Home Futebol Arthur Elias assume a Seleção Feminina com a missão de dar o passo que Pia Sundhage não deu; entenda

Arthur Elias assume a Seleção Feminina com a missão de dar o passo que Pia Sundhage não deu; entenda

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as ideias do novo técnico do Brasil e a lista divulgada no dia 1º de setembro

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

De fato, era muito difícil imaginar a permanência de Pia Sundhage no comando da Seleção Feminina não somente pela péssima campanha na Copa do Mundo Feminina, mas por toda a fritura feita em cima da treinadora sueca no último ciclo. Ao mesmo tempo, não é difícil concluir que Arthur Elias era o nome mais certo para apaziguar os ânimos na imprensa esportiva e na torcida brasileira, que cobravam por um time “mais brasileiro” e mais próximo da “essência do futebol jogado no Brasil” (mesmo que estes não saibam dizer o que isso significa realmente). Essa é a nossa visão das tarefas mais urgentes de Arthur Elias à frente da Seleção Feminina. Ainda que com alguns dias de atraso.

Quem acompanha o espaço aqui no TORCEDORES já sabe que o grande equívoco, o grande erro de Pia Sundhage foi não confiar no processo de renovação que ela mesma propôs no último (e promissor) ciclo até a Copa do Mundo Feminina. Enquanto as “novinhas” pediam passagem, a treinadora sueca apostou suas fichas nas veteranas, justo as jogadoras que entregaram um desempenho muito baixo nos últimos meses. Não é difícil concluir que a primeira grande missão de Arthur Elias é aproveitar esse legado da comissão técnica anterior e dar o passo que não foi dado anteriormente. Aproveitar o legado de Pia Sundhage (que existe e é riquíssimo) e finalmente dar espaço para a nova geração que vem surgindo.

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É lógico que Arthur Elias sabe onde está se metendo e tem plena noção de toda a expectativa colocada sobre seus ombros. Afinal de contas, ele é o treinador que vai “salvar o futebol brasileiro” de acordo com alguns mais emocionados. É também o nome de consenso e o que vai tirar o alvo de cima da CBF e seus dirigentes. A convocação de Cristiane e de outros nomes pedidos pela imprensa esportiva para o período de treinamentos na Granja Comary passa mais pela necessidade de se encontrar um pouco de tranquilidade nesse início de trabalho do que a aposta consciente nessas jogadoras. O que não quer dizer, por outro lado, que elas não possam ser úteis nesse novo ciclo.

O estilo de jogo de Arthur Elias é bem conhecido de todos. O treinador da Seleção Feminina tem predileção por equipes ofensivas e que marcam no campo adversário (embora isso não seja uma regra imutável). A saída de bola pode ser feita pelo chão desde a goleira e passando pelas zagueiras até chegar no campo ofensivo. Ou através das ligações diretas caso seja necessário. Seja como for, os times de Arthur Elias gostam de ter a bola e de ocupar espaços nas defesas adversárias. As duas partidas do Corinthians contra o Santos pelas semifinais do Brasileirão Feminino mostraram bem essa dinâmica de movimentação constante e intensidade alta no ataque à área das suas oponentes.

Tamires recebe a bola na esquerda e vê Yasmim atacando o espaço às costas da última linha. Ao mesmo tempo, Jheniffer ataca o espaço aberto na área. Foto: Reprodução / TV Globo
Tamires recebe a bola na esquerda e vê Yasmim atacando o espaço às costas da última linha. Ao mesmo tempo, Jheniffer ataca o espaço aberto na área. Foto: Reprodução / TV Globo

Arthur Elias utiliza elementos de várias “escolas” e isso é facilmente perceptível. Mas talvez um dos seus pontos mais fortes seja a potencialização das atletas. O treinador da Seleção Brasileira sabe tirar o melhor de cada jogadora e não é raro vê-lo escalando uma lateral na zaga ou uma meio-campista como atacante de movimentação. Foi assim com Yasmim na zaga durante a Libertadores Feminina de 2021 e com Gabi Zanotti na decisão do Paulistão Feminino no mesmo ano. Esse estilo potencializa ainda mais as características das jogadoras em campo, visto que cada uma acaba sendo escalada numa função mais específica e com tarefas bem determinadas. E tudo sem perder organização.

Paulinha aciona Milene por dentro e esta trabalha a bola com Ju Ferreira até o gol de Fernandinha. O Corinthians de Arthur Elias sabe ocupar os espaços. Foto: Reprodução / TV Globo
Paulinha aciona Milene por dentro e esta trabalha a bola com Ju Ferreira até o gol de Fernandinha. O Corinthians de Arthur Elias sabe ocupar os espaços. Foto: Reprodução / TV Globo

No entanto, não existe equipe invencível e nem esquema tático livre de falhas no futebol. O estilo de jogo implementado por Arthur Elias nas suas equipes, embora seja bastante agradável de ser visto, exige concentração máxima das suas jogadoras no controle da profundidade (o popular “correr para trás”) e no espaço entrelinhas. A campanha ruim na Libertadores Feminina de 2022 é um bom exemplo de como o Corinthians sofreu com equipes que exploravam bem as costas da última linha (além, é claro, dos equívocos na lista de inscritas para a competição). Esse é um ponto que vai exigir muita atenção de Arthur Elias na Seleção Feminina. Mesmo com mais material humano para trabalhar.

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No entanto, não existe equipe invencível e nem esquema tático livre de falhas no futebol. O estilo de jogo implementado por Arthur Elias nas suas equipes, embora seja bastante agradável de ser visto, exige concentração máxima das suas jogadoras no controle da profundidade (o popular "correr para trás") e no espaço entrelinhas. A campanha ruim na Libertadores Feminina de 2022 é um bom exemplo de como o Corinthians sofreu com equipes que exploravam bem as costas da última linha (além, é claro, dos equívocos na lista de inscritas para a competição). Esse é um ponto que vai exigir muita atenção de Arthur Elias na Seleção Feminina. Mesmo com mais material humano para trabalhar.
O controle da profundidade e o espaço entrelinhas e às costas da defesa são os pontos fracos das equipes de Arthur Elias. É um ponto que merece atenção. Foto: Reprodução / TV Globo

A lista de trinta jogadoras convocadas para o período de treinamentos na Granja Comary também indica que Arthur Elias quer dar chances a jovens valores e a nomes que não tiveram chances com Pia Sundhage. Destacam-se aqui Katiuscia (lateral do Corinthians), Brena (volante do Santos), Eudmilla (atacante da Ferroviária), Amanda Gutierres (atacante do Palmeiras) e Jheniffer (atacante do Corinthians). A base usada no último ciclo também está presente (com o retorno de Cristiane) e é natural que seja assim. Não é difícil imaginar todo o grupo da última Copa do Mundo ganhando esse “plus” com o estilo mais ofenisvo de Arthur Elias. E olha que alguns bons nomes ficaram de fora da lista.

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Seja como for, está claro para este que escreve que é preciso dar o passo que Pia Sundhage não deu nesse último ciclo. E as veteranas podem ajudar nesse processo e até manter um certo protagonismo caso consigam render sob o comando de Arthur Elias. Não é por acaso que o novo treinador da Seleção Feminina sabe que tem um ótimo material humano em mãos e plenas condições de fazer sua equipe brigar na primeira prateleira. No entanto, o caminho não será dos mais fáceis. A cobrança por resultados vai ser ferrenha. Mesmo sendo ele o “preferido” de todos.

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