Derrota justa para Senegal escancara a falta de um planejamento decente na seleção brasileira
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a fraca atuação dos comandados de Ramon Menezes e o futuro do escrete canarinho
Quem estuda a história do futebol brasileiro sabe que as coisas sempre foram feitas na base do improviso e do “jeitinho” aqui por estas bandas. E a forma como a CBF está tratando esse início de ciclo para a próxima Copa do Mundo não chega a surpreender, apesar das seguidas decepções. A derrota (justíssima) para Senegal nesta terça-feira (20), em Lisboa, é só mais um capítulo do processo de busca pelo substituto de Tite no comando do escrete canarinho. Enquanto se espera por Carlo Ancelotti, a equipe comandada por Ramon Menezes foi completamente dominada pelos “Leões de Teranga”. O resultado reflete o momento da camisa mais pesada do futebol mundial.
Este que escreve sabe muito bem que todas as seleções africanas evoluíram demais nos últimos anos. Falando apenas de Senegal, temos nomes como Koulibaly, Sadio Mané, Diallo e vários outros que atuam nas ligas mais fortes do planeta. Não estamos falando de qualquer adversário. Estamos falando do atual campeão africano e isso precisa ser levado em consideração. O que causou espanto foi a forma como o time se comportou em campo. Faltou seriedade? Faltou disposição? Ou faltou uma linha de trabalho mais clara? Por que a impressão que ficou do jogo desta terça-feira (20) foi a de que a Seleção Brasileira está no limbo. Não sabe para onde vai e nem como vai sair dessa situação.
Falando sobre o jogo em si, Ramon Menezes manteve Ederson no gol e escolheu Bruno Guimarães e Malcom para substituir os lesionados Casemiro e Rodrygo respectivamente. O Brasil até que começou a partida explorando bem os lados do campo na variação do 4-3-3 para o 2-3-5 bem conhecida do treinador interino da equipe. Joelinton se aproximava mais pelo lado direito e Lucas Paquetá se infiltrava como “10” ao lado de Richarlison em alguns momentos da partida. O primeiro gol da Seleção Brasileira nasceu justamente dessas inversões buscando o jogador livre nas costas da última linha. No entanto, não demorou muito tempo para que os problemas da equipe aparecessem.
É preciso deixar claro que o problema do jogo desta terça-feira (20) não está na filosofia adotada por Ramon Menezes ou no posicionamento dos jogadores. Este colunista já abordou o problema na vitória sobre a Guiné. Mas notem que Senegal aproximar mais seus jogadores uns dos outros e dobrar a marcação para que as fragilidades da Seleção Brasileira fossem expostas. Ayrton Lucas sofreu com as descidas de Sabaly e Ismaila Sarr pelo seu lado e Sadio Mané encontrava espaços generosos sempre que saía da esquerda para dentro buscando Diallo, autor do gol de empate. Com isso, a Seleção Brasileira passou a ser amassada no seu próprio campo e perdeu a intensidade na saída de bola.
O choque de realidade veio no segundo tempo com a virada de Senegal em lance que começou com a bela antecipação de Koulibaly em passe de Bruno Guimarães para Vinícius Júnior na saída de bola. A recomposição defensiva praticamente não existiu e Sadio Mané, Diallo e Ismaila Sarr puderam trabalhar a bola com tranquilidade até o gol contra de Marquinhos. Pouco tempo depois, o camisa 10 dos “Leões de Teranga” ainda acertu belo chute no ângulo esquerdo de Ederson para fazer o terceiro gol. E tudo isso começou com uma pressão mais forte e mais organizada na saída de bola da Seleção Brasileira e um pouco mais de intensidade nas trocas de passe na frente da área. Deu no que deu.
Ramon Menezes tentou dar sangue novo ao time com as entradas de Pedro, Rony, Raphael Veiga, Alex Telles e André, mas a Seleção Brasileira não conseguia colocar velocidade suficiente para vencer a boa marcação de Senegal. Numa das únicas chances depois do gol de Marquinhos, o goleiro Diaw defendeu boa finalização de Pedro (isso já nos acréscimos da partida). A Seleção Brasileira seguia jogando extremamente espaçada e sem ninguém que pudesse organizar o jogo no meio-campo. Com Vinícius Júnior mais discreto e longe da área, o Brasil perdeu uma das poucas armas ofensivas que teve nessa Data FIFA. E tudo isso é reflexo do que acontece nos bastidores da CBF. Não há planejamento.
É óbvio que não se deve tirar conclusões por conta de uma Data FIFA que somou muito pouco em todo esse processo. A grande questão, no entanto, é que a Seleção Brasileira enfrentou um adversário com um trabalho consolidado. Aliou Cissé já desenvolve um trabalho de anos à frente de Senegal. Há uma ideia, uma linha de trabalho sendo colocada em prática nos “Leões de Teranga”. Esse é o ponto. A ausência dessa filosofia de jogo e a incerteza sobre o futuro são os grandes adversários nesse início de ciclo para a Copa do Mundo de 2026. E conforme mencionado por este que escreve no início desta análise, tudo tem cara de improviso. Se der certo, ótimo. Se não der…
A grande verdade, meus amigos, é que a CBF faz um jogo extremamente arriscado ao apostar todas as suas fichas na vinda de Carlo Ancelotti no ano que vem (seja em janeiro ou em junho). A sensação é que parece que está tudo bem desperdiçar um tempo que seria precioso na consolidação de uma linha de trabalho nesses primeiros meses de 2023. Ao que tudo indica, o treinador italiano já sabe que, caso venha mesmo, terá a obrigação de vencer a Copa do Mundo de 2026. Afinal, a gente sabe muito bem que os resultados é que serão julgados. E não os processos.