Antes de mais nada, é preciso dizer que a lista de convocados para os amistosos contra Marrocos nos dias 8 e 12 de setembro está recheada de ótimas opções em todos os setores. Há, inclusive, jogadores que poderiam estar na convocação de Fernando Diniz sem maiores problemas ou discussões. Dito isto, essa fartura de talento na Seleção Olímpica pode aumentar o tom das cobranças em cima do trabalho de Ramon Menezes. Por mais que o treinador tenha montado uma equipe competitiva e conquistado o Campeonato Sul-Americano Sub-20 com méritos, as atuações do Brasil na Copa do Mundo da categoria deixaram a sensação de que as coisas poderiam ter sido melhores.
Isso porque não foram poucas as vezes em que o time se mostrou mais nervoso e apresentou alguns problemas de ordem tática no Mundial disputado na Argentina entre os meses de maio e junho. Principalmente nas atuações contra a Itália (na rodada de abertura da Copa do Mundo) e Israel (nas quartas de final). Este que escreve entende que Ramon Menezes teve desfalques importantes em cima da hora por conta da dificuldade na liberação de alguns jogadores. No entanto, não faltava talento à disposição do treinador. Ainda mais com Marcos Leonardo, Savinho, Andrey Santos, Marlon Gomes, Giovane e outros à disposição. O Brasil poderia sim ter chegado bem mais longe nesse Mundial.
Eu e você sabemos que Ramon Menezes utiliza vários elementos do “jogo de posição” e que conseguiu tirar da Seleção Brasileira momentos de bom futebol. Se o treinador apostou num 4-3-3 durante o Campeonato Sul-Americano, a opção na Copa do Mundo foi por um 4-4-2/4-2-4 que trazia Marquinhos mais por dentro, Matheus Martins e Savinho pelos lados e Marcos Leonardo no comando de ataque. Com dois volantes de bom toque de bola e chegada forte no ataque, não foram poucas as vezes em que o Brasil levou perigo para seus adversários nessa última Copa do Mundo Sub-20. Principalmente quando teve calma para trabalhar as jogadas ofensivas e buscar a melhor tomada de decisão.
Uma das características mais fortes do time comandado por Ramon Menezes eram as triangulações e trocas de passe no campo ofensivo. Os jogadores são incentivados a buscarem o espaço atrás da última linha ou entre os volantes e zagueiros adversários. Essa movimentação (sempre feita em alta velocidade) foi responsável pelas principais chances de gol criadas pela Seleção Brasileira no Mundial Sub-20. É possível sim dizer que a equipe poderia ter ido melhor na competição se Ramon tivesse todos os jogadores que convocou à disposição. Mesmo assim, o Brasil conseguia ser evolvente. Principalmente quando um dos volantes subia para pisar na área adversária.
No entanto, um dos problemas percebidos naquele time era a falta de compactação entre os setores em determinados momentos. Principalmente quando Ramon Menezes optava pela entrada de mais um volante para jogar junto de Andrey Santos e Marlon Gomes. Por mais que a Seleção Brasileira ainda marcasse com duas linhas na frente da sua área, os jogadores concediam espaços demais para que os adversários pudessem trabalhar as jogadas. Sem essa pressão em cima do portador da bola, as coisas ficaram mais complicadas. E não foi por acaso que o primeiro gol de Israel na eliminação brasileira nas quartas de final, saiu dessa marcação mais frouxa. É algo a ser trabalhado.
Conforme mencionado anteriormente, Ramon Menezes terá um material humano muito mais farto para trabalhar na Seleção Olímpica. Primeiro por poder contar com jogadores de até 24 anos (já visando uma futura convocação para o Pan de Santiago) e depois pelo amadurecimento natural do grupo que venceu o Sul-Americano Sub-20 e a Copa do Mundo da categoria. E é exatamente por tudo isso que ele deverá ser muito mais cobrado. Há condições de se reforçar os pontos fortes do seu esquema de jogo e (de quebra) corrigir parte dos problemas vistos no seu trabalho até o momento por conta de todos os nomes disponíveis e as opções táticas que cada um deles traz. Há como se montar um belo time.
Este que escreve viu a convocação da Seleção Olímpica com muito mais interesse do que a principal por conta dessas possibilidades. Repitimos: não é absurdo ver João Gomes, Danilo, Vitor Roque e outros atletas desse grupo recebendo chances na equipe de cima num futuro nem tão distante assim. A grande questão é saber como essa transição será feita e como Ramon Menezes vai lidar com a pressão de fazer esse elenco render aquilo que se espera. Há material humano de altíssima qualidade. E ele será muito cobrado por isso. Podem ter toda a certeza que isso vai acontecer em breve.