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Seleção Brasileira goleia, novidades vão bem, mas indefinição sobre novo treinador ainda é um problema

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação da equipe comandada por Ramon Menezes contra a Guiné neste sábado (17)

Por Luiz Ferreira em 19/06/2023 00:18 - Atualizado há 11 meses

Joilson Marconne / CBF

O fato lamentável ocorrido com Felipe Silveira, amigo e assessor pessoal de Vinícius Júnior, já era motivo suficiente para que a CBF simplesmente cancelasse o amistoso contra Guiné ou que (pelo menos) exigisse que o imbecil que cometeu o ato racista fosse preso. No entanto, a bola rolou mesmo assim. Difícil entender o que se passa lá pelos lados da Barra da Tijuca e explicar por que a CBF decidiu fazer um “amistoso antirracista” justo num país que trata Vini Jr e vários outros jogadores dessa maneira. Este que escreve entende que o assunto da coluna é tática e as formas de se entender o jogo, mas é impossível fingir demência nessas horas. Ainda mais diante de um assunto tão sério.

É possível sim dizer que a Seleção Brasileira fez um bom jogo apesar das dificuldades impostas pelo contexto que todos nós já conhecemos. O que eu e você vimos no estádio Cornellà-El Prat foi uma equipe que se impôs meio que na base do talento individual e do bom entrosamento vindo da última Copa do Mundo. O jogo deste sábado (17) deixou claro que o Brasil ainda é forte com Ramon Menezes, mas a indefinição sobre o novo treinador ainda é um problema que precisa de solução urgente. E tal fato pôde ser notado em vários momentos da partida contra a aplicada seleção da Guiné. Por mais que o time fosse forte, a falta de uma linha de trabalho ainda é um problema que precisa de solução.

Ramon Menezes mandou a Seleção Brasileira a campo no seu conhecido 4-3-3 que se transforma num 2-3-5 nos momentos de posse com Ayrton Lucas na lateral e Joelinton junto de Casemiro e Lucas Paquetá. O final de temporada e o pouco tempo para treinamentos nos mostrou um time que tentou se impor na base do talento e das bolas longas buscando Vinícius Júnior e Rodrygo pelos lados e Richarlison mais centralizado no campo ofensivo. Mais atrás, Danilo (vez por outra) aparecia mais por dentro para auxiliar na construção das jogadas e Joelinton chegou a aparecer pela direita (quase como um ponta) em alguns momentos. No entanto, o Brasil encontrava dificuldades para entrar na defesa adversária.

O 4-3-3 de Ramon Menezes se desdobrava num 2-3-5 que tinha Joelinton como ponta pela direita e Danilo vindo mais por dentro para ajudar na criação. Foto: Reprodução / TV Globo

Os gols de Joelinton e Rodrygo mostraram que a Seleção Brasileira ainda é muito forte nas bolas paradas e que há talento de sobra para descomplicar as coisas dentro de campo. Mesmo assim, os problemas de criação e na saída de bola da equipe de Ramon Menezes eram escancarados sempre que a equipe da Guiné se fechava na defesa ou subia mais a marcação. Casemiro era o único que baixava para receber a bola dos zagueiros. Com Lucas Paquetá e Joelinton mais próximos do ataque e Ayrton Lucas mais espetado pela esquerda, não era difícil notar que o time se organizava nuam espécie de 3-1-6 sem compactação alguma. O gol de Guiné (marcado por Guirassy) saiu da exploração desses espaços na defesa brasileira.

Ayrton Lucas (fora da imagem) abria pela esquerda e os volantes se lançavam ao ataque. Casemiro era o único volante que ajudava na saída de bola. Foto: Reprodução / TV Globo

As coisas só melhoraram depois que Ramon Menezes lançou de um artifício que usou muito no Sul-Americano Sub-20 com a Seleção Brasielira. Ele adiantou Lucas Paquetá como um “camisa 10” de ofício e deixou Joelinton mais preso ao lado de Casemiro. Jogando no 4-2-3-1/4-2-4, a Seleção Brasileira conseguiu ser mais incisiva com Vinícius Júnior e Rodrygo saindo do lado para dentro e abrindo o corredor para a descida de Ayrton Lucas e Danilo. Ainda que a bola parada tenha salvado a equipe de Ramon Menezes no início da segunda etapa, a mudança na formação deixou o Brasil mais encorpado e mais compactado no meio-campo. Só faltou mesmo Richarlison entrar no jogo e fazer aquilo que se espera que ele faça.

Joelinton ficou mais próximo de Casemiro, Lucas Paquetá virou “camisa 10” e os pontas ganharam espaço. O Brasil melhorou com a mudança para o 4-2-3-1. Foto: Reprodução / TV Globo

A mudança na formação tática também permitiu que Vinícius Júnior crescesse na partida. Sempre partindo da esquerda para dentro, o atacante do Real Madrid formou boa dupla com Ayrton Lucas e ainda viu o time crescer com as entradas de Bruno Guimarães, Raphael Veiga, Malcom e Pedro mais para o final da partida. O 4-2-3-1 mencionado anteriormente foi mantido e ganhou ainda mais contundência com mais jogadores pisando na área e mais agressividade nas transições com o bloco um pouco mais baixo do que no primeiro tempo. Além disso, Malcom entrou bem e manteve o nível que Rodrygo deu para o lado direito de ataque da Seleção Brasielira. O gol de Vini fechou bem a boa vitória do Brasil diante de Guiné.

Bruno Guimarães, Raphael Veiga, Malcom e Pedro deram mais contundência para a Seleção Brasileira. E Vinícius Júnior ganhou mais espaço para jogar. Foto: Reprodução / TV Globo

É óbvio que estamos falando de um amistoso que soma pouco nesse ciclo apesar dos pontos destacados anteriormente. A indefinição sobre o técnico e a completa ausência de uma linha de trabalho na Seleção Brasileira talvez sejam os problemas mais graves atualmente. Por mais que Ramon Menezes tenha ganhado a confiança dos jogadores (pelo menos no discurso para a imprensa) e por mais que o time tenha feito o que se espera dele diante de um adversário mais fraco, ainda não vemos uma linha, uma ideia de jogo a ser trabalhada. Isso porque ainda não se sabe com certeza se Carlo Ancelotti será mesmo o treinador da Seleção Brasileira ou se a CBF tem um “plano B” em caso de negativa do italiano.

Este que escreve vai abordar a insistência da CBF pelo atual comandante do Real Madrid numa outra oportunidade. Por hora, é preciso ter em mente que essa indefinição sobre o novo técnico da Seleção Brasileira é o grande problema nesse início de ciclo (se é que podemos dizer que a equipe iniciou de fato esse ciclo da Copa do Mundo de 2024). Temos uma base, temos ótimos jogadores, talento de sobra e temos o entrosamento que vem desde os tempos de Tite. Falta só quem organize tudo dentro de campo. Sem essa figura, o Brasil vai continuar na mesma.

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