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Seleção feminina dá show de jogo coletivo e estreia na Copa do Mundo da melhor maneira possível

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca as escolhas de Pia Sundhage e a atuação do Brasil na goleada sobre o Panamá

Por Luiz Ferreira em 25/07/2023 08:51 - Atualizado há 11 meses

Thaís Magalhães / CBF

Eu nem preciso dizer que estrear na Copa do Mundo Feminina com vitória é o que toda equipe deseja num torneio desse tamanho. E com o Brasil não foi diferente. No entanto, não é preciso apenas vencer seu adversário. É preciso deixar uma boa impressão, um cartão de visitas. E foi isso que a equipe comandada por Pia Sundhage fez nessa segunda-feira (24). A Seleção Brasileira venceu o Panamá por quatro a zero e brindou o torcedor com um show de jogo coletivo, belos lances e golaços. Mas talvez a grande notícia dessa vitória tenha sido a forma como o Brasil construiu a goleada no Hindmarsh Stadium. E isso tem a ver com uma “virada de chave” em todo o elenco brasileiro.

Tudo bem que o Panamá não pode ser considerado um adversário à altura para a Seleção Feminina e que ele deve ser o “fiel da balança” no Grupo G da Copa do Mundo. Por outro lado, é preciso reconhecer que o Brasil fez por merecer o resultado elástico. A tal “virada de chave” ocorrida no último ano desse ciclo tem a ver com isso. A postura é muito diferente de alguns meses atrás. A estreia das comandadas de Pia Sundhage na Copa América de 2022 (com vitória por quatro a zero sobre a Argentina) nos mostrou um Brasil meio desinteressado e apático apesar do resultado elástico. Nesta segunda-feira (24), no entanto, a postura foi radicalmente diferente. Esse é o ponto principal.

Pia Sundhage mandou a sua equipe a campo organizada no seu 4-4-2 costumeiro com Lauren formando dupla de zaga com Rafaelle e Bia Zaneratto ao lado de Debinha no comando de ataque. Desde os primeiros segundos do jogo no Hindmarsh Stadium, a Seleção Feminina foi ocupando o campo de ataque sem deixar que seu adversário sequer tivesse tempo para pensar no que fazer. Tamires e Antônia (principalmente a camisa seis) aproveitavam bem o corredor aberto por Ary Borges e Adriana, Debinha arrastava a marcação e Bia Zaneratto jogava como “camisa dez” de ofício, recuando e ocupando o espaço entrelinhas do Panamá e distribuindo bons passes. A postura agressiva logo daria resultados.

A Seleção Feminina entrou em campo organizada num 4-4-2 de muita presença ofensiva e que conseguiu criar espaços no 5-4-1 panamenho. Foto: Reprodução / YouTube / CazéTV

O Brasil encontrava muita facilidade pelo lado esquerdo de ataque, onde Tamires, Adriana e Debinha levavam ampla vantagem sobre Katherine Castillo, Carina Baltrip-Reyes e Natalia Mills. Além disso, Bia Zaneratto e Debinha puxavam a marcação e abriam os espaços para as infiltrações de Kerolin, Luana e Ary Borges. A facilidade que a Seleção Feminina encontrou diante do Paraná não era obra do acaso. O time de Pia Sundhage encaixou muito bem a marcação na saída de bola adversária e ainda deu aulas de pressão pós-perda. De acordo com os números da própria FIFA, o Brasil demorava sete segundos para retomar a posse e iniciar novo ataque. Estamos falando de plano de jogo bem executado.

Os pontos mais fortes da Seleção Feminina contra o Panamá foram a marcação encaixada na saída de bola e a forte e eficiente pressão pós-perda. Foto: Reprodução / YouTube / CazéTV

Com o time organizado e bastante concentrado em cada movimentação do adversário dentro de campo, não demorou muito para que o Brasil se impusesse na base da força física e do talento individual. Os dois primeiros gols da Seleção Feminina nasceram de cruzamentos vindos da esquerda buscando as infiltrações de Ary Borges por trás da última linha panamenha. Mas o terceiro gol (marcado por Bia Zaneratto) merece destaque não somente pela assistência da camisa 17, mas pelo conjunto da obra. Triangulações, toques rápidos, movimentação constante e organizada, jogadas de ultrapassagem e técnica apurada para descomplicar as coisas. Golaço que resume bem tudo que Pia Sundhage pede.

Ary Borges faria seu terceiro gol na partida (e o quarto da Seleção Brasileira) em mais uma jogada que começa no lado esquerdo e que termina com cruzamento buscando a camisa 17 se infiltrando na defesa do Panamá. A postura da equipe não mudou nem depois das substituições promovidas por Pia Sundhage. O Brasil não tirou o pé e manteve a postura agressiva com o 4-4-2 costumeiro da treinadora sueca ganhando novas características com a qualidade dos passes de Bruninha e Duda Sampaio, a presença de área e velocidade de Geyse e Gabi Nunes e todo o talento e experiência da Rainha Marta. Tirando um vacilo ou outro na defesa, o time não comprometeu e fez por merecer o resultado.

O Brasil manteve a postura agressiva com as entradas de Duda Sampaio, Marta, Geyse, Gabi Nunes e Bruninha. O 4-4-2 ganhou outras características. Foto: Reprodução / YouTube / CazéTV

A vitória sobre a não mais do que esforçada equipe do Panamá dá sim confiança para a Seleção Feminina seguir sua caminhada em busca da primeira estrela. E ver que algumas equipes da primeira prateleira encontraram mais dificuldades do que o normal nessa primeira rodada da Copa do Mundo só deixa a certeza de que o Brasil pode sim complicar a vida de muita gente. Mesmo não sendo favorito ao título. Esse é o ponto principal dessa análise. A concentração do time logo na estreia e a forma como a goleada sobre o escrete panamenho foi construída são provas definitivas do amadurecimento de um elenco que passou por muita coisa nesse ciclo. Isso é o que o campo mostra.

No entanto, a partida contra a França vai exigir um nível de intensidade e concentração ainda maior das comandadas de Pia Sundhage. Não será fácil parar Le Sommer, Diani, Cascarino e companhia. Ainda mais sabendo que o time comandado por Hervé Renard vai entrar em campo precisando da vitória para não se complicar na fase de grupos. Colocar em prática tudo aquilo que vimos na segunda-feira (24) contra as francesas será um desafio de proporções épicas para todo o time brasileiro nessa caminhada em busca da primeira estrela no uniforme.

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