Manchester City conquista a tão desejada Liga dos Campeões graças à “teimosia” de Pep Guardiola
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação dos Citzens contra a valente Internazionale de Simone Inzaghi
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação dos Citzens contra a valente Internazionale de Simone Inzaghi
Poucos clubes mereceram tanto vencer a Liga dos Campeões da UEFA como o Manchester City de Pep Guardiola. A vitória sobre uma Internazionale muito bem treinada por Simone Inzaghi veio com o belo gol marcado por Rodri apenas aos 22 minutos da segunda etapa após bela jogada de Akanji e Bernardo Silva. Quem esperava um passeio dos Citzens viu a equipe de Manchester sofrer bastante para vencer a ótima marcação do seu adversário e também a camisa mais pesada e mais vitoriosa a nível continental. Foi aí que entrou a “teimosia” conhecida de Pep Guardiola. Onde muitos viram um “repeteco” da edição de 2020/21, o espanhol viu a grande chance para levantar a tão almejada taça.
Quem acompanha o espaço aqui no TORCEDORES sabe bem que o futebol é um esporte movido a caos e que se recusa a ser controlado. E ignorar essa característica talvez tenha sido o grande erro do treinador espanhol há dois anos, quando o seu Manchester City perdeu para o Chelsea em Lisboa na final da Champions daquele ano. No entanto, assim como aconteceu em vários momentos da sua vitoriosa carreira, Guardiola entendeu que precisava ceder em alguns aspectos. Principalmente quando se deparava com mais uma chance de levar mais uma Liga dos Campeões pra casa.
Essa postura mais adaptável com relação às características dos seus jogadores e firme com relação ao plano de jogo ajuda a explicar a escolha pelo retorno de Aké ao time do Manchester City. Guardiola manteve seu 3-2-4-1 com Stones se lançando ao ataque como volante e marcando como lateral pela direita, Rodri próximo de Gündogan e De Bruyne, Bernardo Silva e Grealish abertos como pontas e Haaland no comando de ataque. Exatamente como na conquista da Premier League e da FA Cup. Um time mais físico e brigador, mas sem perder a essência do seu “jogo de posição”.
É óbvio que muita gente reclamou que Walker havia voltado para o banco de reservas e se lembrou do que aconteceu em Lisboa dois anos atrás. Ainda mais quando a Internazionale deixou o Manchester City extremamente desconfortável com a marcação encaixada do 5-3-2 de Simone Inzaghi. Barella, Brozovic e Çalhanoglu fechavam as linhas de passe por dentro e obrigavam o time de Guardiola a usar os lados do campo, onde Bernardo Silva e Grealish estavam muito bem vigiados por Dumfries e Dimarco. Mais à frente, Dzeko acompanhava os volantes e Lautaro Martínez ficava mais à frente para puxar os contra-ataques. Além disso, o trio de zaga nerazzurri se desdobrava para negar espaços a Haaland.
Quem via o jogo no Estádio Olímpico Atatürk percebia claramente as dificuldades que o Manchester City encontrava para fazer a bola chegar no ataque. A pressão começava no meio-campo, onde Akanji, Rúben Dias e Aké carregavam a bola, mas trocavam passes pelos lados sem ter com quem jogar por conta da marcação forte da Internazionale e da forma como o time de Simone Inzaghi fechava as linhas de passe dos Citzens. Por mais que o meio-campo acelerasse, a Inter sempre respondia com superioridade numérica pelos lados do campo e muita pressão no portador da bola.
A tal “teimosia” de Pep Guardiola com relação ao seu plano de jogo pôde ser vista em dois momentos. O primeiro foi quando entendeu que sua equipe precisava ser mais vertical e orientou o trio de zaga a forçar o passe por dentro para De Bruyne e Gündogan às costas de Barella, Çalhanoglu e Brozovic. Com um dos zagueiros saltando para fechar a linha de passe, o “cometa” Haaland finalmente encontrou o espaço que tanto procurou para infiltrar nas costas da última linha. Faltou caprichar mais na conclusão das jogadas, mas o “mapa da mina” já estava traçado.
A lesão de De Bruyne e a entrada de Foden fizeram muita gente pensar que Guardiola mexeria na disposição dos seus jogadores. No entanto, o plano de jogo não mudou. E essa sua “teimosia” acabou premiada com a jogada trabalhada por Akanji e Bernardo Silva (este jogando mais por dentro e abrindo o corredor para Stones prender Dimarco na marcação). Notem que Lautaro e Barella não acompanham a jogada e deixam Rodri livre para aparecer na área e aproveitar a cratera aberta pela movimentação dos atacantes do City. Guardiola se mantinha fiel ao plano de jogo (até demais) e terminava a partida com três substituições por fazer. Mas com o prêmio pela fidelidade às suas convicções.
É óbvio que a história dessa final de Liga dos Campeões poderia ter sido diferente se Lukaku e Lautaro Martínez não tivessem desperdiçado duas chances claras na frente de Ederson. Ou se o goleiro brasileiro não estivesse em noite gloriosa em Istambul. Seja como for, a Internazionale foi gigante como sua história mostra e criou muitos problemas para um Manchester City que demorou a controlar os nervos no Estádio Olímpico Atatürk e para entender o que precisava ser feito. Acabou que a tal “teimosia” de Pep Guardiola tão apontada por muitos como o grande motivo pela seca de títulos internacionais foi o grande trunfo de uma equipe que fez história nessa temporada de 2022/23.
A conquista da terceira Liga dos Campeões no comando de um time que já se entrou para o seleto “hall” dos melhores do século atual também levantou um outro debate interessante. Será Pep Guardiola o melhor treinador da história do futebol? Discussão que já se mostra acalorada nas redes sociais, mas que não deixa de ser absurda. Por hora, é mais do que válido desfrutar um pouco mais desse Manchester City, da sua capacidade de quebrar marcas no velho e rude esporte bretão e do trabalho de um treinador que pode ser considerado sinônimo de futebol.