A lista de convocados da Seleção Brasileira para o amistoso contra o Marrocos (no dia 25 de março) agradou bastante este que escreve por uma série de fatores. O principal deles tem relação direta com uma forte tendência de renovação do escrete canarinho em todos os setores. A presença de alguns jogadores que conquistaram o Sul-Americano Sub-20 da Colômbia sob o comando de Ramon Menezes (treinador interino da equipe) também aponta nessa direção. Há sim como se discutir a presença e/ou a ausência deste ou daquele nome na primeira convocação depois da Copa do Mundo do Catar e isso é do jogo. Faz parte. No entanto, precisamos sempre entender o contexto das escolhas feitas nesse momento.
É preciso levar em consideração que essa pode ser a primeira e (talvez) a última vez em que Ramon Menezes faz uma convocação. E nesse ponto, precisamos levar em consideração que o técnico interino da Seleção Brasileira não está preparando o terreno para a chegada do escolhido pela CBF. A própria entidade divulgou que todos os pretendidos para o cargo estão empregados nesse momento. Sem ter como montar uma equipe pensando em ter algo para passar para seu sucessor, Ramon Menezes optou por dar vivência de seleção para alguns jovens valores presentes na lista.
Diante disso, está claro para este que escreve que o Brasil não deve jogar muito diferente do que eu e você vimos no Campeonato Sul-Americano Sub-20. O time jogava num 4-3-3 inicial que variava para um 4-4-1-1 de muita mobilidade e com vários elementos do “jogo de posição”. Todo o jogo brasileiro estava baseado na trinca de volantes formada por Andrey Santos, Marlon Gomes e Alexsander. Dependendo da necessidade, os dois jogadores do Vasco poderiam jogar mais alinhados com o atleta do Fluminense se comportando como um “camisa 10” junto a Vítor Roque.
A competição na Colômbia nos mostrou que Ramon Menezes tem suas cartas na manga e não tem medo de usá-las quando necessário. Certo é que sua equipe executava muito bem conceitos como a “saída de três” com Andrey Santos ou um dos laterais se alinhando aos zagueiros, amplitude nos momentos de posse (com os pontas ou com um dos laterais) e um ataque de muito mais mobilidade. Acabava que todo o jogo da Seleção Brasileira se baseava no talento dos seus volantes. Principalmente Andrey Santos, melhor jogador do Sul-Americano Sub-20 e vendido a peso de ouro para o Chelsea. Não seria exagero nenhum pensar nele e em outros jovens ganhando minutos ou até iniciando a partida contra o Marrocos.
Por outro lado, a lista não é unânime. Este que escreve entende bem o movimento feito por Ramon Menezes de aproveitar a convocação da equipe principal para dar minutos e vivência de seleção para nomes como Arthur (ótimo lateral do América-MG), Robert Renan (zagueiro canhoto de raro talento) e Vítor Roque (atacante veloz e altamente habilidoso que já desperta o interesse de grandes clubes europeus). No entanto, a ausência de alguns nomes chama a atenção. E talvez a grande polêmica esteja na ausência de Gabriel Martinelli e na presença de Rony (atacante do Palmeiras).
Há como se compreender também uma vontade de dar chances para jogadores que estavam fora do radar por parte de Ramon Menezes. Martinelli é hoje um dos principais jogadores do Arsenal e uma das grandes armas ofensivas do time de Mikel Arteta. Só que ele já provou seu valor sob o comando de Tite várias vezes. E levando-se em consideração do contexto dessa convocação, a presença de Rony acaba por fazer muito mais sentido. Mas é preciso ter em mente que não estamos falando de nenhum “bagre”. Rony tem seu valor e fez por merecer a chance na Seleção Brasileira.
Vale lembrar também que a Seleção Brasileira vai enfrentar o Marrocos com uma espinha dorsal de respeito e experimentada. E a lista divulgada por Ramon Menezes permite que possamos pensar num time titular usando a base que disputou a última Copa do Mundo com a presença de alguns nomes mais jovens e/ou que estavam fora do radar. Por que não pensar num 4-3-3 que tenha Andrey Santos e Raphael Veiga jogando à frente de Casemiro com o jogador do Palmeiras exercendo um papel semelhante ao de Alexsander no Sul-Americano Sub-20? Há como se pensar em Emerson Royal como um lateral de mais força no apoio com Rodrygo abrindo o corredor e Vinícius Júnior se aproximando de Richarlison no ataque.
A preferência por zagueiros canhotos e de bom passe coloca Ibañez e Robert Renan na briga por uma vaga na zaga ao lado de Marquinhos. E ainda temos Alex Telles, Renan Lodi, Weverton, Ederson e outros estreantes como João Gomes e André. Mesmo com a tendência clara de uma renovação, o elenco chamado tem qualidade e condições plenas de iniciar o novo ciclo na Seleção Brasileira com um bom resultado. É possível que nomes Danilo, Thiago Silva, Neymar, Raphinha, Pedro, Fred, Bruno Guimarães e outros ganhem mais chances num futuro próximo. Com ou sem Ramon Menezes no comando do escrete canarinho. O momento pede mais prudência e compreensão do contexto atual do que críticas mais pesadas.
Isso porque ainda não sabemos quem realmente vai assumir o comando da Seleção Brasileira. Pode ser que o novo comandante pense a equipe de uma maneira completamente diferente e pense em outros atletas. Ou que pense em jogadores mais experimentados. Enfim, é por isso que esse início de renovação é tão importante. Na prática, Ramon Menezes é o “interino de ninguém”, como bem pontuou o jornalista Carlos Eduardo Mansur. Mesmo assim, alguém precisa iniciar o trabalho. Mesmo que a Seleção Brasileira inicie o novo ciclo sem tantas perspectivas e certezas.