O futebol é um esporte repleto de detalhes e movido ao mais puro caos. Não é por acaso que os melhores treinadores buscam reduzir os erros e controlar os nervos dentro desse caos imenso e incontrolável. Entender esse processo pode fazer com que equipes consigam vitórias importantes dentro de cenários completamente desfavoráveis. Exatamente como o Fluminense de Fernando Diniz fez com o Bahia neste sábado (24). O que se viu no Maracanã foi um time que saiu de uma derrota parcial com um jogador a menos, ressurgiu das cinzas depois do intervalo e que conseguiu uma virada inimaginável jogando um futebol ofensivo e muito intenso. Vitória que devolve a confiança depois de um período irregular.
É verdade que um dos problemas do Tricolor das Laranjeiras nessa parte da temporada tem sido o elenco curto e sem muitas peças de reposição. Isso explica porque Fernando Diniz e sua comissão técnica optaram por manter Paulo Henrique Ganso e Germán Cano no banco de reservas. No mais, o time que entrou em campo teve Martinelli, Gabriel Pirani e Lima se aproximando do trio ofensivo formado por Jhon Arias, Lelê e Keno. Além deles, o veterano Marcelo voltava aos gramados depois de quarenta dias entregue ao departamento médico do Fluminense.
E o que se viu em campo nos primeiros minutos de jogo no Maracanã foi o time ofensivo e envolvente que nos acostumamos a ver. Trocas de posição, jogadores buscando o espaço entrelinhas a todo momento e (é claro) muita intensidade nas trocas de passe. Se o volante Lima avançava como atacante pela esquerda (próximo de Keno) e Jhon Arias aparecia por dentro, Lelê e Samuel Xavier tinham espaço para abrir o campo pelo outro lado. O Fluminense aglomerava jogadores de um lado para buscar os jogadores livres nas costas da defesa adversária. Esse era o plano.
Aos poucos, o Fluminense foi empurrando o Bahia para seu campo e explorando bem os espaços que criava através da movimentação citada anteriormente. O time de Renato Paiva tentou fechar a entrada da área no 4-3-3/4-4-2 com Thaciano e Kayky fechando os lados e Cauly e Vinícius Mingotti mais à frente. No entanto, apesar da superioridade técnica, o Flu desperdiçava diversas oportunidades e deixava espaços na sua defesa. Marcelo é um adendo e tanto na equipe de Fernando Diniz, mas sempre será um ponto fraco na recomposição defensiva. E isso ficou claro na segunda vez em que o Tricolor de Aço encaixou um contra-ataque. A ordem era explorar as costas do camisa 12 do Fluminense.
A situação dos donos da casa ficou ainda mais complicada com a justa expulsão de Nino depois de falta duríssima em Vinícius Mingotti. Do lado do Bahia, Danilo Fernandes deixou o jogo para a entrada de Mateus Claus depois de ter feito pelo menos sete grandes defesas na primeira etapa. Mesmo assim, o cenário era todo favorável ao time de Renato Paiva. E a grande missão da comissão técnica do Flu fazer o time encontrar meios de chegar ao ataque jogando com um a menos e a torcida protestando nas arquibancadas. Era preciso recuperar a confiança antes de tudo.
A solução encontrada foi a mais arriscada, mas a que mais deixa esses jogadores à vontade: manter o plano inicial. Eduardo Barros (auxiliar e substituto de Fernando Diniz na partida) trouxe Martinelli para jogar como uma espécie de líbero na última linha. Se a bola estava na direita, Marcelo recuava e jogava como se fosse um “terceiro zagueiro”. Se a bola estava na esquerda, era Samuel Xavier quem exercia essa função. Mais à frente, Lima e Gabriel Pirani ficavam mais alinhados na proteção da zaga com Jhon Arias e Keno circulando bastante atrás de Lelê.
Foi jogando dessa forma que o Fluminense conseguiu empatar a partida logo aos três minutos da segunda etapa com Lelê aproveitando falha coletiva da defesa do Bahia. O ambiente voltava a ser favorável para o Tricolor das Laranjeiras e o time (mesmo com um a menos) conseguiu empurrar seu adversário para trás. Aos seis mintuos, Gabriel Pirani recebeu de David Braz, tabelou com Keno e tocou na saída de Mateus Claus. O lance mostra bem como o trio ofensivo do Flu (com o avanço de Marcelo pela esquerda) conseguiu prender Cicinho, Kanu, Victor Hugo e Jhoanner Chávez e abrir o espaço para a chegada do camisa 20 dentro da área. O plano funcionava e a equipe conquistava uma virada inesperada.
É claro que a virada fez com que o Fluminense recuasse e passasse a explorar os contra-ataques com as boas descidas de Jhon Arias e Lelê às costas dos zagueiros Kanu e Victor Hugo. Mesmo assim, o Bahia aproveitou bem os espaços às costas de Samuel Xavier e Martinelli para obrigar o goleiro Fábio a fazer duas boas defesas mais para o final da partida. Mesmo assim, o Tricolor das Laranjeiras conseguiu segurar o ímpeto do escrete comandado por Renato Paiva e saiu vitorioso diante da sua torcida. Tudo porque o time entendeu o que o contexto pedia e a comissão técnica de Fernando Diniz se manteve fiel ao plano e ao estilo que melhor explorava as características dos seus jogadores.
O futebol é caótico e todo mundo sabe disso. Não existe receita de bolo, fórmula mágica ou qualquer coisa do gênero que faça com que as vitórias caiam do céu. O que existe é o trabalho bem feito e a confiança entre treinador e elenco. O Fluminense e Fernando Diniz deram uma boa amostra de como esse processo funciona neste sábado (24). Conforme mencionado no primeiro parágrafo desta humilde análise, a virada sobre o Bahia é o tipo de resultado que pode devolver a confiança para um time que sofria com as críticas exageradas de quem traz as expectativas lá no alto.