É possível dizer que o São Paulo fez a grande contratação dessa janela de transferências. James Rodríguez não traz apenas a grife de quem passou por clubes como Porto, Real Madrid e Bayern de Munique, mas é o jogador que muitas equipes sonharam em ter nos seus elencos nesses últimos anos. A grande dúvida sobre o colombiano, no entanto, reside no fato da sua própria relação com o futebol. O último clube de James foi o Olympiacos (da Grécia) onde jogou muito menos do que o esperado. Não é por acaso que o torcedor tricolor tem a esperança de que o novo reforço do clube finalmente reencontre o futebol que o transformou em destaque da Copa do Mundo de 2014 com as cores do São Paulo.
Mais experiente e mais “cascudo”, James Rodríguez tem uma boa chance para relembrar os velhos tempos num clube que briga por pelo menos três títulos ainda nessa temporada. O torcedor lembra dele como o camisa 10 e grande “cérebro” do bom time da Colômbia comandado por José Pekerman. Além de James, “Los Cafeteros” contavam com Téo Hernández, Guarín, Cuadrado, Ospina, Carlos Sánchez e outros bons nomes na melhor campanha da equipe num Mundial em toda a história. No entanto, é preciso deixar bem claro que muita coisa no futebol mudou nesses últimos nove anos.
James Rodríguez era jogador bem dinâmico nos seus primeiros anos. Tanto que foi isso que fez com que ele fosse contratado a peso de ouro pelo Real Madrid quando atuava pelo Monaco. Nas últimas temporadas, ele se notabilizou por ser muito mais um organizador de jogadas do que o “camisa 10” que rompe a última linha buscando o centroavante. Tanto que ele quase sempre foi escalado por trás de uma linha de três atacantes no time comandado por Reinaldo Rueda durante as Eliminatórias da Copa do Mundo do Catar e nas últimas equipes por onde passou.
Apesar da enorme qualidade com a bola nos pés, a falta de combatividade e o fato de se “desligar” do jogo em determinados momentos fizeram com que James Rodríguez fosse perdendo espaço nos times mais fortes do planeta. Não é por acaso que seu estilo de jogo pede mais espaço e um pouco mais de tempo para buscar a melhor opção de passe para os companheiros. Não foi por acaso que Reinaldo Rueda apostou nele como uma espécie de “regista” nas Eliminatórias passadas. Era bem comum ver James descendo até a última linha paa organizar o jogo ou até se posicionando como volante para fugir da “confusão” enquanto os atacantes resolviam lá na frente. Tudo para ter tempo e espaço.
Mesmo assim, James Rodríguez ainda sabe muito bem o que fazer com a bola. O fato de vir mais de trás permite que o craque colombiano enxergue o jogo de frente e tenha tempo para fazer a melhor opção de passe buscando as infiltrações dos atacantes (uma das suas especialidades) ou até mesmo o forte chute de perna esquerda que o notabilizou na Copa do Mundo de 2014. E seu futebol sempre aparece quando joga com atletas velozes e que sabem usar bem a linha de fundo. Foi assim na Colômbia em 2014 e durante toda a sua carreira depois do Mundial do Brasil.
É interessante notar também o posicionamento mais cauteloso permite que James Rodríguez use e abuse dos lançamentos buscando os pontas que rompem a última linha. Sem dúvida, foi uma das principais armas ofensivas da Colômbia nessa última temporada e pode ser muito bem usada no São Paulo com Dorival Júnior (que é o tipo de treinador que sabe se adaptar bem às características do elenco que tem em mãos). Se tiver espaço e uma equipe que jogue por ele, é bem capaz que James consiga se transformar no “cérebro” que o Tricolor Paulista tanto procura.
O grande “porém” está no aspecto defensivo. Não é surpresa pra ninguém que as principais críticas com relação ao futebol de James Rodríguez tratam da sua aplicação na marcação e do fato do colombiano se manter mais alheio ao que acontece dentro de campo. Na Colômbia de Reinaldo Rueda, era utilizado como camisa dez de ofício num 4-2-3-1 que vira um 4-4-1-1 nos momentos defensivos. Tendo opções para distribuir passes e acionar os homens de frente, é bem possível que James Rodríguez se transforme na grande referência técnica de um São Paulo que vem crescendo de produção nesses últimos meses. Mas está claro que o colombiano vai precisar se doar como não se doou nessa temporada.
É verdade que estamos falando de um grande jogador e de um nome que chega com pompas e circunstâncias na liga mais forte da América do Sul. Por outro lado, é bom sempre lembrar que o James Rodríguez que a maioria dos torcedores se lembram é aquele que brilhou na Copa do Mundo de 2014. Nem é preciso dizer que muita coisa aconteceu de lá pra cá e que o próprio James sofreu com o passar do tempo. Além de colecionar críticas sobre sua forma física e sua dedicação nos clubes por onde passou, é considerado como um jogador que “não vingou” no futebol europeu. É por isso que sua chegada no São Paulo pode ser uma das suas últimas chances de mostrar que quer sim jogar futebol em alto nível.
Este que escreve mantém a afirmação feita no início desta análise. James Rodríguez é a grande contratação dessa janela de transferências. É a que mais chamou a atenção e a que mais promete entregar desempenho dentro de campo. Resta saber se ele quer recuperar os velhos tempos e se transformar em ídolo de uma torcida exigente e que sofreu muito com experiências frustradas nesses últimos anos. Se entrar em forma e mostrar vontade para jogar, o colombiano tem tudo para colocar o São Paulo num patamar bem alto e fazer muita gente sonhar com títulos e glórias.