Amor pelo futebol no meio do mundo: torcedor viaja de São Paulo só para prestigiar Campeonato Amapaense
Bruno Filandra esteve em Macapá na semana passada para acompanhar o único estadual em atividade na temporada
“Nunca fui pro fim do mundo. Mas hoje estive no meio dele”. Bruno Filandra Lopes utilizou esta legenda em suas redes sociais para sintetizar uma de suas mais arrojadas experiências futebolísticas, postando imagens do Marco Zero, onde passa a linha do Equador. Torcedor do Corinthians, o corretor de imóveis e radialista paulistano de 36 anos colocou um pé em cada hemisfério para o registro do ponto turístico em Macapá.
Mas Bruno Filandra teve algum compromisso profissional para viajar de São Paulo, onde reside, para a capital do Amapá? Nenhum. Assim, o torcedor, cujo hobby é acompanhar jogos alternativos das mais distintas divisões nos estádios cidades afora, se deslocou mais de 2.500km de sua casa apenas para prestigiar o Campeonato Amapaense. “Sempre gostei desses campeonatos de pouca divulgação”, declarou Filandra.
Afinal, o estadual é o único dos 27 do país que ainda está em atividade em 2023. Dessa forma, Filandra se programou com antecedência para ir até o Estado da Região Norte e assistir às partidas no Estádio Estadual Milton de Souza Corrêa, o Zerão. Famoso por sua linha do meio-campo ser posicionada exatamente onde está a linha imaginária.
Torcedor viu partidas do Sub-15 amapaense e um jogo de 10 gols
Então, Bruno Filandra acompanhou cinco jogos. Em 13 de junho, presenciou a vitória por 1 a 0 do Macapá sobre o Oratório. No dia seguinte, esteve em duas partidas do estadual Sub-15: Independente 0x1 Santos e Oratório 2×0 Ypiranga. Já no dia 15, voltou a ver o campeonato profissional, através do triunfo do Ypiranga sobre o Santos por 2 a 1.
O melhor estava reservado para o último compromisso do torcedor paulistano no Zerão. Em 16 de junho, assistiu a um jogo de 10 gols na goleada do São Paulo contra o Santana por 8 a 2. Isso que Filandra foi advertido por um espectador, antes da bola rolar: “Não veio num bom dia. Os dois já estão eliminados”.
No Amapá em que o Independente lidera o estadual com 18 pontos e 100% de aproveitamento, Filandra notou uma maioria de camisas do Flamengo pelas ruas de Macapá. Em segundo lugar, para a sua surpresa, detectou um empate entre simpatizantes de Remo e Paysandu. “Tem muitos paraenses por lá”, relatou.
Zerão foi o estádio de número 67 visitado
Assim, o Zerão foi o 67º estádio diferente em que acompanhou partidas de futebol. Nesta contagem, só são considerados locais em que presenciou pelo menos um jogo. Desse modo, Bruno Filandra costuma, geralmente no fim-de-semana, prestigiar confrontos válidos pelas divisões anteriores do Campeonato Paulista, além, é claro, de comparecer na Neo Química Arena para ver o Corinthians. Além disso, já viajou para outros estados e até para fora do país.
Aliás, foi em Assunção onde passou por uma grande encrenca, ao parar no meio da torcida do Cerro Porteño numa noite chuvosa com a camisa do Corinthians, para um compromisso do Timão pela Libertadores. Ainda por cima, depois da desgastante viagem de ônibus até a capital paraguaia, descobriu que o local onde se hospedaria era inexistente.
Mas os sacrifícios valem a pena, quando o amor pelo futebol prolifera. De braços abertos no gramado do Zerão, em frente à pista olímpica e vestindo a camisa da escola de samba paulistana Acadêmicos do Tatuapé, pela qual desfila anualmente, o torcedor abriu um sorriso de celebração por mais uma missão cumprida pelos campos afora. Que venha a próxima viagem.
Torcedores – Quando que você começou essa peregrinação pelos estádios Brasil afora? Quem lhe incentivou?
Bruno Filandra – Comecei em 2015, quando fui assistir a Copinha na Javari. Eu sempre gostei desses campeonatos de pouca divulgação, mas depois que vi o Tarumã do Amazonas jogar em São Paulo, achei que era uma ideia legal acompanhar esses jogos de perto. Também acompanhava o blog Jogos Perdidos e após esse início de peregrinação, fiquei amigo do Fernando (Martinez), que hoje comanda o blog sozinho.
Torcedores – Mais ou menos quantos jogos por semana você acompanha, em média?
Bruno Filandra – Ultimamente tenho ido mais aos finais de semana. Tem sábados e domingos que dá pra fazer rodada dupla, tripla no mesmo dia. Já houve sábado que assisti cinco jogos. Meio de semana costumo mais ver o Corinthians, ou quando algum clube de fora do Brasil vem jogar por aqui.
Torcedores – Quantos estados você já visitou? Tem mais ou menos a noção de em quantos estádios esteve?
Bruno Filandra – Eu costumo anotar todos os estádios que visito. E só entra na lista estádios no qual assisti pelo menos um jogo. O Zerão foi o 67º estádio.
Torcedores – Como surgiu a ideia de ir para o Amapá acompanhar os jogos de lá? Qual a razão da escolha do local?
Bruno Filandra – O Campeonato Amapaense é o único estadual de primeira divisão que está em andamento. Pelo seu calendário, deu pra planejar a viagem a longo prazo. Além de ser um local de pouca divulgação, queria viajar pra um lugar da região Norte pra ver futebol. Agora só me falta a região Nordeste.
Torcedores – Tirando o Campeonato Amapaense, na sua opinião, quais as competições mais diferentes e inusitadas que você já assistiu?
Bruno Filandra – Em 2017 passei um feriado prolongado em Curitiba. O Corinthians jogaria no domingo no Couto Pereira. Dois dias antes, estive no CT do Coritiba e assisti Coritiba x Andraus, pelo Campeonato Paranaense Sub-19. Em 2018, fui ao Uruguai assistir a Copa do Mundo Feminina Sub-17. E nos dias que não tiveram jogos do Mundial, pude assistir à terceira divisão uruguaia.
Torcedores – Se lembrar de algum relato especial de qualquer jogo assistido, alguma dificuldade pela qual passou ou história engraçada, toca ficha.
Bruno Filandra – Depois de debutar na peregrinação em 2015, no ano seguinte quis fazer minha primeira viagem internacional. Aí surgiu a ideia de ver o Corinthians jogar a Libertadores contra o Cerro Porteño, no Paraguai. Só uma pessoa topou de ir comigo. Uma pessoa que eu menos esperava: minha mãe! Fomos de ônibus e encaramos 25 horas de viagem na ida, e 27 horas na volta. O hostel que eu tinha visto na internet não existia. No dia do jogo, fomos atrás de ingressos debaixo de chuva. E quando fomos ao estádio, o taxista deixou a gente no meio da torcida do Cerro. Tivemos que ser escoltados. Como se não bastasse tudo isso, o Corinthians perdeu por 3×2.