Vasta experiência, adaptação rápida, excelente gestão de grupo e um dos currículos mais vitoriosos do futebol mundial. Nós poderíamos gastar linhas e linhas aqui no TORCEDORES para enumerar os motivos pelos quais o Atlético-MG foi atrás de Luiz Felipe Scolari. Ao contrário de alguns, que chamam Felipão de “ultrapassado” e outros nomes impublicáveis aqui neste espaço, é preciso levar em consideração que a diretoria do Galo buscava um nome de impacto e com a missão urgente de acalmar os ânimos nos bastidores depois da conturbada saída de Eduardo Coudet. E não existe ninguém no futebol brasileiro que conheça tanto o “caminho das pedras” como Luiz Felipe Scolari conhece.
É verdade, no entanto, que a negociação pegou muita gente de surpresa. Principalmente o Athletico Paranaense, clube onde Felipão atuava como coordenador técnico e tocava um projeto iniciado em meados do ano passado. O vice-campeonato da Copa Libertadores da América em 2022 e a conquista da vaga direta na edição deste ano provaram pra muita gente que “Big Phil” ainda sabe muito de futebol e que ainda tem o conhecido “brilho nos olhos” dos seus tempos mais vitoriosos. Só que a questão aqui é um mais profunda. Principalmente no que se refere aos bastidores do Galo.
Quem acompanha o noticiário sabe que o Atlético-MG vive dias mais incertos por conta de uma série de problemas de ordem financeira. Além disso, Eduardo Coudet provocou incêndios e mais incêndios com suas reclamações públicas por reforços e falta de estrutura. Além disso, a até agora inexplicável escalação do time na eliminação da Copa do Brasil diante do Corinthians fez com que o clima entre elenco e torcida azedasse de vez. Felipão chega ao Galo com essa missão clara. Recolocar o time no rumo das vitórias e melhorar o ambiente interno e externo.
Falando de campo e bola, poucos treinadores conseguem se adaptar tão rapidamente a novos elencos e novos contextos como Luiz Felipe Scolari. E o seu Athletico Paranaense vice-campeão da Libertadores é um bom exemplo. A equipe jogava num 4-2-3-1 com poucas variações para um 4-1-4-1 e chegou a atuar com uma linha de cinco defensores na frente da área. Seja como for, alguns conceitos básicos de Felipão estavam lá. O time jogava com um bloco mais baixo de marcação e com um dos pontas recuando até a última linha dependendo do setor onde está a bola. A ideia aqui é ter espaço para acionar os pontas em velocidade assim que a posse da bola é retomada pela sua equipe. Tudo muito simples.
Eu e você sabemos que Luiz Felipe Scolari é um treinador que gosta de objetividade. A forte pressão no portador da bola tem como objetivo principal retomar a posse o mais rápido possível para reiniciar as jogadas de ataque. E com o bloco mais baixo, Felipão pode usar os pontas abrindo o corredor para as descidas dos laterais em alta velocidade. Lógico que tudo passa pela construção e pelos volantes que precisam ser muito bons jogando de costas e de muita qualidade no passe em profundidade. Aliás, os laterais merecem mais atenção nesse processo.
Felipão gosta de usar laterais fortes no apoio. Em 2002, Cafu e Roberto Carlos se consagraram na Seleção Brasileira. Em 2013 foi a vez de Daniel Alves e Marcelo. E no Athletico Paranaense, Khellven, Pedrinho e Abner foram bastante utilizados. O ponto aqui é usar pontas que saibam jogar por dentro para abrir o corredor para esses laterais explorarem a linha de fundo adversária ou até mesmo buscarem a finalização. O jogo deles cresce também com as constantes inversões feitas de um lado para o outro. Não é raro ver laterais balançando as redes nos times de Felipão.
O acerto com o Atlético-MG também marca o reencontro de Luiz Felipe Scolari com Hulk. O camisa 7 do Galo foi um dos jogadores de confiança do treinador na campanha vitoriosa da Copa das Confederações de 2013 jogando como ponta pela direita num 4-2-3-1 que contava com Fred, Neymar, Oscar, Paulinho e outros nomes que ainda estão na mente do torcedor. E aquela Seleção Brasileira jogava de forma bem semelhante ao Athletico Paranaense de 2022. Muita marcação, transições em altíssima velocidade e muita intensidade em cada lance. Resta saber como Felipão vai usar Hulk dentro do seu esquema tático já que o principal jogador do Galo não tem a mesma explosão de dez anos atrás.
É lógico que a contratação de Luiz Felipe Scolari tem relação direta com a necessidade de se acalmar os ânimos nos bastidores do Atlético-MG. Não somente pelos últimos acontecimentos envolvendo Eduardo Coudet, mas (principalmente) pela alta rotatividade de treinadores no comando da equipe mineira. As costas mais largas para blindar o elenco, a vastíssima experiência internacional e o amplo conhecimento das quatro linhas coloca Felipão como um dos mais indicados para tentar “salvar o ano” do Galo. Ainda que eu e você saibamos bem que os problemas do clube não se resumem ao que vemos dentro de campo. Até porque a saída de Eduardo “Cacho” Coudet não respondeu todas as perguntas.
Para este que escreve, a tendência é que o Atlético-MG suba de produção pelo “fato novo” no comando técnico e pela facilidade com que Felipão faz o elenco comprar suas ideias. A missão de retomar a rota das vitórias e entrar de vez na briga pelos títulos do Brasileirão e da Libertadores é a mais urgente nesse momento apesar dos problemas extracampo. Podemos questionar Luiz Felipe Scolari sobre ter mudado de ideia depois de afirmar que nunca mais treinaria nenhum time do Brasil. Mas nunca podemos questionar é seu conhecimento. Felipão sabe e muito.