Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação do atacante norueguês na vitória sobre o Leicester neste sábado (15)
Muito se tem falado de Haaland e sobre o “casamento perfeito” das suas características com o estilo adotado por Pep Guardiola no Manchester City. Chega até ser incoerente falar numa dificuldade inicial de adaptação por parte do camisa 9 dos Citzens no esquema de jogo utilizado pelo espanhol diante dos números. Na vitória tranquila sobre o Leicester neste sábado (15), Haaland chegou a incríveis 32 gols em 28 jogos disputados na Premier League. Além disso, o desempenho dentro de campo só comprova a tese de que o norueguês era o atacante que Guardiola tanto procurou nos últimos anos. É por isso que ele já se transformou no “problema” que todo treinador queria ter.
Antes de mais nada, tire da cabeça qualquer ideia de que Haaland não é nada além de atacante mais de área ou que participa pouco do jogo. É preciso deixar claro que estamos falando de um dos melhores centroavantes do futebol mundial e um dos mais inteligentes. Não é apenas o atacante que te dá profundidade ou que está lá na frente “apenas” para fazer a jogada de pivô para quem chega de trás. Haaland sabe ocupar espaços como ninguém, sabe prender os zagueiros adversários e não se limita a permanecer entre os zagueiros. Ele te dá tudo isso e muito mais.
Falando sobre o jogo contra o Leicester, Haaland foi a principal referência ofensiva do Manchester City no 3-2-4-1 de Pep Guardiola. Mas o importante aqui não são os desenhos táticos e sim a forma como cada jogador entende e executa a estratégia adotada por cada treinador. No caso da partida deste sábado (15), Haaland teve a companhia de Kevin de Bruyne, Mahrez, Grealish, Bernardo Silva e Walker para trabalhar as jogadas e encontrar os espaços no 3-4-2-1 de Dean Smith nos “Foxes”. Um verdadeiro rolo compressor contra um time acuado e sem saída de seu campo.
Para se entender o impacto que Haaland tem no Manchester City, é preciso olhar os detalhes e entender como o norueguês se comporta sem a bola. O atacante dos “Citzens” é um exíminio “leitor” da movimentação da defesa adversária. A sua percepção do momento certo de atacar o espaço, de prender os zagueiros ou abrir o campo impressionam até mesmo aqueles que estavam acostumados com Ronaldo Fenômeno ou Adriano Imperador (sem maiores comparações). Notem que as grandes chances do Manchester City na vitória sobre o Leicester tiveram sua participação direta ou indireta. Seja prendendo os defensores na área e abrindo espaços ou fazendo a movimentação para receber a bola.
O segundo gol de Haaland é mais um ótimo exemplo do “facão” que o jogador tanto gosta de fazer sempre que parte na direção do gol adversário. Kevin de Bruyne recebe a bola e inicia o contra-ataque. Enquanto Grealish aparece pela direita, o camisa 9 corre para o outro lado buscando as costas do Wout Faes para ajeitar o corpo e finalizar de perna esquerda sem chances para Daniel Iversen. Notem que o norueguês parece ter encontrado o tom certo das suas arrancadas dentro do “jogo de posição” preferido de Pep Guardiola. E ao contrário do que dizem por aí, não estamos vendo um jogador que teve seus “movimentos limitados”. Haaland está é sendo ainda mais potencializado no Manchester City.
Haaland deixou o jogo no início da segunda etapa e viu sua equipe controlar bem o jogo e perder boas chances com Grealish e Bernardo Silva antes do Leicester diminuir com Ineanacho aos 29 mintuos. Os “Foxes” obrigaram Ederson a fazer grande defesa e ainda acertaram a trave antes do final da partida em Manchester. Difícil dizer se o crescimento do time de Dean Smith foi causado pelas substituições promovidas pelo treinador inglês ou pela queda de rendimento natural do City depois de abrir três a zero ainda no primeiro tempo. No entanto, o impacto de Haaland no time comandado por Guardiola é claro e nítido. E ele parece cada vez mais adaptado ao estilo de jogo do espanhol.
Não é exagero nenhum afirmar que o norueguês é o “problema” que todo treinador do mundo gostaria de ter no seu time. E o que mais impressiona é ver colegas de imprensa fazendo julgamentos precipitados (e até mesmo levianos em determinados casos) sem ao menos levar em consideração que todo jogador precisa de tempo para se adaptar ao seu novo clube e às ideias do seu treinador. Foi assim com o norueguês e será assim com qualquer outro jogador. Haaland tem tudo para se transformar num dos grandes atacantes da história. Falo com total tranquilidade.