Não é de hoje que o Botafogo chama a atenção deste que escreve. O time joga de maneira extremamente organizada, é muito forte na defesa, conta com um ataque envolvente e o talento de nomes como Eduardo, Adryelson e (é claro) Tiquinho Soares. A vitória sobre o Palmeiras dentro do Allianz Parque neste domingo (25) comprovou a fase incrível do Glorioso na temporada e também deixou claro que o escrete muito bem comandado por Luís Castro joga o melhor futebol do país hoje em dia. Os números da equipe no Brasileirão e a distância para o segundo colocado (o Grêmio) comprovam essa tese para desgosto daqueles que ainda insistem em diminuir os grandes feitos do Botafogo.
É óbvio que a partida contra o Palmeiras seria tratada como uma “decisão”. Esse ponto ajuda a explicar a postura do Glorioso no jogo deste domingo (25). O técnico Luís Castro mandou a campo o que tinha de melhor à sua disposição e optou por um bloco mais baixo de marcação. Ao invés de fechar os lados do campo, preferiu fechar a entrada da área sabendo que Abel Ferreira escala Dudu (destro) pela esquerda e Artur (canhoto) pela direita e que os pontas palmeirenses fatalmente cortariam para dentro para tentar o cruzamento. Opção arriscada, mas que funcionou bem.
Com Tchê Tchê e Marlon Freitas muito ligados na marcação, Victor Sá ajudando Hugo na marcação pela esquerda e Tiquinho jogando um pouco mais recuado do que o normal, o Botafogo conseguiu conter os avanços do Palmeiras nos primeiros minutos de jogo e ganhou tempo e fôlego para explorar bem a velocidade de Júnior Santos nos espaços às costas de Piquerez. Além dele, Eduardo distribuía bem o jogo no meio-campo e tirava a velocidade quando necessário. Do outro lado, Raphael Veiga e Rony encontravam muita dificuldade para entrar na área defendida pelo goleiro Lucas Perri.
O Botafogo foi subindo suas linhas aos poucos e passou a ficar mais com a bola na metade da primeira etapa. Aos 27 minutos, Tiquinho Soares fez o único gol da partida depois de bola levantada na área por Hugo. Além do belo drible em Zé Rafael, precisamos destacar o posicionamento do camisa nove do Glorioso sem a bola. Enquanto Adryelson, Victor Cuesta, Marlon Freitas e Eduardo se enfiavam entre os zagueiros, Tiquinho simplesmente deu um passo atrás para fugir da confusão na área de Weverton e esperar a chamada “segunda bola”. Depois do cruzamento e da rebatida, o drible curto e a finalização daquele que é o melhor centroavante brasileiro na atualidade. Sem exagero.
É verdade que o Botafogo passou por alguns sustos. No lance do gol de Gustavo Gómez (anulado por impedimento milimétrico), Lucas Perri saiu mal demais do gol, mas acabou salvo pelo VAR. Além disso, o lateral Hugo sofria horrores com as investidas de Mayke e Artur (talvez o melhor do Palmeiras na partida) pelo seu setor e só conseguiu respirar quando Victor Sá recuou um pouco para ajudar na marcação. Com Tiquinho e Eduardo fechando as linhas de passe e vigiando Zé Rafael Richard Ríos de perto, o Glorioso ia conseguindo se impor no Allianz Parque.
A grande sacada de Luís Castro veio logo depois do intervalo. Sabendo que o Palmeiras viria com tudo pra cima do Botafogo, o treinador alvinegro apostou nas entradas de Danilo Barbosa e Matías Segovia nos lugares de Tchê Tchê e Júnior Santos. O time ganhou muito mais velocidade e qualidade no passe e, de quebra, praticamente acabou com as subidas constantes de Piquerez ao ataque. Num dos melhores lances do segundo tempo, “Segovinha” e Eduardo puxaram contra-ataque pela direita e viram Victor Sá desperdiçar chance incrível cara a cara com Weverton.
Abel Ferreira tentou responder com as entradas de Flaco López no lugar de Richard Ríos e a adoção de uma espécie de 4-3-3 mais ofensivo com os pontas mais espetados e Rony dando profundidade. Enquanto isso, o Botafogo ia se defendendo num 4-4-2 bem organizado e que fechava bem as linhas de passe. Bruno Tabata, Endrick, Jhon Jhon e Luís Guilherme também foram para o jogo, mas a impressão que ficou foi a de que a confiança do Palmeiras se esvaiu depois da penalidade perdida por Raphael Veiga. O time tentou explorar as costas de Hugo (um dos poucos que destoou no Botafogo), mas não conseguiu chegar ao gol de empate por conta de Lucas Perri e dos próprios erros.
Há quem veja no Botafogo um “combo” de sorte e tropeços dos adversários. Este que escreve, por outro lado, enxerga um futebol bem jogado e talvez um dos melhores exemplos de treinadores que adaptam suas ideias de jogo às características do elenco que tem em mãos. A leitura de jogo de Luís Castro foi perfeita neste domingo (25) e as atuações de Tiquinho Soares, Adryelson e companhia deixaram o Glorioso numa ótima na tabela do Campeonato Brasileiro. São oito pontos de vantagem para o segundo colocado e atuações seguras e consistentes. E isso tudo sem perder o volume e a organização ofensiva proposta por Luís Castro. O Fogão está exatamente onde tem que estar pelo que vem jogando.
É por isso que é sim possível dizer que o Botafogo joga o melhor futebol do país atualmente. Se não é o mais vistoso, é com certeza o mais eficiente. Dentro de sua proposta de jogo, o time de Luís Castro sabe exatamente o que fazer com e sem a bola e parece se adaptar bem a cenários desfavoráveis. Exatamente como o deste domingo (25) dentro de um Allianz Parque lotado. A vitória fora de casa e a vantagem na liderança do Brasileirão são apenas os resultados do bom trabalho feito no clube. E pensar que pediam a cabeça de Luís Castro dia desses aí…