Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a vitória do time de Ramon Menezes sobre o Equador e a atuação do camisa 9 do Brasil
É verdade que a Seleção Brasileira Sub-20 sofreu um pouco mais do que deveria contra a boa equipe do Equador na última terça-feira (31). Por outro lado, a vitória sobre o atual campeão sul-americano da categoria e a boa estreia no hexagonal final da competição disputada na Colômbia teve a marca registrada de Vitor Roque. O atacante do Athletico Paranaense (que já começa a receber o assédio de clubes como o Barcelona e o Paris Saint-Germain) é a grande arma ofensiva do time comandado por Ramon Menezes e confirmou a ótima fase com dois gols e muita movimentação nos 45 minutos em que esteve em campo. Não foi por acaso que o Brasil perdeu força ofensiva no segundo tempo.
A partida desta terça-feira (31) já trazia dificuldades suficientes por conta da altitude da cidade de Bogotá (2.640 metros) e pelo início de uma outra fase ainda mais decisiva do Campeonato Sul-Americano Sub-20. Além disso, o Equador já tinha mostrado suas qualidades na fase de grupos com boas atuações contra Uruguai e Bolívia. É por conta disso que o técnico Ramon Menezes não fez alterações na equipe que entrou em campo. Mas era possível perceber facilmente que Vitor Roque tinha importância fundamental na dinâmica da Seleção Brasileira Sub-20.
Com Marlon Gomes e Andrey Santos protegendo a zaga e saltando para a pressão num “timing” que ainda impressiona este que escreve, o Brasil se organizou numa espécie de 4-4-1-1 sem a bola. Alexsander ficava mais à frente da linha de quatro meio-campistas e Guilherme Biro e Geovani faziam as “dobras” com os laterais Arthur e Patryck. Com essa formação, Vitor Roque podia se posicionar mais avançado sempre buscando o espaço às costas do defensor adversário, mas sem deixar de exercer a pressão no portador da bola ou de fechar uma linha de passe no meio-campo.

Não estamos falando apenas de um jogador extremamente habilidoso, mas de alguém que tem uma leitura excelente dos espaços (sejam eles às costas da zaga ou entre as linhas do adversário) e muito intenso em todas as movimentações. Vitor Roque compete muito e sabe encontrar os caminhos mais rápidos para se furar defesas. Seus dois gols marcados na vitória sobre o Equador (aos 13 e aos 27 minutos da primeira etapa) resumem bem a importância do atacante do Athletico Paranaense no esquema tático do técnico Ramon Menezes. Se o camisa 9 mostrou um espírito de luta muito grande no primeiro gol, ele foi inteligente ao perceber a falha da zaga no segundo gol brasileiro no El Campín.
Por mais que estejamos falando de uma competição de base, é muito interessante notar como Vitor Roque consegue elevar o nível do jogo apresentado pela Seleção Brasileira Sub-20. Se a equipe de Ramon Menezes se fecha num 4-4-1-1 sem a bola, conseguimos perceber facilmente um 4-3-3 quando o Brasil retoma a posse. É nesse momento que o camisa 9 canarinho nos mostra um pouco mais da sua inteligência sem a bola. Se um dos volantes avança mais por dentro, Vitor Roque prende a dupla de zaga adversária e abre espaços para as entradas em diagonal de Guilherme Biro e Geovani na direção do gol. Ou ataca as costas da última linha. Dependendo da situação, a tomada de decisão é quase sempre correta.

Mas é bom lembrar que a Seleção Brasileira Sub-20 não depende de Vitor Roque. Mesmo sem o camisa 9 no segundo tempo, o time conseguiu conter a pressão do Equador na altitude de Bogotá e controlar mais os espaços. Além disso, Andrey Santos mostrou o oportunismo de um centroavante ao marcar o terceiro gol do Brasil aos 35 minutos da segunda etapa (cinco minutos depois do escrete equatoriano diminuir o placar com González). Vale aqui destacar também as boas atuações de Robert Renan e do goleiro Mycael. Mesmo num cenário desfavorável, a equipe conseguiu se manter focada no plano de Ramon Menezes e mostrou maturidade para conquistar um resultado importantíssimo na competição.
Jogadores como Andrey Santos, Robert Renan, Arthur, Marlon Gomes, Alexsander e (principalmente) Vitor Roque são as provas vivas de que o Brasil é um celeiro de grandes jogadores. Falta apenas a boa condução da base na Seleção Brasileira e nos clubes para que todos esses talentos possam brilhar nos gramados. Fora isso, falta bem pouco para confirmar a vaga na Copa do Mundo Sub-20 e recolocar o país onde ele merece. E pelo que se vê em campo, o título não é um sonho tão distante assim.