um grande obstáculo para manter o nível (altíssimo) de competitividade da sua equipe: a grave lesão de Dudu. Não é absurdo nenhum afirmar que o entendimento do camisa 7 alviverde com Rony e Raphael Veiga é um dos pontos mais fortes do atual campeão brasileiro e talvez uma das grandes armas ofensivas de Abel Ferreira. Dudu é o atacante rompedor e altamente talentoso que toda a equipe gostaria de ter. E é por isso que sua ausência vem sendo bastante sentida.
Ao contrário de Flamengo, Atlético-MG e Botafogo (que possuem elencos mais robustos), o Palmeiras se notabilizou pelos grupos mais enxutos. Aliás, essa é uma marca da passagem de Abel Ferreira no clube, essa capacidade de tirar muito de um número não tão grande de atletas e manter o nível de exigência alto apesar da pouca rotatividade em comparação com seus adversários diretos. É por isso que (na opinião deste que escreve) a ausência de Dudu será um dos maiores problemas que o treinador português já enfrentou nesses anos. É o tipo de dor de cabeça que nenhum técnico gostaria de ter. Ainda mais quando se sabe que o Palmeiras ainda briga por títulos importantes nessa temporada.
Percebam que Abel Ferreira encontrou a escalação ideal do Palmeiras a partir do momento em que posicionou Rony como “falso nove”, Raphael Veiga como “10” e Dudu puxando os contra-ataques pelos lados do campo num 4-2-3-1 de extrema movimentação e de muita organização em todos os setores. Não é exagero afirmar que estamos falando de um dos trios ofensivos mais entrosados e envolventes do futebol sul-americano (e não é de hoje). Em 2023, com a saída de Gustavo Scarpa e a chegada de Artur, Dudu foi jogar mais pelo lado esquerdo, sempre arrastando as defesas adversárias e abrindo espaços para os companheiros de equipe. Destaca-se também a boa dupla com Piquerez nesse setor.
A lesão sofrida na partida contra o Vasco (no dia 27 de agosto) fez com que Abel Ferreira começasse a buscar soluções. A partida contra o Deportivo Pereira (pelas quartas de final Libertadores) parecia uma boa oportunidade de se fazer testes com novos desenhos táticos (muito por conta da vantagem obtida no jogo na Colômbia). A aposta da vez foi num 3-5-2/3-4-1-2 sem muita profundidade que tinha Luan ao lado de Gustavo Gómez e Murilo, Raphael Veiga como uma espécie de enganche e Zé Rafael recuado demais em relação da Richard Ríos. Faltou mais apoio de Piquerez e Marcos Rocha pelos lados numa partida em que o Palmeiras esteve muito mais acomodado do que o costume.
Já no clássico contra o Corinthians realizado no último domingo (3), Abel Ferreira desfez o esquema com três zagueiros e apostou em algo mais próximo de um 4-1-4-1/4-3-3, com Gabriel Menino mais alinhado a Raphael Veiga, Mayke aberto pelo lado direito e Artur no outro lado. A ideia aqui (pelo menos à primeira vista) era ter um time com mais profundidade e que buscasse a linha de fundo. Mesmo jogando fora de casa, o Palmeiras teve mais posse de bola e finalizou mais a gol do que seu adversário. Tanto que o goleiro Cássio foi um dos grandes nomes da partida com defesas quase cinematográficas. Por outro lado, faltou justamente o toque de qualidade que Dudu dá nas jogadas de ataque.
Este que escreve viu a formação do empate sem gols com o Corinthians como a melhor saída ou pelo menos a melhor forma de amenizar a ausência de Dudu. A ultrapassagem dos laterais também será importante para que o time não perca consistência sempre que estiver com a posse da bola. Mesmo assim, é impossível não ver uma perda significativa na qualidade e na contundência do Palmeiras sem seu principal jogador (ou pelo menos um dos principais). Dudu era justamente o “diferente”, isto é, o jogador que conseguia soluções rápidas para problemas que se mostravam grandes demais dentro de campo. Era também o toque de classe e o jogador que conseguia romper as defesas adversárias na base do drible.
É por tudo isso e muito mais que a lesão do camisa 7 caiu como uma bomba na comissão técnica do Palmeiras. Não há outro jogador com a capacidade de Dudu dentro do elenco e Abel Ferreira sabe muito bem disso. Essa situação já pode ser considerada a maior dor de cabeça que o treinador português teve no seu período no clube. E some isso com a proximidade de jogos importantes pelo Brasileirão (onde o time ainda persegue o Botafogo) e as duas partidas contra o Boca Juniors pelas semifinais da Libertadores. Encontrar soluções é palavra de ordem no Palmeiras.