A derrota para o Goiás nesta quinta-feira (22) não foi apenas a última partida de Maurício Barbieri à frente do Vasco. O que se viu em São Januário foi um time que até que conseguiu incomodar o Esmeraldino em alguns momentos, mas que acabou tropeçando nas próprias pernas mais uma vez e sucumbindo diante de um adversário que apenas se organizou em campo e fez o simples. É possível sim apontar dedos para o trabalho ruim de Maurício Barbieri (ver números abaixo), mas não se pode esquecer que a equipe vem sendo vítima das expectativa criada pelos donos da SAF no começo da temporada. Com apenas seis pontos em onze rodadas, o caminho do Vasco é longo e tortuoso.
Não se quer aqui tirar os méritos do Goiás de Armando Evangelista. O treinador português entendeu o contexto da partida e montou sua equipe de acordo com o que viria pela frente. Era de se esperar que o Vasco fosse se lançar ao ataque desde o início da partida e assim aconteceu. Podemos dizer que o time comandado por Maurício Barbieri dominou as ações na primeira etapa. O 4-3-1-2 da derrota para o Internacional foi mantido com Marlon Gomes jogando como “enganche”, Andrey Santos e Mateus Carvalho se aproximando de Rayan e Alex Teixeira a todo momento.
Com Puma Rodríguez e Lucas Piton bem abertos e Zé Gabriel afundando entre os zagueiros, o Vasco dava a impressão de jogar numa espécie de 3-4-1-2 em alguns lances. Faltava, no entanto, o capricho na conclusão das jogadas para furar o 4-1-4-1 de Armando Evangelista. Willian Oliveira se posicionava na frente da zaga, Zé Ricardo permanecia um pouco mais preso e Everton Morelli encostava mais em Matheus Peixoto, a referência móvel da equipe. Apesar da organização, o Goiás sofria com as inversões de bola do Vasco, sempre nas costas dos laterais Maguinho e Sander.
O gol de Andrey Santos anulado por impedimento milimétrico foi um duro golpe na confiança do Vasco. Depois disso, o time passou a atuar de maneira mais desorganizada e a dar ainda mais espaços para um Goiás que praticamente só saía na boa. Para conter os avanços constantes de Pumita e Lucas Piton, o técnico Armando Evangelista se inspirou no seu compatriota José Mourinho e “estacionou o ônibus”. Julián Palacios e Diego Gonçalves fechavam os lados do campo quase como “ajudantes de laterais” e formavam uma linha de seis jogadores na frente da área do goleiro Tadeu. Por mais que o Vasco tivesse a posse da bola e encontrasse espaços, faltava o jogador do “último passe” na equipe.
Conforme o tempo ia passando, o Goiás ia percebendo que poderia usar a afobação do seu adversário e a forte pressão da torcida vascaína em São Januário a seu favor. Aos poucos, o time começou a sair mais e a aproveitar os espaços às costas dos laterais e dos volantes. Mesmo assim, o melhor momento do time na primeira etapa foi no gol anulado de Lucas Halter por impedimento também milimétrico. Com Willian Oliveira mais ligado em Marlon Gomes, Alex Teixeira e Rayan encaixotados na defesa e Andrey bem vigiado por Everton Morelli, o Esmeraldino foi fechando os espaços e aumentando a pressão em São Januário em cima de um Vasco que começava a perder a mão e o jogo.
É preciso dizer que Maurício Barbieri mexeu muito mal no Vasco. As entradas de Pedro Raul, Gabriel Pec e Erick Marcus nos lugares de Marlon Gomes, Rayan e Mateus Carvalho, o escrete vascaíno perdeu a força e a criatividade que tinha no meio-campo. Não demorou muito para que o Goiás começasse a se impor na base do toque de bola e do jogo mais vertical com bolas lançadas às costas dos laterais. O gol marcado por Everton Morelli foi um retrato do atual momento do time. O camisa 40 recebeu passe na intermediária e teve todo o espaço do mundo para dominar e balançar as redes. Léo Jardim colaborou. Assim como todo a marcação do Vasco no lance. Time espaçado e sem intensidade.
O final da partida nos mostrou um perdido perdido diante da necessidade de (ao menos) empatar a partida e completamente acuado diante dos protestos da torcida. Aliás, depois do que aconteceu com a Vila Belmiro no clássico entre Santos e Corinthians, é muito difícil que o STJD não puna o Vasco com portões fechados ou até interdite São Januário. Com isso, a situação de Maurício Barbieri ficou insustentável. Por mais que o trabalho tivesse alguns pontos positivos no começo do ano, o que se via em campo era uma desorganização enorme em todos os setores e a confiança depositada em jogadores que acabaram de sair das categorias de base. Falta quem chame a responsabilidade no elenco.
A impressão que fica é que esse time não parece pronto para lidar com as expectativas criadas pela própria 777 Partners na compra da SAF do clube. O investimento em nomes questionáveis, o planejamento ruim para a temporada e um certo tom de arrogância na promessa de títulos e do fim dos tempos ruins cobram seu preço nesse meio de ano. E não pensem que a demissão de Maurício Barbieri é suficiente para resolver as coisas lá pelos lados de São Januário. O Vasco precisa de jogadores que assumam o protagonismo para ontem. Só assim a paz vai voltar ao clube.