Copa do Mundo Feminina: derrota do Brasil para a França é marcada pela postura frouxa e pelo choque de realidade
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Pia Sundhage e a atuação da Seleção Feminina neste sábado (29)
Antes de iniciar a análise da derrota da Seleção Feminina para a França neste sábado (29), é preciso deixar bem claro que o favoritismo no confronto estava no outro lado do campo. Reconhecer isso é entender que o futebol feminino praticado aqui por estas bandas ainda não está no mesmo nível do jogado em outros países por uma série de motivos. Por outro lado, por mais favorita que a França fosse, fica também a certeza de que o Brasil poderia ter feito mais na partida disputada no Brisbane Stadium. Mesmo com todas as dificuldades. Só que a postura mais frouxa, as tomadas de decisão erradas e a falta de concentração em lances capitais cobraram seu preço neste sábado (29).
Não é de hoje que a equipe comandada por Pia Sundhage encontra muitos problemas para lidar com adversários que impõem um jogo mais físico e mais intenso. Exatamente como a França fez neste sábado (29). Não deixa de ser um choque de realidade por conta do contexto onde cada seleção está inserida (principalmente para os mais “emocionados”), mas também não deixa de ser frustrante por conta do bom início de segundo tempo que a equipe de Pia Sundhage jogou e das chances desperdiçadas ao longo da partida. Era possível sim arrancar um ponto (ou até mais) do forte selecionado francês. Mesmo com Diani, Le Sommer, Renard e companhia provocando todo tipo de dificuldades para a Seleção Feminina.
Muito do jogo francês passa pela postura mais agressiva na marcação e pela forte pressão na saída de bola brasileira. Vale destacar aqui o grande jogo sem bola praticado pelas volante Grace Geyoro e Sandie Toletti. Sempre que o Brasil iniciava as jogadas com Lauren ou Rafaelle, as duas subiam junto com as pontas Kenza Dali e Selma Bacha sempre fechando em cima de Luana e Kerolin. Sem ter como sair, as zagueiras brasileiras eram obrigadas a forçar o passe pelo lado ou optar pelo passe longo. Com a defesa ligada na movimentação de Geyse e Debinha e com Adriana e Ary Borges presas no lado do campo, a França encontrou o “mapa da mina” para dominar o meio e sair na frente no placar.
Não demorou muita coisa para que Le Sommer abrisse o placar na clássica jogada de bola aérea da França. Karchaoui levantou na área, Diani apareceu às costas da defesa e só escorou para a camisa nove balançar as redes. Enquanto isso, o Brasil errava demais nos passes e ao cair no jogo de “trocação” contra as francesas. O time comandado por Pia Sundhage só melhorou quando as jogadoras de meio-campo começaram a se aproximar mais umas das outras e quando a pressão ficou mais encaixada. Na melhor chance da primeira etapa, Geyse conseguiu retomar a posse e Debinha deixou Adriana livre na marca do pênalti, mas a camisa onze finalizou por cima. Chance que não pode ser desperdiçada de jeito nenhum.
A postura mais frouxa e sem confiança da Seleção Feminina daria lugar a um jogo mais intenso no início do segundo tempo. Ary Borges cresceu de produção ao deixar o lado do campo e se aproximar de Luana e Kerolin. A camisa 21, por sua vez, conseguiu o espaço que tanto buscava para pisar na área e criar as jogadas de ataque. Adriana abriu o corredor para Tamires e Geyse passou a explorar mais as costas de Karchaoui e Debinha saía da esquerda para dentro. Foi assim que nasceu o gol de empate brasileiro. Com as jogadoras se aproximando umas das outras e fugindo da “trocação” contra a França com toques rápidos e precisos e muita intensidade na movimentação com e sem a bola.
Só que o tempo foi passando e a França de Hervé Renard voltou a ganhar volume de jogo com a entrada de Vicki Becho no lugar de Le Sommer. A necessidade de dar gás à Seleção Feminina fez com que Pia Sundhage optasse pela entrada de Andressa Alves no lugar de Geyse (talvez por identificar elementos semelhantes ao jogo contra a Inglaterra pela Finalíssima). No entanto, os planos da treinadora sueca caíram por terra com o gol de Wendie Renard aos 37 minutos da segunda etapa numa falha de marcação até agora inexplicável. A zagueira francesa é especialista nessa jogada e tem méritos, mas é difícil entender a pane mental que tomou conta da Seleção Feminina numa bola cantada por muita gente.
Depois do gol, a Seleção Feminina não conseguiu fazer mais nada e perdeu a velocidade que tinha com as entradas de Bia Zaneratto, Mônica e Ana Vitória. Este que escreve entende a necessidade de se ter quem prendesse a bola no ataque, mas Pia Sundhage poderia ter mantido a estrutura básica da equipe com a manutenção de Geyse e as entradas de Bruninha e Gabi Nunes, jogadoras mais novas. Além disso, Marta poderia ter entrado bem antes para melhorar o passe. Conforme mencionado anteriormente, a derrota não deixa de ser um resultado “normal” dadas as circunstâncias e o contexto geral. Mas a sensação que fica não é nada boa. Principalmente sabendo que o Brasil competiu e criou chances para virar.
O resultado não é o fim do mundo como alguns dizem por aí. A Seleção Feminina precisa colocar a cabeça no lugar, aprender com os erros cometidos contra a França e partir para a decisão contra a Jamaica na próxima quarta-feira (2) para aí sim traçar a sua estratégia para a próxima fase. O Brasil mostrou mais de uma vez que pode sim competir e incomodar as equipes da primeira prateleira. No entanto, é preciso que as jogadoras entendam bem a necessidade de se manter o nível de intensidade e concentração lá em cima. É isso ou a eliminação.